Quarta-feira, 30 de maio de 2012 - 05h09
Sem reconhecer o Outro, a outra pessoa como equivalente a si mesmo, “o homem é estranho ao homem”. Sem o Outro, o individualismo coloca a matéria, a propriedade como bem supremo. Como a mercadoria passa a ser o paradigma, a vertente hegemônica, o homem se retrai a níveis de valoração inferiores.
Sem o Outro, o homem estranha a si mesmo. Sem o Outro, as outras pessoas que têm direitos e desejos, o homem não se reconhece, não se diferencia. Para ele, tudo não passa de uma mera pedra que pode ser quebrada, atirada, colecionada. É o que se chama de estranhamento.
Sem o Outro, a mercadoria ocupa o lugar do homem e recebe todas as atenções. O humano, colocado como bem inferior, volta a níveis de bestialidade e de violência que julgávamos superadas. Sem que o homem seja um bem jurídico defendido, preservado a todo custo pelo Estado de Direito, nada parece frear a ânsia por ter, possuir e, para tanto, agir sem freios, receios para conseguir a propriedade da matéria.
O homem estranho a outro homem é a explicação mais realista para os crescentes níveis de indiferença ao social e de violência urbana. A chamada violência gratuita que se vê atualmente, com abuso de requintes de crueldade, é possível porque o violador não vê no seu objeto de conquista, outra pessoa.
É possível agir com tamanha barbárie porque o ato de tirar a dignidade, a vida, além das posses, é entendida pelo violador como equivalente a quebrar um copo, descascar uma laranja. Não há medo, receio da lei ou da coerção porque o violador julga que está agindo de forma correta. “Ora, se todos podem ter os bens que querem, sem compromisso, responsabilidade, a qualquer custo (a exemplo da maioria dos políticos e de muitos empresários) por que não eu?” – indaga-se o violador.
Diante do quadro crescente da mercadoria como valor-essência, o violador deixa de ser violador. Na verdade, o que o difere dos muitos corruptores da vida social (de colarinho branco) é que age com graus mais visíveis de violência. Os demais psicopatas - indiferentes a “dor dos outros”, à sociedade, sem sentimento de remorso porque não se põe no lugar do Outro - cometem crimes sofisticados, encobertos pela burocracia, nuances da lei e pelo dinheiro já acumulado.
É óbvio que o impacto social desses criminosos, agindo pelo/sob Estado de Direito, é muito maior. O que os diferencia dos malgrados violadores comuns é que as mortes provocadas são escondidas pelo tempo e pelas estatísticas dos registros públicos. Afinal, como contabilizar quantas pessoas morreram/morrerão em decorrência dos recursos desviados da saúde?
Quantos não tiveram a socialização primária adequada, tornando-se violadores da posse das mercadorias, em razão do desvio de verbas da educação pública? É muito difícil quantificar esses males sociais. Mas não é difícil ver que a ausência do Outro como referência da formação humanista básica nos legou esse assustador momento de extrema sociopatia.
É óbvio que aquele não interessado em ninguém, além de si mesmo, também não terá compromisso com a sociedade. Aliás, para esses violadores ricos e pobres, a sociedade é um conceito inatingível, indecifrável, irreconhecível. É similar a uma materialista explicar o que é a metafísica; a uma religião sem dogmas; ao direito sem responsabilidade; à educação sem o Outro.
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário-UNIVEM/Marília
Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
O que o terrorista faz, primordialmente?Provoca terror - que se manifesta nos sentimentos primordiais, os mais antigos e soterrados da humanidade q
Os direitos fundamentais têm esse título porque são a base de outros direitos e das garantias necessárias (também fundamentais) à sua ocorrência, fr
Ensaio ideológico da burocracia
Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de
O Fascismo despolitiza - o Fascismo não politiza as massas
A Política somente se efetiva na “Festa da Democracia”, na Ágora, na Polis, na praça pública ocupada e lotada pelo povo – especialmente o povo pobre