Terça-feira, 18 de setembro de 2012 - 10h39
Depois de uma tarde bastante proveitosa com alguns alunos, mas com conversa de gente grande, fui pagar o café que havia tomado. O proprietário muito gentil puxou conversa conosco, certamente curioso para saber o que eu fazia em meio aos jovens animados. Expliquei que a greve na universidade pública federal ainda estava em curso e que ali era um bom local para ter aquela conversa. Ficamos no papo sobre a realidade da educação que, no Brasil, leva-nos às greves constantes e que no mundo civilizado isso é inimaginável.
A prosa emendou, não podia ser diferente, para o julgamento do Mensalão. Lembrou-se que há condenados – salvo mudanças nos votos declarados pelos ministros do STF – e que a sociedade espera por respostas, etc. Enfim, somando as coisas: não há dinheiro para saúde, educação e demais políticas públicas porque a corrupção é pior do que a saúva no Brasil.
Foi quando se citou a Operação Mãos Limpas: uma ampla investigação criminal perpetrada na Itália dos anos 1990. Enfim, à frente da operação italiana, o célebre juiz Falcone recomendava um velho provérbio siciliano pouco antes de ele próprio ser explodido pela máfia: Calati, juncu, ca passa la china (abaixa-te, junco, que a cheia vai passar). Equivale à recomendação de que o prato quente se come pelas bordas ou expressa ditados comuns do tipo espere que será atendido, antes tarde do que nunca e antes pingar do que faltar.
Por isso, o Brasil precisaria passar por uma limpeza total, de pés e mãos bem limpas; talvez aqui fossem necessárias muitas mãos para limpar o rosto da vergonha – quem sabe. Na conclusão da conversa, o senhor do café disse que depois dessa fase nunca mais se ouviu falar de corrupção na Itália, ao menos no volume anterior.
Bem, este é o exemplo clássico de um dos mitos do cotidiano que resistem por muito tempo na consciência pública, que se retroalimentam e soam como modelos a serem seguidos. Na verdade, criou-se uma expectativa enorme na Itália junto à população de que os mafiosos, os corruptos, os criminosos públicos e privados seriam presos e nada disso aconteceu. O que se alastrou, além da própria corrupção combatida (vide Berlusconi), foi a frustração, o sentimento de fracasso, os assassinatos dos “homens de bem” e a impotência generalizada em todo o povo italiano – especialmente no sul.
Em outro dado concreto, antes ocupado pela “Cosa Nostra” (combatida pelo mesmo juiz Falcone assassinado), agora o Estado italiano se vê invadido pela máfia “Ndrangheta”, da região da Calábria. Nos anos 80 e 90, os mafiosos, associados a oito ex-funcionários da agência estatal de pesquisa energética italiana (Enea), teriam contrabandeado 500 tambores de lixo radioativo para a Somália.
O lixo altamente tóxico teria origem na própria Itália, mas também na Suíça, França, Alemanha e EUA. Um informante (mafioso arrependido) disse que, na época, um diretor da empresa pagou ao clã para que se livrasse do lixo: 100 barris ainda estariam enterrados na região de Basilicata, no sul da Itália: uma cidade protegida pela UNESCO e famosa por suas casas antigas escavadas nas rochas.
É claro que não falei nada disso naquela conversa de fim de café, mas, sempre que se fala do tema da corrupção e das propostas mais radicais e ousadas para sanear a saúde do Estado, lembro-me deste episódio e de como as soluções podem sair pior do que a emenda. Também aprendi, meio às duras penas, que é preciso o distanciamento histórico para ver melhor as coisas.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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