Sexta-feira, 15 de março de 2013 - 10h09
Se a ONU aceitar o recurso do governo brasileiro, elevando nossa escolaridade média, medida no último IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), vamos ultrapassar, vejam só, Colômbia e Suriname. Isso é fabuloso, teremos uma média de escolaridade acima de dois dos países mais pobres e desiguais do mundo. Quando mexemos em estatísticas, é fácil apresentar números, como a não-retenção entre as séries, e mesmo assim perdemos na ONU; mas, quando mexemos com pessoas, aí a realidade não pode ser enganada. Dizer que uma pessoa saiu da miséria porque tem renda superior a setenta reais/mensais é outro exemplo estatístico do chamado autoengano, quando você engana a si mesmo e a mais ninguém. Há pedintes que amealham 70 reais por dia.
Enfim, à frente ou atrás da nossa vizinha colombiana, não importa, nossa educação é uma calamidade social, uma lástima moral porque formamos milhões (não milhares) de jovens enganados, absurdamente ludibriados. Vão à escola na certeza de que irão aprender lições que os ajudarão a sobreviver no mercado de trabalho. 90 por cento dos jovens do ensino médio público saem portadores do analfabetismo funcional. A saúde pública nem se comenta, com médicos que matam para elevar o faturamento de UTIs, além das famosas injeções de café com leite com veia.
Vou comentar outro dado, os níveis de invenção ou inventividade. Isso tem a ver com educação, é óbvio, mas no aspecto específico da pesquisa. Para tomarmos um exemplo, vou citar a universidade pública que é formada pelo tripé do ensino, da pesquisa e da extensão. A ponta de um iceberg ruim, a pesquisa que não existe ou que é mal feita ou ainda que feita, mas a partir de critérios absurdamente equivocados: a exemplo de exigir os mesmos méritos entre humanidades e ciências exatas. Neste item, estamos ainda mais prejudicados, estamos em descenso, o país não apenas não sai do lugar, como desce muitos degraus.
O fato é que sem educação de verdade não teremos professores capacitados; sem educação de verdade, os atuais professores continuaram arrumando três empregos, com mais de sessenta horas semanais dedicadas ao ensino. Esse professor, conheço inúmeros, acaba aprendendo consigo mesmo, de tanto repetir as lições aprendidas. Simplesmente não tem tempo para estudar, para cursar mestrado e doutorado. Ou seja, sem estudar, o próprio professor não consegue sair do círculo vicioso que achata o conhecimento. Sem estudar, é obvio, não há pesquisa e sem pesquisa, é mais lógico ainda, não há produção de conhecimento. A repetição de lições pode ser boa para a memória, mas em nada auxilia na produção de conhecimentos.
E assim, de índice em índice, continuaremos disputando com a Colômbia e com o Suriname. Certamente, não verei qualquer comparação da educação brasileira com França ou até mesmo Espanha, porque não há intenção política para tanto, mas atrás do Suriname é demais. Se você ainda duvida, pense o seguinte, qual é o professor, que vive de ser professor, que não tem vergonha de ser professor? O que os analistas da ONU diriam ao governante que dá socos em um professor? Só resta o Suriname mesmo – e aposto que você não sabe onde fica o Suriname, apesar de tão próximo de nós.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor pela UNESP/SP
Doutor pela Universidade de São Paulo
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