Quarta-feira, 22 de agosto de 2012 - 17h06
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Por que existe o horário eleitoral gratuito? Decorre da obrigatoriedade das eleições. Como o voto é uma espécie de direito sagrado, literalmente conquistado com sangue, e como o resultado é coletivo e as consequências do voto individual são públicas, a responsabilidade pelo exercício do direito político é ampla. Por isso, o direito de voto se constitui em obrigação.
Contudo, a chegada do horário eleitoral gratuito (e obrigatório) traz amargura moral e ameaça nossa integridade intelectual, emocional. O leitor também se pergunta, indignado: por que tenho de ver isso? Na verdade, a ideia é ótima, é uma das mais democráticas formulações do ponto de vista sistêmico. A ideia é essa simples que todos já sabem: permitir ao eleitor conhecer os principais candidatos e as propostas ofertadas pelos partidos. A ideia básica é de que o eleitor não votasse naquela pessoa, na figura ali retratada, mas sim no partido representado por um determinado candidato e presente nas propostas e programas debatidos.
Mas por que o horário eleitoral é tão derrubado pelo eleitor? Porque seu modelo privilegia o nefasto, a pantomima, o carnavalesco ou a pura mentira. É claro que ninguém é ingênuo de imaginar um político, em rede nacional, dizer que cometeu muitos erros, que é limitado, mas que apesar do seu despreparo na maioria das áreas importantes da vida social promete se esforçar para governar com bons técnicos.
Assim, ao invés de debater as sugestões de encaminhamento apresentadas aos temas de maior relevo técnico e político, porque se tem medo de provocar ainda mais repulsa no eleitor, todos preferem as caricaturas, o marketing político de quinta categoria. O resultado é essa coleção de ofensas ao nobre eleitor que só consegue rir e debochar dos tipos selecionados.
O leitor puxará pela memória para conseguir se lembrar de alguém conhecido que teria por hábito assistir ao horário eleitoral gratuito. Realmente, teremos dificuldade para lembrarmo-nos de alguém. Na maioria das vezes, simplesmente se desliga a TV e se amaldiçoa a pouca sorte de não assinar a TV a Cabo – os que não o fazem.
Algumas famílias aproveitam para conversar, à espera de outro programa que absorva a atenção de pais e filhos. Mas, será que podemos nos lembrar de algum programa decente, com honesta exposição de candidatos e boas propostas nesses horários?
Não é fácil, talvez seja preciso recorrer a anos (décadas) de exposição na mídia para separar um ou dois quadros que se salvem. Mas, nesse caso, é essa exceção, o caso isolado, que deveria ser a regra. Infelizmente, esta é mais uma das boas ideias que impregnam o inferno astral da política profissional brasileira.
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