Quarta-feira, 11 de novembro de 2020 - 20h18
Em meio a dificuldades enfrentadas pelas
comunidades tradicionais por causa da pandemia da covid-19, comunidades
indígenas de Rondônia e de Mato Grosso se uniram em torno de uma ação inovadora
para auxiliá-los nessa situação de emergência. Será lançada hoje (11) a OYX,
uma criptomoeda mundial indígena transcultural.
As criptomoedas são moedas virtuais, armazenadas em
carteiras digitais, que podem estar online ou instaladas em computadores ou
celulares. Elas funcionam por meio de um código complexo, único e que não pode
ser alterado isoladamente.
O recurso foi idealizado por Elias Oyxabaten Suruí,
do povo Suruí Paiter, que se uniu aos Cinta Larga, dois povos que são
tradicionais rivais. “É uma ideia minha de união. A intenção é trabalhar com os
dois povos e mostrar serviço para auxiliar as duas comunidades na região”. Juntos,
os Suruí Paiter e os Cinta Larga somam cerca de 4 mil pessoas.
OYX é a abreviação do sobrenome de Elias, que
significa homem persistente. A porta-voz da OYX, Adriana Siliprandi, explica
que a ideia é permitir que as aldeias possam criar novos projetos econômicos
com autonomia.
“A premissa da iniciativa não é de servir de
aplicação financeira. Embora a OYX seja anunciada como uma criptomoeda,
trata-se, na realidade, de um token utilitário [gerador de senha], uma espécie
de criptoativo, mas que, à diferença do bitcoin, por exemplo, não tem
características de investimento, como perspectivas de remuneração ou de
valorização em mercado secundário”.
Serão emitidas inicialmente 100 milhões de OYX, com
valor de R$ 10 a unidade. Segundo Adriana, as aplicações poderão ser feitas em
reais. “A ideia é que o token seja pareado com a moeda brasileira”. Entre os
objetivos de arrecadação estão a construção de escolas, compra de sementes e
equipamentos e ações de saneamento.
Sem auxílio
Segundo Elias, que trabalha no Distrito Sanitário
da Saúde Indígena, os Suruí Paiter e os Cintas-Largas mantêm o modo de vida
tradicional indígena, tendo como base de sobrevivência a pesca, a plantação, o
artesanato e a agricultura. Porém, nos últimos meses esses povos lutam contra a
fome, a covid-19, o garimpo ilegal, o agronegócio e o desmatamento.
A arrecadação conseguida com a criptomoeda será
usada para construir e manter projetos nas regiões onde vivem esses povos, nos
estados de Rondônia e Mato Grosso, garantindo uma renda mínima, segurança
alimentar e integração das aldeias. O lançamento da OYX ocorrerá durante o
evento online Blockchain Connect 2020, às 18h.
Funai
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que
investiu mais de R$ 37 milhões no combate à covid-19 junto aos povos indígenas.
“Entre as ações, destaca-se a entrega de cerca de 425 mil cestas de alimentos a
207 mil famílias indígenas em todo o país. A medida é fundamental para garantir
a segurança alimentar das comunidades durante a pandemia, além de contribuir
para que os indígenas permaneçam nas aldeias e evitem o contato com o vírus”.
Em nota, a fundação informa que também distribuiu
quase 70 mil kits de higiene e limpeza, além de reforçar a adoção de medidas
preventivas. “O órgão promove diversas ações de orientação junto às comunidades
sobre os protocolos sanitários. Os servidores da fundação vêm atuando ainda na
conscientização dos indígenas para que eles evitem as aglomerações, bem como o
deslocamento aos centros urbanos.”
Segundo a Funai, foram investidos, ainda, R$ 10,4
milhões em ações que visam a autossuficiência das comunidades, como a aquisição
de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas e maquinários
agrícolas, além de R$ 11,8 milhões na proteção da territorial, com 306 ações em
221 Terras Indígenas para coibir ilícitos desde o início da pandemia, como
extração ilegal de madeira, atividade de garimpo e caça e pesca predatórias. As
ações são feitas em parceria com outros órgãos, como o Exército, a Polícia
Federal e o Ibama.
A Funai suspendeu em março as autorizações para
ingresso em Terras Indígenas e está com 313 barreiras sanitárias para impedir a
entrada de não indígenas nas aldeias. “Os indígenas contam ainda com uma
Central de Atendimento específica para solicitações relacionadas ao combate à
covid-19 para que as demandas cheguem mais rápido aos órgãos competentes”,
informou o órgão.
Casos da covid-19
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) contabilizou, até o dia 6 de
novembro, 32.746 casos de covid-19 entre os indígenas brasileiros, com 478
óbitos. Porém, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) registra até
hoje (11) 38.978 casos e 871 óbitos, em 161 nações. Segundo a Apib, as
contaminações entre as populações indígenas foram levadas por médicos e agentes
das forças de segurança a serviço do governo federal.
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