Quinta-feira, 19 de julho de 2012 - 05h01
O que significa a foto de Maluf e do ex-presidente Lula selando união para a campanha do PT à prefeitura de São Paulo? O leitor deve pensar em inúmeras hipóteses – eu também. Mas, creio que algumas guardam mais realismo político do que outras.
Lula teria se rendido ao malufismo? Indica uma capitulação petista frente à corrupção política? Penso que os vários significados podem ser resumidos a uma ideia: a foto é emblema do Partido dos Trabalhadores.
Não quero fazer da afirmação uma abstração política vazia. Na verdade, quando digo que a imagem vale mais do que mil palavras para explicar o PT, quero dizer que o partido é capaz de todo tipo de alianças e articulações (incluindo o “mensalão”) para manter o poder.
Nem sempre foi assim, não faz tanto tempo e o partido se recusava a compor chapas e insistia em lançar candidatos próprios. E olhe que alguns desses partidos, à época, eram muito mais idôneos do que o malufismo.
O que mudou, então? O que mudou foi a tomada de poder. Lula não é melhor nem pior do que há dez ou vinte atrás. Afora o gosto apurado pelo poder – que sempre teve, desde os tempos de negociador no movimento sindical –, sua política sempre foi de resultados.
Mas, então, foi o PT que mudou muito! Nem tanto, sobretudo se lembrarmos das justificativas dadas para recusar as coligações e alianças de antigamente: o partido precisava solidificar sua marca, seus nomes, seus quadros. Para confirmar, basta rememorar que os dirigentes do PT de hoje são os mesmos candidatos que recusavam outras legendas no passado.
O que mudou, de fato, foi nossa percepção da política e dos que nos governam. Contraditoriamente, a política brasileira está mais amadurecida. O eleitor não se presta mais a ingenuidades ou – salvo raras exceções – a militâncias segas. Quem imaginaria que o PT precisaria pagar por sua militância?!?
De certo modo, o eleitor não referenda mais o poder a qualquer custo – e mesmo que ele próprio venda seu voto. Mesmo que eleja um tipo como Tiririca, o eleitor não age assim inocentemente. Por farra, vendendo votos, movido pela sensação da ironia crônica de por um palhaço no Congresso Nacional, ou por qualquer outra razão, o eleitor sabe perfeitamente o que está fazendo.
O eleitor mais escolarizado sabe que Maluf representa a ditadura de 1964, que será preso se sair do Brasil e que responde às mais graves acusações de traição. Digo traição porque a corrupção é uma forma de traição, dadas as consequências horrendas para a população.
Então, o leitor que sente uma estocada no estômago, ao ver Maluf e Lula trocando afagos, na casa de Maluf, lembra imediatamente que o PT foi atuante na Constituinte de 1986, justamente combatendo o restolho da ditadura de 1964.
A desforra do eleitor virá nas urnas, com mais uma derrota do PT em São Paulo. O eleitor esperava um mínimo de coerência. Por incrível que pareça, serão a incoerência e a volúpia pelo poder de Lula e do PT as responsáveis por esta derrota e pelas seguintes. Não é profecia e nem desejo, é uma simples análise do passado recente e do presente.
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
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