Sábado, 7 de julho de 2012 - 22h31
Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Muitos dos problemas enfrentados atualmente se devem à falta de estrutura, envolvimento e legitimidade de nossas organizações sociais e institutos. Se puxarmos pela memória, lembraremos que há uma ou duas décadas ainda tínhamos a sensação de pertencer a alguma categoria social, profissional e nos sentíamos pressionamos a participar – além de que éramos representados e sabíamos da importância dessas representações coletivas.
Hoje, a própria ideia de representação está em xeque; aliás, não sabemos definir o que é representação, quais seriam os principais movimentos sociais e muito menos o nome e a atuação mais significativa de suas lideranças.
Até pouco tempo, por exemplo, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) tinha suas lideranças na mídia e sua atuação forçava mudanças em outras instituições, obrigando o governo e as elites econômicas e políticas a negociar. A atuação do movimento provocou mudanças profundas na ordem social.
Mas, atualmente, não temos a mesma força presente nas relações sociais. Alguns mais céticos, inclusive, dizem que os Movimentos Sociais – de modo geral – estão fora do contexto geral e que sua era é passada. De certo modo, penso que caminhamos para isso, no andar atual das condições.
Porém, não vejo que tudo esteja perdido e aponto uma alternativa criada em meio ao próprio caos social: a Multidão. O fenômeno das multidões é antigo, remonta aos anos 1990 e na virada do século teve impacto político principalmente na Europa e América: a exemplo da França e do México. No Brasil, seus efeitos não são sentidos.
No sentido técnico, pode-se dizer que a multidão é uma somatória de quantidades imponderáveis de coletivos, o que altera a qualidade de sua verificação sociológica. Trata-se de coletivos que se aproximam por meio das redes políticas e de comunicação (instantaneidade) e assim superam as limitações geográficas e culturais.
Forma-se uma espécie de etno-ética, para além das barreiras soberanas de seus Estados de origem. Em nome das sociedades e do poder social, as multidões desafiam o Estado Moderno e o poder político. São movimentos sociais intensos, centrífugos, mas que se iniciam a partir de demandas localizadas.
A Multidão é formada por coletivos que se comunicam com uma infinidade de outros movimentos legítimos. Esses coletivos configuram-se como uma Multidão de interesses, demandas e requisições aproximativas. São movimentos e coletivos desterritorializados porque angariam simpatia e adesão pelos quatro cantos do planeta, mas não são despersonalizados, como se orbitassem um não-lugar.
São desterritorializados porque não são limitados pelos estreitos que se foram em torno das hostes do poder constituído. São deslocados por vontade e força própria, mas não estão perdidos. A multidão não é um aglomerado mundial de indivíduos perplexos, mas causa muita perplexidade. Tem um nível de interatividade jamais verificada, mas se insurgem contra papéis e status pré-configurados.
Abre-se uma opção histórica para a Multidão forjar uma territorialidade mundial, conectando intersubjetividades e estimulando a formação de muitas outras. A Multidão desterritorializada caminha na horizontalidade das relações sociais e de poder. O mais interessante, entretanto, é que do aparente caos social da ausência de representação social surgiu um fenômeno social organizado em rede, sem estruturas hierárquicas e administrativas, com grande autonomia e com intensa agregação e participação social.
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