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História extraordinária de vida - Dona Maria Auxiliadora Lobo de Souza

Ela ficou órfã de pai e de mãe no dia em que nasceu


História extraordinária de vida - Dona Maria Auxiliadora Lobo de Souza - Gente de Opinião

Dona Maria Auxiliadora Lobo de Souza, de Porto Velho (RO), é protagonista de uma saga que parece roteiro de cinema.

Ela ficou órfã de mãe no dia em que nasceu,  em 19/08/1935, e seu pai, Antônio, a caminho do hospital para ver esposa e filha — sem saber que estava viúvo —  acabou sofrendo um naufrágio e morrendo afogado no Rio Madeira.

Na época, era comum as crianças nascerem pelas mãos de parteira. Mas Deolinda estava com malária e internada no Hospital São José onde deu à luz. A jovem mãe morreu durante o parto. 

A recém-nascida ficou no hospital administrado por freiras católicas durante três meses, sem que ninguém a reclamasse. Até que um carroceiro que atendia com seus préstimos o hospital foi ao quarto onde ela estava. Vendo-o, a criança abriu os braços, como se pedisse para ser levada dali. E foi, com autorização do bispo.

“Eu nunca vi meus pais nem por retrato. Meu sobrenome Lobo vem daqueles que me adotaram e cuidaram de mim”.

A menina estudou no colégio de freiras — o Instituto Maria Auxiliadora, de onde vem seu nome de batismo  —  até os 15 anos, teve ótima educação. Mas começou a trabalhar cedo: “Com oito anos eu já vinha aqui na Estrada de Ferro buscar óleo queimado para botar nas lamparinas" do colégio e de casa.

Depois, foi contratada pela própria EFMM, onde exerceu  várias funções (de 1953 a 1983), até aposentar-se. Na condição de ferroviária,  começou como datilógrafa, tornou-se escriturária e agente administrativa na tesouraria e na área de RH.

A FERROVIA DO DIABO

A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré simboliza a união de 50 países representados pelos 20 mil trabalhadores que atuaram na sua construção, encerrada em 1912, precedendo o município de Porto Velho, criado, oficialmente, dois anos depois.

A ferrovia com seus 366 km ligando Porto Velho a Guajará-Mirim foi inaugurada em 30 de abril de 1912, 15 dias após o Titanic naufragar no Atlântico Norte. Jornais do mundo todo noticiaram a odisseia humana na maior floresta tropical do Planeta que resultou em seis mil mortos durante os cinco anos de construção — o quádruplo do número de vítimas do Titanic.

Quando Dona Maria Auxiliadora nasceu, em 1935, a atual capital de Rondônia ainda era uma cidadezinha fincada ao sul do estado do Amazonas, na divisa com Santo Antônio do Rio Madeira — cidade mato-grossense oficialmente extinta em 1945. Vivia Porto Velho, basicamente, em torno da EFMM e da extração do látex, sendo esta segunda atividade que justificou a implantação da conhecida Ferrovia do Diabo — apelido dado em função do grande número de mortos que determinaram  a instalação de um campo-santo na cidade-empresa: o Cemitério da Candelária, em cujo solo repousa gente de todos os continentes.

Dona Maria Auxiliadora é também guardiã desta história. Foi presidente da Associação de Amigos da EFMM cujo mister é manter vivo no imaginário e documentalmente um dos capítulos mais interessantes da história do Brasil e do mundo.

(*) Júlio Olivar, turismólogo, historiador, membro da Academia Rondoniense de Letras

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