História da imprensa, como um capítulo especial, merece destaque o papel que o jornal tem exercido, como função propulsora da sociedade, apoiando ou condenando o que emerge do livre debate das idéias, iluminando as iniciativas que abrem novos caminhos para as instituições, para o progresso, para a civilização.
Daí poder medir-se o avanço dos povos pela presença da imprensa, tanto mais promissora quanto mais prematura, tanto mais criadora quanto mais participante na vida das cidades, à maneira de um luzeiro. Na história de Rondônia, por exemplo, desde quando integrava o Estado do Amazonas, nada é mais confirmador da trajetória de Porto Velho, fundado em 1914, do que a evolução do “
Alto Madeira”, nascido em 15 de abril de 1917, histórias que se entrelaçam num todo inseparável.
Já em seu primeiro número, o “
Alto Madeira” assumia uma legenda de audácia: “para a frente, em busca do futuro”. E assim tem sido, desde quando a pequena Vila assistia a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, resfolegando, multiplicar a riqueza regional pela exportação da borracha e da castanha.
Nada houve desde então, no desenvolvimento de Porto Velho, que o “Alto Madeira” não tenha registrado e, mais do que isso, não tenha contribuído com o seu apoio. Nem sempre a concordância foi irrestrita. Mas pelo contraditório a idéia ganhava força, despojando-se da improvisação. O fato é que, para escrever a história do município, ninguém poderá deixar de debruçar-se sobre as páginas desse Diário, desde quando os tipos o compunham, ressoando, surdamente, noite a dentro.
Os tempos passaram, o “Alto Madeira” equipou-se com máquinas modernas, mas o jornal, como se fosse uma síntese da história, continua sendo o registro do Governo de Guapindaia e do Prefeito Bohemundo Alves Affonso, de cujas mãos honradas o coronel Aluízio Pinheiro Ferreira recebeu o acervo do Município de Porto Velho, a 13 de setembro de 1943, transfigurado no Território Federal do Guaporé.
Longe de Porto Velho, não tenho como deter-me a folhear as páginas do “Alto Madeira”. Nos arquivos do quase centenário jornal, seguramente, eu encontraria os fatos significativos que lhe ilustraram a vida. Menos ainda posso ir a Manaus, remontando ao passado mais distante, de 1917 a 1935, rever a coleção do “Alto Madeira” no Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas.
A mim me basta, numa retrospectiva recente, rememorar o “Alto Madeira”, já instalado na Praça Jonathas Pedrosa, quando Euro Tourinho passou a integrá-lo, primeiro como repórter, logo depois articulista, em 1950. Não tardou muito, foi elevado a categoria de Diretor Geral, em 1962. Até que, consorciando-se com Luiz Tourinho seu irmão, tornou-se dono do “Alto Madeira”, sucedendo aos “Diários Associados”.
Tenho elogiado o dinamismo do “Alto Madeira”. Mas, como é óbvio, não há jornal sem jornalista. Sem desmerecer os que, ao longo de meio século deram a vida ao semanário nos seus primórdios, creio que é de justiça dizer-se que foi Euro Tourinho quem deu alma ao pequeno jornal, com as crônicas sociais da Eurly, pseudônimo com o qual disfarçava a sua presença social nos bailes, nas festas de arrebalde, nas mais diversas rodas que sacudiam a cidade, ora pelo riso, ora pela crítica.
Porque é bom acentuar que a crônica social que brotava da alma de EURO TOURINHO (ele próprio datilografando-a) não se limitava ao registro do fato, nem resvalava para a pieguice e, menos ainda, para a maledicência. Sabia talha-la com graça, ás vezes com ironia; mas também ousava salpica-la com a crítica social, revivendo a legenda de Demenico, em seu teatro medieval: “Rindo, castigam-se os costumes”.
A meu ver, entretanto, a maior dimensão de EURO TOURINHO como jornalista continua sendo a de repórter. A agilidade com que sabe registrar os fatos, articulando-os, é admirável. Embora seja o Diretor Geral do “Alto Madeira”, ele não se despe da condição de repórter: onde quer que vá, com a máquina fotográfica a tira-colo, Euro Tourinho ausculta, interroga, lê alem da visão, com a alma de um grande repórter. E o que é mais impressionante: não raro traz a matéria elaborada e transfere a responsabilidade do texto a um jornalista de asas menores.
Como Diretor Geral ele não se limita à rotina administrativa. Está sempre atento para incluir, na pauta do “Alto Madeira”, com o destaque merecido, matérias que significam defesas de teses importantes para Porto Velho. É o caso do cacau da região, por exemplo. O dr. Frederico Monteiro Álvares Afonso, responsável pelo projeto do CEPLAC que reimplantou o cacau em Rondônia, em seus depoimentos pessoais ou mesmo em artigos, jamais deixa de dar seu testemunho, com verdadeira paixão, do quanto o “Alto Madeira” abriu suas páginas em defesa dessa iniciativa, não raro pouco amparada pelas autoridades regionais.
Não é por acaso que, ao ensejo do 30º aniversário do CEPLAC em Rondônia, através da manografia “Quanto Vale um Amigo!” os veteranos dessa admirável instituição, á frente o dr. Frederico Monteiro Álvares Afonso prestam tão justificada homenagem ao EURO TOURINHO.
Com orgulho, aqui de longe, venho dizer uma palavra de louvação ao grande Amigo. E me acanho por haver dito tão pouco, porque sei muito bem quanto merece Euro Tourinho, esse matogrossense que engrandece Rondônia.
Almino Affonso, Advogado, ex-Deputado Federal, ex- Ministro do Trabalho e da Previdência Social, ex-Vice Governador de São Paulo, ex-Representante do Brasil no Parlamento Latino Americano.