Segunda-feira, 28 de julho de 2014 - 16h44
Há 100 anos, em 28 de julho de 1914, começava a Primeira Guerra Mundial, assim conhecida por ter envolvido as maiores potências mundiais. O conflito iria terminar somente quatro anos depois, em novembro de 1918, e foi classificado como a guerra das guerras, pela dimensão da tragédia, pelo uso de tecnologias modernas na ação de matar e por ter deixado quase 9 milhões de mortos entre os combatentes. Não há estatísticas confiáveis sobre civis mortos diretamente como consequência da guerra, mais os que morreram como efeito colateral do conflito, mas estima-se que superem 10 milhões de pessoas.
Completando agora um século desse evento trágico, é importante que as gerações de hoje e as do futuro sejam informadas das causas, do desenrolar das ações e das consequências apavorantes que conflitos dessa magnitude impõem sobre a humanidade. O horror que se abateu sobre a Europa diretamente e sobre todo o planeta indiretamente colocou em xeque a própria lógica da existência da vida e a questão de se a humanidade seria capaz de viver e sobreviver sob a paz, apesar das diferenças de interesses entre as nações. O horror sanguinário e a dimensão da matança na Primeira Guerra Mundial foram consequência também da genialidade humana, que havia menos de três décadas acabara de inventar a eletricidade e o motor a combustão interna. Essas invenções deram curso ao que se convencionou chamar de “segunda revolução tecnológica”, que mais adiante daria ao mundo progresso sobre a produtividade econômica e sobre a melhoria do bem-estar médio. Infelizmente, o progresso tecnológico contribuiu para a morte e para o tamanho da catástrofe durante a guerra.
As causas dessa guerra são várias, entre as quais as tendências de domínio e de conquista de potências europeias, como o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano, o Império Russo, o Império Britânico, a Terceira República Francesa e a Itália. Faltavam organismos mundiais capazes de mitigar o ímpeto colonizador dos impérios. Atualmente, por mais que os organismos mundiais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), estejam passando por crise de credibilidade e de eficácia, eles se constituem na possibilidade de que as divergências políticas entre nações possam ser resolvidas pela política e pela diplomacia, evitando-se tanto quanto possível a solução por meio da guerra.
Outra lição importante é que a liberdade das nações e o direito à autodeterminação dos povos constituem dois dos maiores valores humanos, pelos quais os países – pequenos e grandes, fortes e fracos – terão a garantia de que nações poderosas não usarão a força para tomar-lhes território ou submeter-lhes a qualquer tipo de dominação. Trata-se de objetivos difíceis e sempre muito frágeis, mas que devem ser perseguidos com pertinácia e esforço supranacional como meio de evitar catástrofes da magnitude vista na Primeira Guerra Mundial. Dos efeitos dessa guerra nasceu a Liga das Nações, que se tornou a organização precursora da ONU, formada justamente na esperança de que outros conflitos dessa dimensão pudessem ser evitados. Mas, finda a guerra, a política mundial cometeria outro erro grave: o Tratado de Versalhes, que humilhou a população alemã e estabeleceu reparações de guerra que a Alemanha não tinha condições de pagar. O tamanho desse erro viria a se revelar 20 anos depois, quando Hitler lançou o país na Segunda Guerra Mundial, entre outras razões como reação à perda de território e ao sacrifício imposto pelas indenizações.
A história do mundo é marcada pelas guerras, pela fome e pela doença, e acreditava-se que o crescimento econômico e o desenvolvimento social derivados do progresso tecnológico trariam, sozinhos, a redução desses três dramas. Entretanto, as novas invenções e os conhecimentos tecnológicos que seriam a saída para a pobreza e o atraso foram os elementos que tornaram as guerras mais graves e mais sanguinárias, tornando imprescindíveis os organismos internacionais de solução de conflitos. O progresso científico e tecnológico quando desprovido da dimensão ética pode ter efeitos mais negativos que positivos.
Neste ano em que a deflagração da Primeira Guerra Mundial completa um século, talvez a maior empreitada que as nações tenham pela frente seja a recuperação do prestígio e do poder de ação política da ONU, da Organização Mundial do Comércio e dos organismos de ajuda aos países pobres e às populações miseráveis e famintas. As principais armas contra a probabilidade de guerras e mortes são a diplomacia e a solidariedade mundial. Aqui está um grande desafio para as novas gerações.
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