Quarta-feira, 8 de maio de 2019 - 12h25
Com um discurso de que as pessoas devem se “reabilitar a um mundo diferente”, de que o consumidor precisa “desconstruir” a necessidade de ser atendido por pessoas, em agências físicas, o presidente do Santander Brasil Sergio Rial, em entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo no dia 5 de maio, praticamente anunciou que, até o final de 2019, a figura do caixa humano deverá deixar de existir nas agências brasileiras do banco espanhol.
Para
o executivo, que assumiu o comando do Santander no Brasil em 2016, e que
comemora o fato do Santander Brasil ser a filial mais importante no
conglomerado (atingiu, no fim de março, a fatia histórica de 29% nos resultados
globais do grupo espanhol, mais do que Inglaterra e a própria Espanha juntas) e
que, por isso, é considerado um forte candidato a presidir a matriz do banco a
nível global, a estrutura física (agências) é o simbolismo dos organogramas do
século 20.
“Desconstruímos as funções organizacionais. Chamamos as estruturas de lojas e não mais de agências. Esperamos terminar o processo este ano em todas as agências. É uma transformação muito clara do desenho do banco. O organograma tradicional deixa de existir. O caixa continua existindo, mas não é mais uma pessoa. Qualquer um pode voltar e fazer a autenticação se for necessário. É um pouco do que acontece em qualquer loja. Raramente você vê nas lojas a figura do caixa”, destacou o executivo quando indagado se esse processo representaria o fim do caixa humano, e que o consumidor precisa “começar a desconstruir essa necessidade da estrutura física, que deixou de existir”.
MENOS AGÊNCIAS
Quando
questionado sobre uma conseqüente redução do número de agências, Sérgio Rial
disse que a “estrutura física será redesenhada, não necessariamente reduzida”.
“Vamos
abrir, entre 2018 e 2020, mais de 300 lojas. Só que as lojas vão ser
vocacionadas. O banco mudou muito, mas a função custódia não vai mudar. Não é
difícil pensar que a riqueza se torne um algoritmo, que terá de ser seguramente
custodiado em algum lugar de confiança. A custódia de qualquer moeda não vai
mudar. Pode até não ser chamado banco”, descreveu Rial, novamente
desconversando sobre uma pergunta direta da equipe de reportagem.
Para
o presidente do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de
Rondônia (SEEB-RO), José Pinheiro, essa notícia causa ainda mais preocupação
aos empregados do Santander, que já sofrem constantes perseguições e tentativas
de demissões, mesmo que o trabalhador tenha dedicado décadas de sua vida ao
banco.
“Sérgio
Rial deixa claro que é a favor de iniciativas governamentais que foram criadas
apenas para atacar direitos dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e,
atualmente, a reforma da previdência. É de interesse do Santander – e dos
demais bancos privados – o fim da previdência social, para que os brasileiros
sejam obrigados a optar pela capitalização e, consequentemente, os bancos privados
obterem ainda mais lucro em cima do sofrimento dos trabalhadores”, menciona Pinheiro,
acrescentando que, em Rondônia, a medida de ‘extinguir’ os caixas humanos já
está sendo colocada em prática, com redução de até metade dos caixas nas
agências.
“Além
de colaborar com o aumento do desemprego no país, o Santander vai promover
consideravelmente a precariedade no atendimento. Clientes e usuários, que
atualmente já sofrem com espera de até duas horas, terão menos caixas para
atendê-los, e a revolta generalizada será uma rotina dentro das agências. Mas
não satisfeito, o Santander ainda quer obrigar o seu funcionário a trabalhar
aos sábados, desrespeitando as leis trabalhistas e as convenções e acordos
coletivos”, concluiu o dirigente.
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