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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Por que vamos tão mal


O texto refere-se a uma viagem que fiz pelo MEC a Santa Maria-RGS, na condição de avaliador de instituição de ensino superior, em comissão formada com o professor Everaldo da Silva, de Santa Catarina. O texto, entretanto, é de minha inteira responsabilidade. Abaixo reproduzo a mensagem que enviei aos técnicos do Ministério da Educação, acusando os maus tratos recebidos e o desrespeito à dignidade do professor, praticadas pelo ministério que deveria protegê-los. Nessas visitas representamos o MEC, não somos técnicos do ministério, mas agimos como longa manus, pois prestamos serviço de qualidade na educação.

Certamente, sofrerei retaliação, se alguém que seja responsável pela instituição vier a ler o texto, contudo estou agindo em legítima defesa. Depois de ter aceito participar da comissão, ao preencher o formulário da sugestão de voo, inseri a observação de que tenho deficiência física e por isso não posso ficar muito tempo parado nos aeroportos. Parece que tinha dito o contrário, em Porto Alegre teria de esperar por mais de seis horas, para me deslocar até Santa Maria; isso porque, para economizar tostões, empresas como GOL e TAM são descartadas. Na volta, ocorreu a mesma coisa, para a economia desejada, voltei de AVIANCA, uma das piores do Brasil e novamente teria de ficar seis horas em Porto Alegre. Para piorar, ocorre que, viria de Santa Maria em uma empresa chamada de NHT; chegando ao aeroporto às sete horas da manhã, nosso embarque estava previsto para as oito, fomos informados que o voo havia partido às seis. A empresa aérea comunicou o MEC e este deveria ter acompanhado a empresa terceirizada sobre a mudança; até parece que houve uma combinação para o erro, pois a empresa de Brasília não nos avisou de nada. Para finalizar a maratona – cheguei em minha casa no domingo às três da manhã, portanto no quinto dia de designação –, a tal empresa AVIANCA nos obrigou a ficar em Cuiabá por mais de três horas, à espera do preenchimento dos assentos com um voo que vinha de Campo Grande. Isso ocorreu, repito, porque contrataram a pior empresa aérea possível. Se viéssemos de GOL ou TAM isso jamais teria ocorrido. A miséria destinada às diárias – sempre gasto mais do que recebo – agora se soma ao desrespeito à integridade física dos avaliadores. Os aviões da AVIANCA foram proibidos de voar na TAM, que os repassou à empresa de pouco recursos. Não tenho nada contra a empresa aérea, cada um se vira como pode, mas o MEC não pode tratar seus avaliadores desse modo. Nunca neguei nenhuma nomeação, esta última, inclusive, tive uma semana para organizar minha agenda de trabalho e aí sair para atender ao Ministério da Educação. Corremos riscos desnecessários, além de um cansaço brutal, em uma viagem de quase vinte quatro horas, para atender ao interesse público. Todavia, de agora em diante, vou escolher as viagens que farei, checarei empresas e seus horários, e declinarei das nomeações, mesmo que as tenha aceito e depois me sinta ludibriado. Se os avaliadores do MEC são tratados desse modo, é de se entender como anda a educação no país. Ninguém merece isso, o país merece um trabalho técnico mais elucidativo. Provavelmente, as pessoas que definem essas metas de economia e as que as colocam em prática nunca saíram de Brasília e, é claro, jamais se afastaram da tela do computador para ver a realidade gritante do lado de fora de suas janelas refrigeradas. Andem pelo Brasil, como nós fazemos, e depois verifiquem se esse tipo de economia de misérias fará bem à educação do país. De teóricos o Brasil precisa muito, mas daquele tipo que conhece o valor da práxis. Não há valor, virtù, que sobreviva à economia da dignidade da pessoa humana. Se as instituições de ensino superior merecem a visita de avaliadores qualificados (somos, praticamente, todos doutores) é porque o povo brasileiro precisa urgentemente de um ensino superior de qualidade; todavia, sem que o próprio avaliador seja tratado dignamente, de modo profissional, a partir desse tecnicismo que afronta o bom senso, nada disso será possível. Lamento ter escrito esse texto, gostaria muito de poder narrar tudo que bom que aconteceu em minha viagem, mas seria a pura mentira. A educação no Brasil precisa de verdade e de esclarecimentos, não de mentiras ou faz de conta.

Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO

Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ

Pós-Doutor pela UNESP/SP

Doutor pela Universidade de São Paulo

 

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