Segunda-feira, 21 de janeiro de 2019 - 12h30
Por Humberto Pinho da Silva
Certo dia, Isaura
Correia Santos, indignada com certa articulista, que escrevera: “ As mães
portuguesas oferecem os filhos, para defenderem a Pátria”, resolveu
publicar crónica, afirmando: que era mãe e portuguesa, e não “ oferecia” o
filho para ir para a guerra.
Mal sabia a ilustre
escritora, que o desabafo, iria desencadear enxurrada de impropérios.
Foi enxovalhada, e
houve até, quem rebuscasse sua vida particular, descobrindo, no passado, motivo
para a insultar, como mulher e cidadã.
Isaura Correia
Santos nasceu a 1914, em Alegrete, em plena planície alentejana. Ainda menina
(17 anos,) casou com o pintor Abel Santos. Cedo se dedicou às letras,
tornando-se conhecida, como autora de livros para a infância.
Suas crónicas,
sempre interessantes e incisivas, apareciam, principalmente, in: “ O Comércio
do Porto”, e “ Republica” .
Foi colaboradora da
BBC. Notável conferencista; e o Governador do Texas, concedeu-lhe o honroso título
de cidadã honorário desse Estado Americano.
Nas tardes de
sábado, reunia, na sua casa, na Praça da Galiza, no Porto, intelectuais e
amigos. O chá, que servia em xícaras de fina porcelana, todas diferentes, mas
todas de grande beleza, ficou famoso no meio artístico portuense.
Uma manhã, ao
regressar de Soutelinho (Povoa do Varzim,) sofreu grave acidente.
Visitei-a na Ordem
da Trindade. Recebeu-me a Filó - empregada e amiga, que nunca a abandonou.
Isaura Correia Santos,
falou-me do acidente e da forma carinhosa como as irmãs (freiras) a tratavam.
Disse-me, então, à
puridade: “ Os olhos, agora, começam a ver o interior. Compreendo melhor a Vida
e Seus mistérios…”
Admirava o Padre
Cruz, e confiava em Deus, apesar da pouca fé que possuía.
Noutra ocasião,
afirmou:
“ Este acidente
fez-me compreender o que nunca havia conseguido alcançar. Tenho rezado muito…”
A escritora, que se
notabilizou com a obra: “ O Senhor Sabe Tudo Contou”, recebeu o prémio: Maria
Amália Vaz de Carvalho.
Numa manhã fria de
Fevereiro, do ano de 1989, fui visitar Frei Martinho Manta. Logo que me viu,
disse-me, compungido:
- “ Sabe quem
morreu?! …Uma grande Senhora do meu Alentejo: a escritora Isaura Correia
Santos! …”
Antes de falecer,
confidenciou, na Ordem do Carmo (onde estava hospitalizada,) a amiga: que não
receava morrer – até desejava, – visto gora acreditar numa outra Vida, e
principalmente na misericórdia divina.
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