Sábado, 6 de abril de 2013 - 09h19
Há muitas razões para o país não decolar. Exemplo disso é o IDH uma posição acima ou abaixo do Suriname. Mas me chama atenção os aeroportos. Pode-se pensar que se trata de um serviço de elite e que o povo só utiliza os ônibus. Acontece que não é bem assim, na verdade era assim. Mas, hoje, mesmo com um “pibinho” que mal chegou a um por cento de crescimento em 2012, há um caos aéreo. Os principais aeroportos estão em reforma; ou deveriam estar em ampliação, para que a “nova” e a velha classe média pudessem usar o transporte aéreo.
Pois bem, peguei o avião em São Paulo para Brasília, à espera de que ali fizesse uma conexão segura, com tempo, orientação adequada e por fim chegasse em Porto Velho – como sempre foi, aliás. Ocorre que, dessa vez, com a tal ampliação do aeroporto em Brasília, mudando-se radicalmente o local da chegada, o que deveria ser apenas conexão se transformou em desembarque. Isso mesmo, ao descer do avião em Brasília, fomos levados forçosamente ao desembarque, ou seja, tive de passar por todos os procedimentos de fiscalização a que fora submetido em São Paulo.
O resultado é que, com muito mais gente embarcando/desembarcando, os aeroportos estão no limite, mesmo com as tais reformas, e para atrapalhar (quando deveriam ajudar) todos os passageiros têm de desembarcar, para depois reembarcar, aumentando ainda mais as filas. Bom, se isto ocorreu comigo, que vinha de São Paulo, imagino que quem viesse de outros centros menores teve uma sorte ainda pior. Porque, pasme, pode-se embarcar com determinados produtos apenas em determinadas regiões - mas, em outras não. Assim, Você embarca com isopor no norte, mas não fará conexão com sua caixa em mãos. O azarão será informado quando já for tarde mais, pois ou deixará a caixa ou não embarcará de novo. Mas como, antes podia e agora, não? Isso mesmo, nossos operadores têm uma inteligência regional.
Enfim, em Brasília, fiquei com a impressão de que não há conexão, apenas desembarque/embarque. O que, repito, aumenta exponencialmente as filas, porque – no caso da mera conexão – apenas trocaríamos de aeronaves, saindo de uma direto para a outra, sem a necessidade de passar pelas filas de raio X. Não sei se em outros países mais racionais, razoáveis, a coisa se dá do mesmo jeito. Duvido um pouco que seja igual, ao menos não foi o que vi nas vezes em que pude sair do país. Sempre fiz conexões e escalas sem repassar o embarque. O que é óbvio, pois se somos checados no primeiro embarque, não há necessidade de provocar novas filas, com mais inspeções. Ou ainda que houvesse mais inspeção, ainda assim não deveria haver desembarque, obrigando-se a sair para o saguão externo do aeroporto. Em todo caso, fiquei com a sensação de que fui vítima da tolice. Ser vítima é sempre ruim, mas ser vítima da tolice provoca a sensação de ser vitimado duplamente.
Para esses casos, sempre faço o seguinte exercício: imagine-se conversando com um alemão, recém-chegado ao Brasil. Este sujeito – vamos dizer que é um engenheiro de voos em seu país – está ao seu lado no avião e, juntos, seguem pelo mesmo destino da conexão que se transforma em desembarque, saindo pelo saguão, com uma porção de pessoas olhando para você, pensando que deveria ser aquela a que eles esperam. Imagine-se nesta aflição, tendo apenas uma hora para realizar os mesmos procedimentos de reembarque, checagem de bagagem, descobrir o portão de embarque: no meu caso, o portão previsto era o 05 e fui redesignado para o 13 – o que implicou em mais algumas centenas de metros. Agora imagine que você terá de explicar ao alemão a lógica disso. Será que ele concordaria? Será que ficaria pasmo com a desinteligência?
Essa é a questão: para mim, é a desinteligência que atravanca o bom senso e, consequentemente, o bom andamento de tudo. A desinteligência leva o sujeito a confiar excessivamente na corrupção e na decorrente impunidade. Sua confiança o deixa despreocupado, descuidado, cometendo inúmeros erros infantis e graves. Outra evidência dessa desinteligência é ouvir a autoridade, o governante ou gestor dizer que está “correndo atrás do prejuízo para resolver esses problemas”. Ora, se correm atrás é porque precisam de um pouco mais de prejuízo – e, além do insano, quem é que precisa de mais um pouco de saudável prejuízo?
Outro caso clássico ocorre quando a polícia nos diz que fulana ou beltrano foram vítimas de uma “bala perdida”. Neste caso, o soldado ou o bandido perderam projéteis ou balas (no popular) e alguém achou. O fato é que o infeliz achou uma bala deflagrada, em pelo curso de ação, indo se alojar diretamente na sua cabeça. Este infeliz achou a bala e, com isso, até parece que concorreu para sua morte; afinal, quem é que mandou procurar esta bala justo na hora em que seria disparada? Se fôssemos mais previdentes não andaríamos por aí à procura de balas perdidas, nem mesmo as adocicadas. Se minha avó pudesse ler a crônica acharia engraçado, porque em seu tempo uma criança achava uma bala perdida e apenas chupava, sem gravidade nenhuma. Mas, no sinal dos tempos, não há mais ingenuidade possível. A única inadequação pueril é realmente a lógica que nos governa: haja achismo. É essa desinteligência que subverte a racionalidade, e que não deveria gerir os sistemas, o que nos acomoda na burrice.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Doutor pela Universidade de São Paulo
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