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Vinício Carrilho

O México é o Brasil, amanhã?


Esta pergunta é feita pelos especialistas quando observam o tráfico internacional de drogas na fronteira dos EUA com o México, quando observam a guerra de cartéis entre Los Zetas e Sinaloa. É certo que não haverá resposta simples e muito menos definitiva. No Brasil, por exemplo, sabe-se que as principais facções estão aliadas na tarefa do crime, interligando Rio de Janeiro e São Paulo. O que evitaria esse tipo de confronto.

Na questão política temos de lembrar que o PRI (Partido Revolucionário Institucional) conheceu o poder desde a Revolução Mexicana dos anos1910-20, de Emílio Zapata, por 71 anos. E que ameaça retornar com força máxima ao Executivo federal nas próximas eleições – num resultado combinado entre desídia do poder público, corrupção institucional e incompetência da oposição.

De todo modo, como explicar a epistemologia política de um partido que é, concomitantemente, revolucionário e institucional? Certamente, é preciso muita ciência para justificar esta ideologia. Se é que alguém ainda acredita que esse tipo de tarefa política tenha um caráter científico.

Movimentando-se contra esse estado de coisas, o movimento de jovens mexicanos conhecido como YoSoy132 denunciou os órgãos eleitorais e formalizou um ultimato a fim de que haja mais seriedade nas eleições de 2012. O movimento denuncia exatamente a manipulação da mídia em prol do candidato do PRI.

No Brasil, o mais próximo que estivemos disso foi com os Caras-Pintadas, movimento jovem fabricado pela Rede Globo e demais elites para encampar a luta pelo impeachment de Collor. Depois, nunca mais vimos nada. A UNE (União Nacional dos Estudantes) já havia conhecido seu auge, no ensejo da ditadura de 1964.

Politicamente, o PT (Partido dos Trabalhadores) também se considera herdeiro do planejamento feito por Fernando Henrique Cardoso/PSDB, de ficar por mais de 20 anos no poder. É quase certo que, nessas eleições municipais, o PT venha a conhecer uma redução em termos de expansão eleitoral. O desgaste dos anos de poder central fará sentir seus efeitos.

Quanto aos movimentos sociais e culturais, devemos nos lembrar do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e que seria, mal comparando, uma oposição como a realizada pelos “zapatistas”.

No México, os zapatistas reúnem os sem-terras deles, mas têm uma liderança ideológica e espiritual (como sentido para a vida) indígena. O movimento tem sua base no sul do país, mas conheceu um enfraquecimento político ao longo das últimas décadas.

Nos anos 1990, os zapatistas ganharam a atenção da opinião pública internacional por mobilizar a sociedade contra o Estado (PRI), as injustiças sociais e por mais participação das populações indígenas na gestão política. Atuavam como defensores do pluralismo jurídico-cultural e deram a conhecer ao mundo o uso extensivo da Internet – imensa novidade naquela época – para sua comunicação política.

No Brasil, sabe-se que o MST foi uma expressão do trabalhador rural em cenário nacional, com intensas articulações com o PT e outras agências sindicais e de representação. Nos últimos tempos, com a subida do PT ao poder maior, limitou-se a uma série de conclamações ideológicas, incapaz de tomar rumo próprio.

Os zapatistas, ao contrário, sempre enfrentaram o PRI e tudo o que o partido representava. O mais irônico é que o PRI surgiu no cenário nacional após a Revolução Mexicana e deveria se apresentar como representante das forças populares. Porém, ao contrário disso, adotou o poder e sucumbiu diante das reformas políticas que apenas beneficiavam o grande capital e seus apaniguados.

O acordo econômico do NAFTA (Tratado Norte Americano de Livre-Comércio), entre Canadá, EUA e México, hoje com 15 anos, arrasou a região norte mexicana, exatamente onde prosperavam as indústrias e agora viceja a guerra civil do tráfico. Será coincidência?

Outras semelhanças o leitor poderá procurar por si mesmo.

Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas

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