Segunda-feira, 23 de outubro de 2023 - 15h56
Tecnologia que permite criar estruturas mecânicas
miniaturizadas usando um conjunto de chips para replicar as funções dos órgãos
humanos em laboratório é uma das áreas de estudo de Suélia Fleury, membro
sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), maior
organização profissional técnica do mundo dedicada ao avanço da tecnologia para
a humanidade, em parceria com CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e
Materiais). Além dos chips, as microestruturas da tecnologia
"organ-on-a-chip" contam com canais nos quais circulam fluidos e são
depositados células vivas. Assim, é possível simular funções do órgão que deve
ser simulado, como, por exemplo, coração, rim, intestino, pulmão ou fígado.
"Ao contrário do que muitos imaginam, não estamos falando de órgãos em miniatura,
e sim pequenos dispositivos que simulam as suas funções," diz Suélia
Fleury.
A especialista conta que a tecnologia foi desenvolvida em
Harvard, e vem sendo estudada há alguns anos nos Estados Unidos. Em sua
pesquisa, Suélia Fleury tem estudado o crescimento de vasos com células que são
alimentadas com o oxigênio e com os próprios nutrientes necessários para a sua
circulação. "Na medida em que estas
células crescem dentro da estrutura do órgão em um chip, fazemos algumas
avaliações a respeito dos resultados. Aqui, no Brasil, o CNPEM é nosso parceiro
nesta empreitada, e tem estudado esse dispositivo, com resultados muito
positivos," explica Suélia Fleury.
A tecnologia de órgãos em um chip pode ser usada para
substituir testes feitos com animais, para gerar novos tipos de medicamentos e
também no desenvolvimento de equipamentos. A especialista cita como exemplo um
equipamento voltado para a cicatrização de feridas causadas pela diabetes. "Uma simples ferida no dedo do pé de uma
pessoa pode ter consequências graves para os diabéticos, que muitas vezes
encontram problemas de cicatrização. Em conjunto com o crescimento de bactérias
e má circulação, podem causar uma necrose que leve a amputação e até a morte do
paciente," conta Suélia Fleury, que explica que este processo "é a
segunda maior causa de amputações no Brasil, chegando a 14% a 20% dos
casos."
Para desenvolver um equipamento capaz de lidar com este
problema, é preciso fazer um conjunto de ensaios, a começar pelos pré-clínicos
até os ensaios clínicos, que são feitos em seres humanos. O grupo liderado por
Suélia Fleury tem estudado a maximização do crescimento de veias, indo além do
atual uso em conjunto de duas soluções (biomaterial látex e a fototerapia) para
cicatrizar feridas em diabéticos, uma técnica conhecida como Projeto Rapha, que
já foi premiado e atualmente está em processo de submissão e registro na
Anvisa. Indo além do Projeto Rapha, a equipe de Suélia Fleury desenvolveu um
protótipo capaz de gerar um maior crescimento de vasos nos tecidos dos pés dos
diabéticos usando a tecnologia organ-on-a-chip.
Ablação cardíaca e ablação hepática
também são exemplos de engenharia biomédica
A ablação é uma técnica que usada para evitar a arritmia
cardíaca (ablação cardíaca), e também para a extração de câncer (ablação
hepática). Nas palavras de Suélia Fleury, "os dois tratamentos são
aplicados em um campo do tecido e já estão consolidados no Brasil, sendo
inclusive cobertos pelo SUS, mas ainda não temos equipamentos nacionais para
este tipo de procedimento."
Engenharia biomédica gera soluções
tecnológicas para a área da saúde
A engenharia biomédica é um campo da área da formação das
engenharias, que tem como missão o desenvolvimento de tecnologias e soluções
para a área da saúde. Esta tecnologia "é fundamental para que o Brasil
esteja melhor preparado para lidar com os futuros desafios da medicina,"
diz Suélia Fleury.
Usando a engenharia biomédica, é possível desenvolver
tecnologias revolucionárias, passando pela robótica, telemedicina,
organ-on-a-chip e abladores, entre outras técnicas e equipamentos. Suélia
Fleury acredita que é essencial que o Brasil continue a investir no conceito
das engenharias que podem gerar novas soluções para a área médica.
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