Terça-feira, 7 de abril de 2020 - 11h40
Depois da crise do Covid-19
não haverá volta à “normalidade”. Normalidade depende das condições da economia
e a economia brasileira, infelizmente, este ano e o ano que vem, estará
irremediavelmente numa depressão. Analistas já chegam a prever 5% de queda no
Produto Interno Bruto-PIB este ano. É um desastre. Não adianta mais discutir
quarentena ou não. A quarentena já foi feita com todos os seus imensos
problemas econômicos. Impuseram na paz uma situação de guerra. Nós fomos,
queiram ou não, obrigados a ficar em casa. O resultado econômico é devastador.
Só depois iremos saber quantas empresas fecharam, quantos empregos foram
perdidos. Pior que não podemos esperar muito do ambiente externo. Se, e quando as
economias forem reabertas, é provável que a transmissão volte. Acontece isto, agora, na
China. O problema é que se isto acontecer, o medo pode nos levar a uma nova
fase de fechamento da economia. Este será o pior dos cenários possíveis, este
processo de abrir e fechar a economia pode continuar até o ano que vem ou até
acharem uma cura para o vírus. Até lá,
muitas empresas vão desaparecer. O desemprego e a pobreza vai aumentar muito.
Não só no Brasil como em todos os países emergentes. Vai ser um choque de
oferta muito grande, enorme, com consequências graves de insolvência e de
demanda. Então, é muito provável que termos um período de recessão neste ano e
isto deve prosseguir em 2021. Ninguém duvida de que o atual choque econômico
será muito pior que a crise financeira de 2008. E deve ter efeitos de mais longo
prazo, inclusive com uma grande interrupção de comércio e viagens. Também se
espera mudanças na estrutura da cadeia de fornecimento e da economia global.
Sorte teremos se o vírus acabar sendo controlado neste verão (do Hemisfério
Norte). É o melhor cenário, mas, mesmo assim teremos uma recessão grave. O mais
problemático é que, se os investimentos estrangeiros devem diminuir. Será
difícil para o Brasil conseguir financiamento em moeda estrangeira. E a
poupança interna é baixa. O Brasil terá de realocar seus gastos, o que pode ser
extremamente difícil politicamente. Politicamente, é quase impossível mudar os
gastos numa situação como a atual. Basta ver que não se conseguiu usar os
recursos do fundo eleitoral para a saúde. Um país como o Brasil para responder
bem a essas emergência tem um desafio gigantesco. Não dá para comparar com a
China, a China, é lógico, tem vantagens enormes de recursos financeiros e de
poder de organização e, ao contrário de nós, um controle social tirânico. A
países emergentes e democráticos não tem esses ativos, daí, que os próximos dois anos vão ser muito
complicados. Principalmente, porque, depois da crise, os que irão sofrer mais
são os de baixa renda. E o Brasil não tem a solvência dos EUA ou da Alemanha. O
tesouro não tem como atender a tanta demanda, não pode emprestar à taxas de
juros negativas. Se o governo não tem condições financeiras de fazer isto,
então, para a grande maioria das pessoas que são autônomas ou tem empregos
informais estarão numa vulnerabilidade imensa. O que o governo fará por essas
pessoas? Talvez a solução seja manter a ajuda que, agora, é provisória. Vamos
ter tempos difíceis.
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