Sexta-feira, 4 de maio de 2012 - 11h20
Caro (e) leitor, hoje iniciamos a coluna Citizen, que espero dure muito tempo e assim colabore com as reflexões de alguns dos temas importantes para a vida de todos.
Escrevo para jornais e sites há alguns anos e, confesso, não há nada mais gratificante do que receber uma mensagem do (e)leitor atento e preocupado com as mesmas questões.
Já escrevi para site e jornal de Rondônia logo que me mudei para cá, há três anos, vindo de São Paulo. Ainda hoje encontro pessoas que leram esse material e se lembram das mensagens, em seus detalhes. É o caso do Professor João Paulo, formado na mesma área de Ciências Sociais e dono de uma memória prodigiosa.
Aliás, deveria agradecer o empenho de outros, como o Vinícius Miguel, amigo e colega de trabalho na UFRO – se me permitem, troquei a sigla para a Universidade Federal de Rondônia. E a Léo Ladeia, nobre editor do site, pela acolhida prestada.
Em todo caso, creio que deveríamos tratar de um assunto mais quente, como se diz no Jornalismo. Para hoje escolhi um tema da pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) e que remete direto ao que nós somos como brasileiros. Trata-se do regime de cotas ou ações afirmativas no ensino público superior.
Este é um dos temas, ao lado dos direitos humanos, que realmente trato como uma espécie de dogma. Acredito tanto na sua necessidade que evito os debates, porque facilmente lançaria mão de recursos não-científicos (ou irracionais).
Parece-me tão óbvio que devemos quitar as dívidas da escravidão, do colonialismo, da exclusão social e cultural, que utilizarei um único argumento. Diz-se que a vaga reservada ao aluno pobre, negro, muitas vezes desempregado, de baixa escolaridade (sic), não poderia suprimir a vaga de outro – este contemplado pela sorte do nascimento em berço ilustrado.
Nasci em família pobre, de trabalhadores em educação, e nunca precisei usar das cotas. Poderia utilizar desse expediente, inclusive porque tenho deficiência física, mas ainda não precisei porque passei nos concursos com os recursos culturais que acumulei.
O que me aconteceu é que, mesmo lutando todo dia, meus pais sempre cuidaram com esmero de nossa formação, minha e de meu irmão. Na infância e na adolescência, muitas vezes não tive dinheiro para comprar os presentes que queria ou os livros que me acenavam das estantes. Mas, nunca deixei de ler e estudar. Por quê? Porque tinha apoio em casa.
Minha sorte é a mesma de alguns que leem esse texto, mas não é a de muitos outros. Durante os muitos anos em que publicizo o que escrevo, já me conscientizei de que os mais necessitados pelas informações transmitidas não as leem.
Infelizmente, o mesmo ocorre neste artigo. Os beneficiários pelas cotas devem estar trabalhando, lutando pela sobrevivência. Meu texto pode ser lido por um pai que, talvez, terá a vaga do filho retirada. Se isto ocorrer, não lhe peço para me desculpar, mesmo porque não cometi desatino algum.
Digo isso porque não criei e nem ajudo a manter essa divisão de classes que nos afunda no abismo social. Ao contrário, o que posso pedir é que some esforços para diminuirmos a injustiça social.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Jurídicas
da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
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