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Economia - Nacional

Análise: BC compra fluxo, mas Selic derruba o dólar


Agência O Globo SÃO PAULO - O Banco Central divulgou ontem os dados oficiais sobre o movimento cambial ocorrido no primeiro trimestre do ano. Os números trazem duas constatações: 1) a estratégia de compra diária de dólares é ineficaz em impedir apreciações cambiais; 2) a sobrevalorização do real não decorre do saldo positivo verificado nas contas comerciais e financeiras, resulta das especulações financeiras envolvendo dólares não-físicos. O BC adquiriu diretamente do mercado à vista US$ 21,79 bilhões de janeiro a março. No mesmo período, a balança cambial exibiu superávit de US$ 17,394 bilhões. Pela balança cambial, passam todos os dólares físicos que entram e saem do país. Ela engloba exportações, importações, captações externas, investimento direto, aplicações de portfólio, pagamentos diversos ao exterior e remessas de lucros e dividendos. Como o BC comprou US$ 4,4 bilhões além do saldo positivo da balança cambial era para o dólar estar, no mínimo, no mesmo patamar em que encerrou 2006, a R$ 2,14. Mas a moeda caiu, no primeiro trimestre, 3,6%. E, até ontem, 4,82%. A conclusão é que a cotação da moeda foi derrubada pelo dólar não-físico, aquele cujo movimento não é detectado pela balança cambial. Os números mostram que não procede a alegação oficial, de grande parte do mercado e dos comentaristas neoliberais de que não há nada a se fazer contra a tendência " natural " de apreciação cambial já que o governo não pode lugar contra justamente a " boa imagem " externa que ele mesmo construiu. Isso seria verdadeiro se o dólar estivesse caindo por causa dos " excelentes fundamentos " da economia brasileira. A tendência de apreciação cambial é verdadeira como decorrência do superávit em conta corrente até o limite das compras do BC. Se o BC compra tudo e o dólar continua recuando é porque há outra esfera agindo para derrubar a moeda sem interferência da autoridade. Essa esfera é composta pelas operações envolvendo dólares não-físicos. Todas elas - arbitragens e posições em derivativos de câmbio - têm o duplo objetivo de ganhar a Selic e a valorização cambial do período da aplicação. Elas são denominadas em dólar, mas liquidadas em real e, para darem certo, precisam derrubar o preço da moeda americana no mercado à vista. A problema da sobrevalorização cambial estaria resolvido no dia em que o Copom sinalizasse a intenção de cortar a Selic ao ritmo de um ponto percentual nas próximas reuniões. Se, na próxima reunião, dia 18, reduzisse o juro básico de 12,75% para 11,75% e indicasse a vontade de persistir na mesma rota, de cara as operações com derivativos teriam de ser desmontadas e os especuladores iriam parar de exercer pressão de baixa sobre o dólar à vista. O BC nem precisaria chegar à Selic de 7,75% na penúltima reunião do ano, marcada para 17 de outubro, para conseguir elevar o dólar. Exaurida a fonte básica da sobrevalorização, bastaria administrar as compras do superávit do fluxo cambial para conseguir a taxa de câmbio mais adequada tanto do ponto de vista da atividade produtiva quanto do requerido pelo combate à inflação. A decisiva influência da política monetária sobre a taxa de câmbio pode ser medida pelo fato de que, ontem, o dólar só começou a cair - fechando em baixa de 0,14%, cotado a R$ 2,0340 - depois que foi anunciada a saída de Júlio Sérgio Gomes de Almeida da secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Antes dela, por temor de que as críticas formuladas na véspera por Almeida contra os juros excessivamente elevados praticados pelo BC, os responsáveis, segundo ele, pela apreciação do real, pudessem indicar uma guinada na política econômica de Lula, os especuladores frearam sua ofensiva contra o dólar. E a moeda mantinha-se no mesmo patamar anterior, incapaz de acompanhar o bom humor registrada em outros segmentos. Indicadores ruins sobre a economia americana foram vistos pelo seu lado positivo: atuam para antecipar o início da flexibilização monetária pelo Federal Reserve (Fed). Cresceram ontem no mercado de treasuries, para 57%, as chances (no caso, são chances mesmo, não risco, já que a maior parte dos analistas torce para que isso ocorra) de o Fed cortar o rumo de 5,25% para 5% em sua reunião de 7 de agosto. O índice ISM de serviços caiu de 54,3 em fevereiro para 52,4 em março, quando se previa o oposto, alta para 55. E as encomendas às indústrias cresceram 1% em fevereiro, quando se esperava avanço de 1,8%. Nos EUA, o mercado monetário reage a indicadores. Aqui, não. O IPC FIPE de março, de 0,11% (ante expectativa média de 0,19%) e a alta modesta de 0,3% registrada pela produção industrial deveriam derrubar os juros futuros, mas o CDI para a virada do ano cedeu apenas 0,01 ponto, a 11,94%. (Luiz Sérgio Guimarães | Valor Econômico)

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