Domingo, 5 de maio de 2013 - 11h34
O país tem inflação generalizada, um estágio de corrupção avassalador, uma PEC para os corruptos – outra para calar o Supremo Tribunal Federal, uma Copa que já está falida dentro e fora dos campos, mas não tem internet. Deixei de enviar exatamente este artigo para o site quando devia, bem como documentos necessários à formalização da monitoria dos meus alunos porque não tinha uma conexão que funcionasse minimamente. Você paga, mas não acessa nada. Paga caro, melhor dizendo A VIVO não está me fazendo favor e nem a você que não pode ler o artigo ontem.
Minha internet remota é da VIVO, a que anda mais morta do que viva. Mas, o problema não é só meu. Outro dia fui tirar uma segunda via de conta telefônica na TIM e também não pude pagar, porque a agência estava sem conexão. Esqueci-me de dizer que o país não tem educação, saúde e agora perdeu a pouca vergonha na cara, com a retaliação das PECs contra os investigadores, sobretudo, no mensalão. Ia dizer que tenho vergonha de ser brasileiro, mas não direi mais isso. As pessoas não entendem e querem que eu me mude de país – a coisa está tão brava na educação formal que nem se entende mais a ironia das coisas. Talvez por sua sutileza não se entenda que a ironia é um método – desde os gregos antigos. Hoje em dia a moeda corrente é o cinismo. Novamente, a coisa está tão feia que se confunde largamente ironia e cinismo. É isso que me dá vergonha de ser... não digo.
Queria mesmo é ser abençoado pela ignorância dos fatos, de não ser intuitivo e assim não ver a barbaridade e a sacanagem que nos assola nas mínimas relações sociais e na máxima temperatura política. Infelizmente, não consigo me furtar de perceber e às vezes antever o absurdo antes de bater à porta. Queria ser mais imune às coisas, talvez não me abalar com a estupidez que tomou conta da vida comum do homem médio. Tenho um aluno que diz que o brasileiro é imbecil. Em geral, não vejo bem assim, conheço sim muitos imbecis (infelizmente), alguns nababescos, outros na soberba, mas o povo está, diria eu, entre a credulidade e a indiferença. Para o azar do povo, entretanto, estamos na fase do “nem mel, nem cumbuca”.
Faz pouco tempo, vou dar exemplo pessoal, fui apresentado a um figurão da cidade - no melhor estilo da soberba que atinge os profissionais liberais. Minha intenção naquela altura, e nem foi por minha vontade, era apenas obter informações acerca de uma determinada entidade de classe. Depois de quase nem abrir a boca, em mais de uma hora de preleção – porque o sujeito queria mesmo era demonstrar sua eloquência ou ouvir a própria voz– saí de lá convidado para três funções diversas. No dia seguinte, a mesma coisa. Uma semana depois, idem. Na última vez, agendou comigo (deixei de cumprir outras pautas) e não apareceu. Dois dias depois, um terceiro me ligou com o convite de participar da mesma entidade, mas em quarta função diferente das demais. Disse que poderia dentro das possibilidades. Qual o resultado da enquete? Mandei um SMS dizendo: “me avise do resultado para me organizar”. A resposta do terceiro: “claro, sem NEURAS”. Isso, em maiúsculo.
O resultado mesmo é que participo desta entidade em função que nem sei qual é. Nunca me foi dito nada. De vez em quando encaminho um pensamento abstrato qualquer, como que quisesse justificar o fato de eu existir. Como deixei agendada uma aparição, depois disso ocorrer, vou me desligar e fazer como a maioria: não responderei os e-mails. Ou, ao cultivar a boa educação, assinarei: “claro amigo, sem NEURAS”.
Entre o cinismo e a ironia, na Terra do Nunca, vamos sem NEURAS.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor pela UNESP/SP
Doutor pela Universidade de São Paulo
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