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História

Pioneiros lembram a Porto Velho que ficou para trás


 
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Mas há também os que vieram com uma missão: conquistar Porto Velho  e  fazer deste pedaço de terra o seu rincão, como o baiano Avelino Santa ou o cearense Francisco das Chagas Duarte. Porque não dizer dos que vieram mais tarde, atraídos pelos convites oficiais dos governos federal  e estadual.
 
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Avelino Santana estava só na Bahia. Já não tinha seus pais.  Um dia entrou em um ambiente em Salvador com paredes e cartazes coloridos e convidativos que faziam chamamento de homens para lutar pelo país nas selvas amazônicas. Isso era por volta de 1943. Pediu informações ao atendente e soube que os interessados seriam soldados e que tão logo a guerra acabasse seriam todos devolvidos ao estado de origem. Sem ter nada a perder e com a garantia da volta pra casa, chamou um amigo e combinaram que se alistariam. O prazo para a viagem seria de pelo menos uma semana, tempo que Baiano, como ficou conhecido, julgou suficiente para se preparar para a viagem. Mas qual, no terceiro dia após a inscrição foi convocado para embarque imediato. O amigo que havia assumido o compromisso de  viajar junto, desistiu na última hora.  A viagem foi longa. Primeiro de caminhão até Fortaleza, onde todos eram cadastrados como Soldados da Borracha, depois o embarque no navio Comandante Riper, que na costa do Maranhão sofreu um ataque e depois de quase um mês aportou na Baia de  Guajará, em Belém. “A viagem durou quase um ano, mas valia a pena porque a borracha da Amazônia ia servir para todos os aliados”, diz.
 
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Em Porto Velho, já capital do Território Federal do Guaporé, Baiano conta da tristeza em ver como as pessoas morriam. “Sobreviver era realmente um milagre”, sentencia. Segundo ele, Porto Velho era verdadeiramente uma calamidade. Destituído do título de Soldado da Borracha, Baiano fez o que pôde. Trabalhou na construção de campos de aviação, dirigiu caminhões, trabalhou na Madeira Mamoré, entre outras atividades. Para resistir a tantas provas, buscou amparo em uma família amazonense e constituiu família com Maria Rosilda Silva Santana, que chegou em 1947. Hoje, ele está com 89 – em abril completa  90, e ela está com 83. Ambos se queixam da falta de paz e sossego. “Um dia desses nossa casa foi arrombada durante o dia e levaram tudo que quiseram, a sorte é que não estávamos em casa”. Para ela, parte do encanto de Porto Velho foi sepultado junto com a paz e tranqüilidade que se vivia na cidade. 
 
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Raimunda Esteves de Souza, 85 anos, viúva, mãe, avó e bisavó desembarcou em Porto Velho em 1949, vindo de Manaus. O marido fora contratado para trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré, enquanto ela, alguns anos depois foi trabalhar na Escola  Carmela Dutra, na função de Inspetora de alunos. “Porto Velho era farto, ninguém precisava de grades em casa  e podia-se até dormir de portas e janelas abertas que não acontecia nada”, destaca. “Lá na Praça Marechal Rondon, se aparecesse algum desocupado era logo abordado pela guarda territorial que procurava saber de quem se tratava e o que queria, isso era muito bom”.  Mesmo assim, dona Raimunda diz que não passa pela cabeça dela morar em outro lugar que não seja Porto Velho.

O jornalista Euro Tourinho já passou dos 90 anos, 72 destes, dedicado ao Jornal Alto Madeira. Conta que praticamente viu Porto Velho nascer, pois chegou ao Santo Antonio do Madeira com a família em 1935, quando o pai, Homero de Castro Tourinho veio para atuar como agente fiscal de rendas pelo Mato Grosso. “Pra se comprar um quilo de carne era preciso ir ao mercado às quatro da manhã”. Acrescentando que era praticamente duas Porto Velho, a dos ingleses e a oficial. Para separar as duas havia um aramado.  Lamenta que com o passar dos anos a cidade tenha sido muito maltratada e hoje passe por uma situação caótica.  Para os administradores um conselho do quase também centenário jornalista: “Trabalho, honestidade e dedicação, isso não pode faltar na composição daqueles que se comprometem com o povo, seja pela eleição ou indicação”.
 
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Francisco das Chagas Duarte está prestes a completar 80 anos. Conta que em 18 anos que viveu no Ceará praticamente nunca viu a chuva encharcando o solo de Sobral, onde nasceu. Começou a trabalhar no transporte de burros, que trazia do sertão nordestino para puxar borracha nos seringais. Nos três anos de viagem para Porto Velho encantou-se com a chuva que aqui caia e um dia resolveu ficar. Tinha decido ser agricultor. Fez muitos negócios, ganhou dinheiro, mas não abandonou o transporte de burros. Era o responsável por levar até 200 animais para o interior do Acre, viagens que duravam de Porto Velho até o destino cerca de um mês, mas ficava feliz em retornar para Porto Velho, onde o lazer era o desembarque dos trens da Madeira Mamoré, por onde chegavam notícias, parte dos alimentos consumidos e muitas esperanças . “Tenho saudades daquele movimento em torno do trem, especialmente nos fins de tarde”,  destaca.
 
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Francisca Ludma Franco Assunção chegou no Mocambo aos 11 anos, vinda de Guajará-Mirim. Na juventude conheceu o Clube Imperial, situado na Almirante Barroso com José de Alencar nos arredores do Mocambo.  Na sua época, o melhor lugar para passear era o aeroporto.  Mas diz que ia muito pouco lá, porque começou a trabalhar no Hospital São José. Ela conta que apesar de algumas pessoas procurarem atribuir ao Mocambo a fama de bairro com muitos malandros, ela mesma  nunca sofreu nenhuma ação de desrespeito.  “Cheguei a ver nos tempos antigos gente correndo aqui da polícia, mas não faziam mal aos moradores”, recorda. Não tenho coragem de ir embora daqui, às vezes alguém me diz: – vende isso e compra um apartamento -, eu digo que não, quero ficar aqui até o fim de meus dias.

Na política diz que sente saudade de dois administrados, Jorge Teixeira, que visitava os pacientes do Hospital São José todas as segundas-feiras. “Era uma festa quando ele chegava e os pacientes se sentiam importantes pela preocupação do governador. Também gostei muito quando aquele Odacir Soares foi prefeito”. Na sua simplicidade diz que um administrador precisa de  competência e de sorte. Porto Velho podia estar melhor, mas parece que  faltou sorte para o nosso prefeito”. Mas apesar de todos os problemas da cidade, dona Ludma, como gosta de ser chamada,  entende que o Mocambo continua sendo um dos melhores lugares de Porto Velho para se viver.
 
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Yedda Borzacov nasceu em Guajará-Mirim e está em Porto Velho há, pelo menos, 71 anos. Historiadora, ela relata que o centenário de Porto Velho é uma oportunidade de se rever o patrimônio histórico do município, “há tanto ignorado”. Ela menciona o antigo prédio da Câmara de Vereadores, na ladeira da Rua José Bonifácio, que está sendo restaurado pela Câmara Municipal. “Assim como este,  outros patrimônios também poderiam ser restaurados”.

“Não sou saudosista, mas lembro como Porto Velho era mais cálida, mais agradável, com gente que amava essa terra e defendia seu patrimônio cultural. Hoje o que se tem é uma apatia geral, mas ainda há tempo de se recuperar e a hora é agora”.

O ano do centenário da capital rondoniense é muito curto, afinal tem Copa do Mundo e eleições gerais, mas ele já está acontecendo. Com o fim do período chuvoso várias obras deverão ser concluídas pelo governo do Estado, como as marginais da BR-364, chamadas de rua da Beira; a estrada do Belmont, onde ainda famílias precisam ser removidas para alargamento da pista. As obras da ponte sobre o rio Madeira que já foram retomadas e até mesmo a conclusão dos viadutos sobre a BR-364, prometem um novo tempo para Porto Velho. Novas turbinas da Usina de Santo Antonio entrarão em funcionamento, gerando mais receitas com a sua venda.

Fonte: Alice Thomaz
Fotos: Marcos Freire
Fonte: Decom

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