Sexta-feira, 26 de julho de 2024 - 14h04
Rogério Weber era um jovem de
19 anos quando sofreu um acidente de moto na estrada que hoje tem seu nome, no
centro da Capital de Rondônia. Um jovem
igual a tantos outros, mas filho do primeiro comandante do 5º Batalhão de
Engenharia e Construção – 5ºBEC, Coronel Carlos Aloísio Weber, gaúcho, um dos
primeiros a instalar-se na Amazônia e que tinha como missão transformar a
região.
O lendário coronel tem uma
marca na história, para alguns o imponente, para outros o desbravador. O legado
de Weber rendeu uma homenagem do Ministério do Exército, através da Portaria
No. 363, de 14 de julho de 1999, que determinou a denominação do quartel, que
passou a chamar-se de “Batalhão Cel. Carlos Aloísio Weber”.
Um ato de imponência foi
registrado em uma entrevista realizada em 1971, quando ao ser questionado sobre
a ocupação da região pelo repórter da revista Realidade sobre a Amazônia, o
mesmo respondeu: - Como você pensa que nós fizemos 800 quilômetros de estrada?
Pedindo licença, tchê? Usamos a mesma tática dos portugueses, que não pediam
licença aos espanhóis para cruzar a linha de Tordesilhas.
Como desbravador consta nos
registros do Batalhão a Portaria Ministerial, que reconhece como denominação
histórica o "BATALHÃO CEL CARLOS ALOÍSIO WEBER e um respectivo estandarte,
uma forma de exaltar os militares que trabalharam na implantação da unidade
“precursora do desbravamento da Amazônia e dos desafios da Engenharia Militar
Brasileira".
O Batalhão com sede em Porto
Velho, foi criado pelo Decreto Número 56.629, de 30 de julho de 1965, que
determinava extinto o Batalhão de Serviço de Engenharia, do 1º Grupamento de
Engenharia, com sede em Campina Grande – PB e criado o 5º Batalhão de
Engenharia de Construção, com sede em Porto Velho - RO. O Ministro da Guerra
foi responsável pelas medidas administrativas de transferência do acervo do
Batalhão de Serviços de Engenharia do 1º Grupamento de engenharia para o 5º
Batalhão de Engenharia de Construção.
No ano de 1966 recebeu entre
as missões os encargos administrativos da Estrada De Ferro Madeira-Mamoré,
erradicada pela RFFESA em maio/66 através do Decreto presidencial de n° 58.501.
A instituição também teve fundamental importância na execução da pavimentação
asfáltica da BR-364.
A ousadia do coronel rendeu a
homenagem com o nome da rua em alusão a perda do filho em um acidente ocorrido
nas proximidades do Batalhão. O pedido feito pelo prefeito da época Jacob
Atalah, foi apreciado e aceito por unanimidade pela Câmara de Vereadores de
Porto Velho, que estava em seu primeiro exercício.
O saudosista, Anísio Gorayebe,
que foi amigo de Rogério, conta que era um rapaz comum, com “hábitos não muito
salutares”, gostava de boemia e um pouco rebelde, mas o pai dele tinha
prestigio na cidade, pelos serviços prestados, e foi uma forma de reconhecimento
a família.
Uma testemunha chamada Alarcão
A atual rua Rogério Weber nem
sempre foi um caminho reto que ligava a região norte ao sul da Capital. O
jornalista e memorialista Anisio Gorayebe conta que o norte da rua já foi
chamado de Curral das Éguas, era onde as pessoas da ferrovia guardava os
animais; entres os anos de 50 a rua no percurso que compreendia da Pinheiro
Machado até próximo a 7 de Setembro, já se chamava Major Guapindaia, denominada
antes da criação do Território Federal do Guaporé.
Gorayebe acredita que com a
chegada do 5° BEC era necessária uma rua para ligar a cidade até o quartel e
essa rua foi estendida da Pinheiro Machado ao quartel, “por sinal a maior rua
da cidade que chamávamos de Norte Sul, e um ano e meio depois com a morte do
Rogério Weber a avenida recebeu o novo nome em homenagem ao pai do jovem –
conta Anysio Gorayebe
Rogério Weber tinha muitos
amigos saudosistas, mas quem estava presente no dia do acidente era o
empresário Sidney Alarcão, que mora atualmente no Rio de Janeiro. Sidney
acompanhado de um soldado do BEC chamado Euclides, que trabalhava com o pai,
Sidney Alarcão, na época capitão engenheiro e hoje coronel engenheiro
reformado, viu o intrépido Rogério Weber perder a vida.
A compra da motocicleta
Alarcão começa a história
contando sobre o pivô do acidente: a curiosidade dos jovens para pilotar uma
Harley Davidson Italiana. Segundo ele essa história começa no final de março e
início de abril de 1970, quando a Zona Franca de Manaus tinha sido expandida
para alguns produtos, como caminhonete, motocicletas, máquinas, equipamentos e
outras coisas para a área de abrangência da Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (SUDAM), e Porto Velho foi agraciado com a medida.
De acordo com o saudosista,
diversas pessoas compravam produtos de Manaus, principalmente motocicleta, e
isto impulsionou a chegada das primeiras motocicletas em Porto Velho. “Meu avô
foi nos visitar nessa época e encontrou em Manaus um amigo dele chamado Souza
Arnold e ele disse que tinha recebido a representação da Harley Davidson
Italiana para Manaus. Nessa conversa, meu avô gostava de moto e meu pai também,
ele olhou as motos e por isso ficou e veio para Porto Velho. Chegando em Porto
Velho conversou com meu pai que se interessou também, e na volta ao invés de ir
por Cuiabá-MT ele foi por Manaus, onde pegava o Corujão e ia direto para o Rio
de Janeiro. Em Manaus ele conversou com o amigo e comprou uma Harley Davidson
350 italiana. Meu vô acertou com Souza Arnold para despachá-la para Porto
Velho” - conta Alarcão sobre a aquisição da motocicleta que Rogério conduzia no
dia do acidente.
Essa motocicleta chegou no
Porto do Cai N´água em Porto Velho no dia 27 de maio de 1970, recebida pelo pai
de Alarcão e foi guardada em um dos galpões da Ferrovia Madeira Mamoré, pois a
mesma estava desmontada. Ninguém da família ficou sabendo da existência da
motocicleta.
Em Porto Velho apenas uma
pessoa montava esse tipo de motocicleta, um boliviano, conhecido como Espanhol.
O pai de Alarcão contratou o serviço, mas não queria levar a moto para loja
porque era uma surpresa para a família, então o profissional foi até o galpão
onde montou a motocicleta. “Ele nunca tinha montado este tipo de motocicleta,
então ela ficou com uma série de problemas, um deles era que ela falhava muito
e demorava a dar partida, e vez por outra morria” – explicou Alarcão.
No dia 02 de junho Alarcão
[pai] foi buscar a motocicleta dentro do galpão da Madeira Mamoré para guardar
na casa de um amigo proprietário de uma empresa de táxi aéreo que ficava no
aeroporto do Caiari, lá a moto ficaria até o aniversário do filho Sidney
Alarcão, dia 11 de junho de 1970. Quando o Alarcão [pai] fazia o percurso para
chegar a casa do empresário, no trecho da esquina da então Major Guapindaia com
a Duque de Caxias, a moto deu problema e não quis mais funcionar. “Ele encostou
a moto numa calçada e foi pra casa almoçar normalmente. O segundo expediente do
Batalhão começava as 14 horas” – lembra o filho.
Quando o capitão Alarcão saiu
para o trabalho com pouco mais de 5 minutos o jovem Rogério Weber chegou
acompanhado de um amigo, Manoel Costa Mendonça, o Manelão, e indagou sobre a
moto e o local onde estava, mas Alarcão [filho] não sabia da aquisição do pai e
eles alegavam que o mecânico Espanhol havia contado que havia montado uma moto
para o pai de Sidney. “Ele entrou foi lá na garagem olhou, olhou em volta da
casa e viu que não tinha, e ninguém lá em casa sabia da existência da moto.
Então ele disse que ia ao quartel falar com meu pai, e eu aproveitei para dizer
que se houvesse moto me levassem para ver” – lembra Alarcâo.
Rogério e Manelão pediram a
chave da moto para o pai de Allarcão, que inicialmente não quis dá, mas na
insistência cedeu achando que a moto não ia funcionar, ou não ia muito longe.
“Eu sabendo que eles não iam me levar, por eu ser um pirralho, me vesti e corri
para uma pedra que tinha na saída do Batalhão, na Rua Norte Sul e fiquei
sentado esperando eles passarem. Eles passaram e estavam com a chave na mão e
perguntaram se eu queria ir ver. Eu entrei no banco de trás do fusca” - disse
Allarcão.
No meio do caminho o jovem Manelão deixou Rogério com Alarcão para realizar um serviço ordenado pela mãe, e os dois seguiram a pé até a moto. Quando viram a moto ficaram entusiasmados, mas não conseguiram fazer a moto funcionar. Por volta das 17 horas o pai de Alarcão pediu ao auxiliar Euclides para ir ver o que estava acontecendo, pois os jovens não haviam retornado, e o compromisso do Rogério era levar a moto para o quartel. Com a ajuda do auxiliar a moto funcionou, mas falhava muito e o auxiliar decidiu reconduzir Alarcão de carro, enquanto o Rogério seguiu de moto para o quartel.
O acidente
No retorno para o batalhão, na esquina da Sete de Setembro com a então Norte Sul, a moto parou de funcionar, mas Rogério deu partida e logo pegou, não tinha partida elétrica, era pedal. Rogério pediu que o seguissem porque achava que não ia chegar ao quartel de moto devido as falhas constantes.
Quando passaram pelo trecho da estrada que vai para o cemitério Santo Antônio, passaram dois carros por eles e levantou uma nuvem de poeira que tirou completamente a visibilidade dos condutores. O jovem que estava na moto não usava óculos, nem capacete, pois não era comum o uso naquela época. Ele reduziu a velocidade, mas neste ínterim sai do batalhão um caminhão basculante que recolhia o lixo nas Vilas de sargento e oficiais do batalhão, e a falta de visibilidade de ambos resultou na colisão da moto com a lateral do caminhão. “A moto deitou e passou por baixo do caminhão, e o Rogério voltou para trás. Nós estávamos há uns 30 a 40 metros atrás dele. Paramos. E o Rogério ainda estava falando. Dizia que estava com muita dor na barriga. Houve tumulto, era final de expediente. Colocamos ele dentro do carro e levamos para o hospital, onde hoje é o hospital da Guarnição” – conta Alarcão lembrando que o jovem foi retirado do carro em uma maca e levado para a sala de cirurgia.
Alarcão ficou no hospital acompanhando o atendimento, um médico chegou rapidamente pra atender, mas o rapaz faleceu no centro cirúrgico. “Eu fiquei sem entender, não acreditava que era algo grave. Naquele dia e eu não sei nem quem me levou para casa” - comenta Alarcão. Rogério weber, filho do Coronel Carlos Aloísio Weber, foi enterrado no cemitério Recanto da Saudade, construído pelo Batalhão em 1970 que fica nos fundos do quartel, próximo a BR 364.
O Nome da Rua e a capa de um processo
Na versão de Sidney Alarcão para se chegar à REO [Residência Especial de Obras], nome dado ao conjunto de vilas que atendia os sargentos e oficias do Batalhão, no final de 1966 e início de 1967, havia um caminho tradicional que era pela avenida Prudente de Morais, Estrada de Santo Antônio e pegava aquele trecho da Santo Antônio até REO atual.
No início de 67 o Ministério da Saúde e o Ministério do Interior tinha um problema seríssimo de endemia de malária e hepatite com surto em Porto Velho, e os técnicos da CEM [Campanha de Erradicação de Malária] identificaram que o bairro Baixa da União era o foco principal de proliferação, havia casas feitas em palafita que ficavam com água parada em baixo acumuladas por meses.
Ministério do interior e Ministério da Saúde firmaram um convênio com o BEC para retirar o pessoal do lugar, por medida sanitária e colocar em outra área. Foi disponibilizado pela prefeitura duas áreas, onde atualmente é o bairro do Tucumanzal e outra bairro da Liberdade, e alocaram recurso para o BEC realizar o trabalho. “O batalhão foi rapidamente fazer o trabalho. Abriu ruas, colocou energia, água e construiu casas, que era de alvenaria na frente e madeira atras. Ainda cheguei a ver algumas dessas casas quando estive em Porto Velho” – lembra Alarcão
Segundo ele após transferir as pessoas de lugar a Baixa da União foi aterrada, e foi aberto um caminho de serviço que chamaram Norte Sul, “mas que era o nome da capa do projeto de engenharia do caminho de serviço que ligava a Sete de Setembro a então REO” – explica Alarcão. Foi seguido o plano diretor até a Alexandre Guimarães, depois fez um pequeno desvio por causa da Usina de Borracha e prosseguiu ligando com a Norte Sul inicial.
“E esse caminho do serviço ficou por algum tempo lá de 67 até 73, se não me engano, anos depois já não justificava o BEC ficar com manutenção daquele caminho do serviço, já era uma rua da cidade, e o BEC pediu ao DNER para transferir aquele ativo [caminho] para a prefeitura” - justificou.
Os vereadores da primeira legislatura de Porto Velho resolveram então pelo nome do jovem Rogério Weber, que havia se acidentado naquela rua e era de uma família importante para a cidade na época, foi feita a moção na Câmara e aceito por unanimidade. “Então Norte sul era o nome que tinha na capa do processo. Eu só não entendo porque pegaram aquele pedacinho que se chamava Major Guapindaia, que ligava a Pinheiro Machado até Sete de Setembro, e concluíram com Rogério Weber” – opinou Alarcão
Foto: Arquivo da família Alarcão/Na foto o Capitão Alarcão e Rogério Weber no ano de 1969
Pesquisa e Texto: Aurimar Lima, jornalista e historiadora
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