Domingo, 14 de abril de 2013 - 18h08
O que me convence que mudamos radicalmente de comportamento são eventos bem singulares, prosaicos e que a maioria das pessoas não depositaria nenhuma fé. Vejamos o seguinte caso: cresci como a maioria dos meninos de minha época, nós brincávamos na rua, soltávamos pipa e jogávamos futebol e uma tal de “betcha” – tínhamos que derrubar uma latinha rebatendo uma bola de borracha com um pedaço de madeira, eu rebatia com as muletas. Meus pais adoravam porque elas entortavam e tinham de comprar outras. Mas criança não quer saber de seus limites. Em todo caso, o que mais me chama a atenção para os novos tempos é que, naquela época, os gatos viviam na rua, os gatos caseiros vinham para comer e tirar um cochilo, mas como a turma do Manda-Chuva logo se mandavam. Dizia-se na época que os gatos, ao contrário dos cães, gostavam das casas e não das pessoas. O que não se sabia é que os gatos são territoriais, como todos os felinos, e defendem seus territórios; porém, tanto os gatos quanto os cães adotam um dos donos como seu benfeitor. Os indivíduos de má índole, como temos de sobra hoje em dia, admitiam fazer churrasquinho de gatos ou “couro de tamborim”. De lá para cá, mudou tudo, os gatos não saem mais às ruas, são criados como se fossem bibelôs, tem roupa para o inferno, enfeites no pescoço (se machos ou fêmeas) e ração especial. Os gatos cortam as unhas! Nunca imaginei que veria algo assim, cortar as unhas de um gato, um felino, para não arranhar o sofá.
As pessoas, obviamente, mudaram tanto quanto os gatos. As crianças não brincam mais na rua. A não ser aquelas para as quais, os pais não existem – mas eles também não leriam esta crônica. Os maus tratos aos animais agora são punidos. E os bichanos são donos da família toda, como esses da foto, todos adotados pelo meu cunhado. Adotou a mãe e seus quatro filhos – eram sem-teto. As coisas mudaram tanto que, antes, as pessoas sem-teto eram adotadas, hoje são desalojadas pela polícia. Antes, gatos tinham filhotes, mas hoje, adotados, são filhos. As pessoas preferem gatos porque são limpos, higiênicos, enterram sua sujeira, tomam banho sozinhos e tem uma firme personalidade, além de não agredir seus donos: mesmo com arranhões, ninguém foi morto por mordida de gato. Já um Pit Bull...aliás, pelo animal, vemos a personalidade de seu dono. Em todo caso, como dizia minha avó, quem não gosta de animais é porque gosta menos ainda de gente. Mudamos nossos comportamentos, sentimentos e percepções do mundo e dos outros. É bom ver que as pessoas se sensibilizam pela sorte de animais indefesos, porque com certeza essas são pessoas que se interessam por outras pessoas. Parabéns ao Serginho pela adoção da família, enquanto alguns adotam gatos, outros aprimoram suas gatunices. Não existem gatos gatunos, gatuno é homem inumano.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor pela UNESP/SP
Doutor pela Universidade de São Paulo
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de