Terça-feira, 20 de julho de 2021 - 10h51
Quando os técnicos do INCRA
desembarcaram nas proximidades da foz do Igarapé Ribeirão, no início da década
de 1970, a região então pertencente ao município de Guajará-Mirim era um imenso
e produtivo seringal cortado por dezenas de estradas de seringas, como se fosse
uma grande teia de aranha que abarcava de Vila Murtinho se estendendo em direção
ao hoje distrito de Palmeiras.
Os técnicos com a árdua missão
de instalar nesta área fronteiriça um Projeto Integrado de Colonização (PIC
Sidney Girão), tendo como premissa, “ocupar” “os espaços Amazônicos, trouxeram
em suas bagagens o protótipo (croqui), da cidade que seria construída na foz do
Ribeirão. Toda uma infraestrutura urbana seria instalada naquela localidade,
desde a construção de bairros, arruamentos, área de comércio, setor de
hospital, escolas e até áreas de lazer seriam construídas para abrigas as
centenas de famílias vindas de todas as regiões do Brasil e que dariam início a
um novo núcleo urbano fora do eixo da BR-364 e distante quase trezentos
quilômetros da capital do Estado, Porto Velho.
Se pode inferir que o
insucesso da empreitada do INCRA na foz do Ribeirão, se deveu à falta de
planejamento estratégico, pois a espinha dorsal do PIC Sidney Girão, a Linha D,
fora construída distante vinte quilômetros do pretenso núcleo urbano,
considerando-se também que nas proximidades da entrada da Linha D, já se
formara um núcleo urbano, a “Vila”, que mais tarde se tornaria a sede do
município de Nova Mamoré.
Com a instalação do PIC Sidney
Girão, dividido em centenas de lotes de
cem hectares, em pouco anos, a área de seringal foi sendo substituída pelas
pastagens e pela lavoura de subsistência, transformando a paisagem de “Mata
Virgem”, em áreas de campo aberto, onde
centenas de famílias foram instaladas, dando início a um novo ciclo econômico
na região.
Desde então, Nova Mamoré que
tem a quarta maior área geográfica do Estado de Rondônia é um caso de sucesso,
considerando-se que durante anos ficou isolada dos demais municípios
localizados no eixo da BR-364, tendo como única ligação terrestre, a capital do
Estado. Com a abertura da Estrada Parque em 2014, em decorrência da histórica
cheia do Rio Madeira, Nova Mamoré galgou novos patamares graças a sua gente
empreendedora e visionária que acredita nas potencialidades desta terra, “Berço
do Madeira”. A Estrada Parque permitiu que o produtor rural que tinha como
única alternativa escoar sua produção para o mercado consumidor em Porto Velho,
agora dispõe de novas rotas de comércio com os demais municípios da BR-364,
através do promissor distrito de Jacinópolis, permitindo que a economia do
município se fortalece e se diversifique, como agora vemos, com a lavoura
mecanizada em franca expansão.
Nova Mamoré que viveu o Ciclo
da Borracha, do Ouro e da Madeira e tem na agropecuária o motor de
sua economia, se projeta agora e com sucesso
em uma nova matriz econômica, a lavoura mecanizada, com excelentes expectativas
de ser o novo celeiro do Estado no setor, considerando-se a abundância de
terras férteis e a proximidade com o
porto graneleiro em Porto Velho.
O município que tem o
privilégio de ostentar o título de ‘Berço do Madeira”, pois esse majestoso rio
nasce em seu quintal, em Vila Murtinho, da junção dos rios Mamoré e o Beni,
boliviano, se coloca nestes trinta e três anos de emancipação
Político-Administrativa, mais uma vez como protagonista nesta área de fronteira
com todos os seus percalços e distante dos centros das decisões políticas do
Estado que sempre privilegiaram os municípios do eixo da BR-364.
Mesmo localizado nestas
distantes paragens, Nova Mamoré a partir de Vila Murtinho e do pretenso núcleo
urbano na foz do Ribeirão, desenhou e construiu sua própria história, com suor
e sangue dos pioneiros e desbravadores
que com coragem abriram no punho e no machado um “varadouro”, de Vila Murtinho
até às margens da BR-425, onde assentaram a pedra fundamental de uma “Vila”,
que se transformaria em município que mira sempre o progresso de sua gente de
berço e de coração.
(*) Simon Oliveira dos Santos,
professor, membro da Academia Guajaramirense de Letras, autor do livro “Trem
das Almas”.
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