Quinta-feira, 17 de junho de 2021 - 11h54
Dionísio Xavier, o velho Dió. O camarada Dió. Sempre
uma ótima conversa, cheia de sabedorias, de análise política do passado e do
presente. Conversar com o camarada Dió era sempre ótima aula de
informação. Dió faz parte da história de Porto Velho, de Ji-Paraná, do
Estado de Rondônia. Quando o conheci, em 1984, 85, ele já era uma história viva
da região. Conheci o Dió, melhor forma não poderia ter sido, bebendo
cerveja, e no melhor lugar possível daquele momento na cidade de Porto Velho,
no Bar do Zizi.
Foi numa tarde. Era comum naquele tempo passar no Bar do Zizi para
conversar com os informados frequentadores do ambiente, e saber qual era a
novidade na cidade, no campo da política, da cultura, do esporte e das fofocas
mais sórdidas possíveis.
O ‘Bar do Zizi’ foi durante décadas o ponto do viver
coletivo, o ponto cultural, no sentido antropológico, mais importante da cidade
de Porto Velho. No Bar do Zizi, se encontravam os artistas, jornalistas,
políticos, professores, médicos, advogados, todos os profissionais possíveis,
e, o pedinte, o religioso, o ateu, o blefado e o abonado. Lá era, como não
poderia deixar de ser, reduto do jornalista, famoso comunista, Dionísio
Xavier – o velho Dió.
Naquela tarde ao chegar ao bar, estavam lá entre tantos, o professor
José Aldemir Saldanha, o popular Pereca. Aldemir é meu amigo de adolescência no
bairro do Areal. Estudamos juntos no colégio Dom Bosco, fomos seminaristas
juntos no Dom Bosco de Manaus, meu parceiro em algumas músicas, ou seja, um
amigo. Fui sentar-me na sua mesa. Na mesa tinha um senhor franzino, barba e
cabelos brancos. Fui apresentado a figura pelo amigo Aldemir – “Dadá seu Dió, jornalista e comunista”. Dali pra frente
sempre estávamos, eu e Dió, batendo papo e discutindo política no Bar do Zizi.
A esposa do José Aldemir, dona Eliana, é filha de criação do velho Dió.
Na época que conheci o velho Dió, eu tinha acabado de chegar de Manaus,
onde cursei graduação em jornalismo. O Dió também era jornalista, e, mais, eu
era militante do Partidão, partido onde o velho Dió já havia militado nos
tempos de chumbo da ditadura militar. Lembro que nós estávamos eufóricos,
vivíamos a abertura democrática. Todos nós que tínhamos lutado contra o regime
de exceção achávamos que estava chegando o Brasil que tínhamos sonhado.
O bom de conversar com o Dió era que ele era um comunista esclarecido. Eu ficava impressionado com
a capacidade de raciocínio e de análise do velho comunista. Ficava pensando
como um homem que tinha sido formado pela linha dura do Partidão (Lênin, Stalin
etc.) tinha a cabeça tão aberta para as novas ideias. Discutia todos os
assuntos sem discriminação. E dava opiniões e as vezes sugestões brilhantes
sobre qualquer assunto.
Lembro-me que uma vez ele aconselhou-me a ler o livro “Os Donos do
Poder”, do sociólogo, jurista e cientista político Raymundo Faoro, onde
se estuda a formação do patronato político brasileiro. Uma obra extraordinária
para quem busca conhecer politicamente o Brasil. Sem sombra de dúvidas, uma das
melhores sugestões que aceitei na vida. É simplesmente impactante a experiência
da leitura de “Os Donos do Poder”. Não precisa dizer que essa leitura levou-me
a várias discussões com o velho Dió sobre a situação política do Brasil.
AFINAL
QUEM É O DÍÓ?
“Perseguido, espancado e ameaçado de morte, o saudoso comunista acreano
Dionísio Xavier Silveira, o Dió, nascido em sete de outubro de 1925, não abriu
mão dos seus princípios durante o tempo em que escreveu e imprimiu
artesanalmente A Palavra (2), numa velha tipografia instalada numa casa de
madeira do Bairro Casa Preta, em Vila Rondônia (antigo nome de Ji-Paraná), a
370 quilômetros de Porto Velho”, escreveu o jornalista Montezuma Cruz sobre o
Dió. Mas tem muito mais. A história do comunista Dió, dá, sem sombras de dúvidas, um belo livro.
Quando estava trabalhando no Superintendência do Ministério do
Trabalho/RO, meu amigo, jornalista, poeta e compositor popular, Antônio Serpa
do Amaral, o Basinho, levou lá no trabalho um senhor que estava fazendo
pesquisa para realização de um vídeo, que depois foi denominado “Caçambada
Cutuba” (3). O jornalista e cineasta era o Zola, filho do velho Dió. Queria me
conhecer por ter militado no Partidão e ter sido amigo do seu pai.
Conversamos muito sobre o velho Dió.
O Dió todo ano ia ao Rio de Janeiro. Uma vez, depois de voltar do Rio,
encontrei-me com ele no Bar do Zizi. Ele tira de um envelope uma foto (13X18)
dele, ao lado da estátua do mestre Pixinguinha, que fica
localizada na Rua do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro. “Trouxe pra você”, e
estendeu a mão entregando a fotografia. No verso uma bela e singela
dedicatória – estilo Pixinguinha. Gardo com carinho comigo esse presente. Quando a olho e leio a dedicatória, sinto o abraço sincero e amigo
do camarada Dió.
(1) Adaídes Batista, Dadá, jornalista, poeta,
compositor, membro da academia de Letras de Rondônia
(2) A Palavra, semanário em Porto Velho na
década de 1970, depois em Vila Rondônia (Ji-Paraná), pertencia ao seringalista
Samuel Garcia
(3) Caçambada Cutuba, um causo da disputa
política dos tempos do Território na década de 1960
Na comemoração do 6º aniversário da Energisa, Rondônia ganha livro de fotos antigas
Três anos atrás, o repórter fotográfico goiano Kim-Ir-Sen Pires Leal se inquietava diante de suas milhares de imagens de Rondônia, antes de lançar a s
Lançamento de livro retrata os 40 anos da história do Parlamento de Rondônia
Já está disponível para compra o livro "Percorrendo os 40 anos de história do Parlamento Rondoniense", escrito pelo servidor da Assembleia Legislati
Montezuma Cruz lança "Território dourado", sexta-feira, na Casa da Cultura
Na noite de sexta-feira, 23, a partir das 19h, o jornalista Montezuma Cruz lançará seu livro “Território dourado”, contendo relatos a respeito dos g
Senor Abravanel, um abnegado em levar alegria ao povo brasileiro, um visionário das comunicações no Brasil, cuja marca registrada em mais de 75 anos d