Quarta-feira, 26 de setembro de 2012 - 05h07
O debate aberto sobre a utilização (ou não) das obras de Monteiro Lobato pelo Ministério da Educação é, como diz o povo, complicado. Por um lado, posso dizer que na juventude lia o escritor paulista e nem por isso me tornei racista, fascista; ao contrário, desde cedo, como na primeira lição do dia, sempre fui estimulado a cumprimentar todas as pessoas, a começar dos mais simples, e ter respeito independentemente da patente social e econômica, sendo socialista desde criancinha.
Na mesma linha, ainda se diz que o mundo está chato demais, porque ao racismo recalcitrante, ao preconceito infantil, à discriminação e distorção social responde-se com um discurso “politicamente correto” ainda mais chato. Não se pode fazer uma brincadeira, qualquer ironia ou piada que a ameaça de coerção já se cumpre.
É óbvio que, fora de qualquer contexto, as obras de Monteiro Lobato são preconceituosas, racistas. Leia Urupês para ver o que ele escrevia sobre o povo brasileiro: carregado do verme da preguiça e do cinismo social. Tomemos esta pequena frase de Urupês: “Este funesto parasita da terra é o CABLOCO, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças”.
Neste caso, quando define o Jeca Tatu e o Caboclo, Monteiro Lobato expressa a opinião pessoal ou retrata a visão neocolonial que sempre emasculou a cultura brasileira, com sua forma de dominação cultural tipicamente senhorial, classista, racista? Ou, como terceira interpretação, trata-se da crítica que se fazia à cultura anticapitalista no Brasil da época?
As elites atuais são herdeiras da mentalidade escravista e da vontade de que os pobres cumprissem suas ordens sem pestanejar, sem reclamar de nada. Portanto, quando se diz não às elites, quando se diz que o ritmo de trabalho deve ser mais lento, próprio às condições de vida, isto soa como um desafio à ideologia escravista, em que o escravo não pode se negar a nada, nem se furtar às obrigações. A expressão “ordem dada é ordem cumprida” não está aí à toa, tem uma boa entonação no passado dos negros acorrentados.
Então, estude-se mais seriamente a formação cultural, social, política brasileira e ver-se-á que Monteiro Lobato é um intérprete do Brasil. Não é um escritor comum, é um observador da nossa história, da mentalidade e das práticas sociais e aquilo que escreve, ele descreve, ou seja, não xinga ninguém, não ofende, não incita ao crime social; pelo contrário, apresenta esse quadro como denúncia social.
Pode-se, inclusive, dizer que Monteiro Lobato não produz a crítica social mais contundente, que apenas reverbera o sensitivo, que descreve o fenômeno social como este se apresenta. Não seria tão severo nesta crítica ao autor, pois é certo que se alinha em genialidade, em profundidade a autores como Graciliano Ramos e o seu Vidas Secas ou aquele Jorge Amado de Tereza Batista Cansada de Guerra.
É o racismo das elites que sempre diz que o povo brasileiro é tinhoso, preguiçoso, desobediente e não Monteiro Lobato. Aliás, nunca foi seu porta-voz.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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