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História

Novas Informações sobre a Madeira-Mamoré



ASIA COMENTADA
por Paulo Yokota


Mesmo para aqueles que conhecem razoavelmente o Brasil e a Amazônia, o livro “Trilhos na Selva”, de Rose Neeleman e Gary Neeleman, publicado neste ano pela Editora Bei (com ~ no i), em São Paulo, surpreende pelas informações documentadas que não eram de amplo conhecimento. Ele foi correspondente da United Press International no Brasil entre 1958 a 1966. Ainda que eu conheça a região, como o que resta da ferrovia Madeira-Mamoré, bem como tenha participado de empreendimentos de vulto na Amazônia, muitas das informações que constam deste importante trabalho adicionam aspectos novos sobre a epopeia de sua construção, com rica documentação em fotografias, recortes de jornais e diários dos participantes do empreendimento.

Rose Neeleman e Gary Neeleman moraram e trabalharam no Brasil, tendo outras publicações sobre o país. Eles estavam atrás de histórias dos confederados norte-americanos que imigraram para o Brasil, estabelecendo a cidade de Americana, no Estado de São Paulo. Eles encontram com uma moradora local, Judith Mac Knight Jones, um arquivo com 101 fotos de Dana Merrill, fotógrafo consagrado e oficial da ferrovia, bem como 10 edições do jornal em inglês The Porto Velho Marconigram de 1910/1911 muito bem conservados. Pertenceram a Oscar Lee Pyles, que morava em Americana e foi participar do projeto da ferrovia. Outros materiais que não se perderam estão no Museu Paulista da Universidade de São Paulo e um álbum montado por Dana Merril encontra-se na Biblioteca de Nova Iorque. Utilizaram, também, alguns depoimentos para escreverem este precioso livro, que deve ser lido por todos que se interessam pelos assuntos brasileiros.

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Fotógrafo Dana Merry à direita / Capa do do jornal em inglês, que circulou entre 1910 e 1911

 
 

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Transporte de bolas de borracha / Complexo Hospitalar de Candelária

Como todos sabem, a ferrovia Madeira-Mamoré decorreu do acordo diplomático que consolidou as fronteiras internacionais na região disputadas pelo Brasil, Bolívia e Peru e outro país independente que lá existia formada por Plácido de Castro, permitindo que a produção da Bolívia, principalmente o látex, fosse escoada, transpondo as muitas cachoeiras e corredeiras do rio Madeira, chegando ao rio Amazonas para ser exportada. Algumas destas corredeiras desaparecerão com os atuais projetos hidroelétricos. As condições adversas da floresta ceifaram dezenas de milhares de vidas na sua construção, principalmente com a malária.

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Cemitério da Candelária / Barco Estrada de Ferro Madeira-Mamoré


A borracha foi estratégica para a expansão da indústria automobilística, sendo a Amazônia a sua primeira grande produtora, que foi desbancada pela produção no Sudeste Asiático com mudas roubadas do Brasil, principalmente na Malásia. A Fordlândia foi um gigantesco projeto na floresta, mas a epopeia da construção da ferrovia a excede pelos dramas de sua construção, mostrando que um hospital de nome Candelária foi construído com 14 edifícios de madeira, com a capacidade para atender uma cidade de 75 mil habitantes. Na Segunda Guerra Mundial, com os japoneses dominando aquela região asiática, a Madeira-Mamoré voltou a ser utilizada.

A Amazônia sempre exerceu um fascínio sobre os norte-americanos, a ponto do presidente Theodore Roosevelt, junto com o marechal Cândido Rondon, liderar uma expedição pelo rio da Dúvida, acabando por contrair malária, falecendo precocemente em 1919, com 61 anos. A concessão da ferrovia foi dada ao empresário norte-americano Percival Farquhar, que conseguiu financiar o projeto internacionalmente, e utilizou a mão de obra liberada com a conclusão do canal do Panamá. Tornou-se o mais importante projeto ferroviário dos norte-americanos no exterior, percorrendo de Guajará-Mirim a Porto Velho, por mais de 300 quilômetros de floresta, num total de 366 quilômetros. A construção foi comandada pelo coronel George Earl Church, contando com a ajuda de alguns confederados norte-americanos.

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Km 76 da ferrovia / Ponte em Jaci-Paraná / Festa de inauguração em 1912 (Guajará-Mirim)

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Trem inaugural em Jaci-Paraná


Uma verdadeira Legião Estrangeira foi montada, com engenheiros norte-americanos e trabalhadores de diversas origens, inclusive chineses, alemães, centro-americanos e brasileiros tendo chegado a cerca de 10% de mortes entre os empregados, pela malária, chuvas tropicais, ataques de animais selvagens e toda a sorte de mosquitos.

As preciosas fotografias de Dana Merril foram levadas, junto com os jornais centenários, para a Universidade de Utah, que constaram que o fotógrafo utilizou uma incomum emulsão de prata que permitiu a sua preservação mesmo com a elevada umidade amazônica por mais de um século. Ele voltou aos Estados Unidos tendo se consagrado por trabalhos feitos para House & Garden, Vanity Fair e Vogue.

Além destas documentações preciosas, o livro contém descrições deliciosas da epopeia, muito em versos, como o Natal comemorado por empregados de diversas nacionalidades em plena floresta amazônica, outras dos riscos corridos quando se perdiam na mata, ou de jogos de todos os salários recebidos em ouro. Tudo de forma muito sintética, para uma leitura agradável dos leitores. É imperdível, e ensina muitas coisas desconhecidas de todos, inclusive de brasileiros informados sobre os dramas na Amazônia.

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