Domingo, 19 de abril de 2020 - 09h08
Bagé, 25, 08.04.2020
Como uma leoa deitada e da mesma cor irada o pelame, a colina
famélica. Em seus lombos terrosos, disseminados em uma ordem indecifrável,
grosseiros montões de pedras: o cemitério dos hunos brancos. As vezes um adejo
azul e rápido: um pássaro, único luxo em tanta morte. (Sharj Tepé)
A Federação n° 44
Porto Alegre, RS ‒ Quarta-feira,
21.02.1894
História do Sítio de
Bagé
Ao Público
Estiveram encarregados do serviço
médico das ambulâncias, os distintos médicos Drs. Lybio Vinhas e Carnaúba, que,
com o maior desvelo, solicitude e dedicação, auxiliados pelo nosso companheiro
o farmacêutico Martiniano Antonio Meirelles, prestaram aos infelizes feridos os
seus profícuos e luminosos socorros. À proporção que a luta crescia, maior era
o entusiasmo que dominava a intrépida guarnição encarregada da defesa da praça
de Bagé. As tentativas e investidas do inimigo, foram sempre repelidas
galhardamente pelos disciplinados e valorosos soldados e oficiais do 31° Batalhão,
e contingentes dos diversos Corpos que guarneciam a praça.
Durante todo o dia 24, o inimigo
fez fogo nutridíssimo para o interior da praça de guerra, respondendo esta com
intermitências, pelo fato de nem sempre poderem ser descortinadas as posições
do inimigo.
Um menino que se encaminhava para
a praça, foi morto nesse dia por uma bala dos atacantes.
O tiro foi disparado
propositalmente, por pensarem eles que essa criança era encarregada de
levar-nos qualquer comunicação.
À tarde caiu morto na trincheira
de um pátio fronteiro à tipografia do “Quinze
de Novembro” o valoroso Alferes do 31° de Infantaria, Vicente de Azevedo.
Pela seteira por onde atirava nutridamente
sobre o inimigo, alojado naquela tipografia, entrou a bala que, ferindo-o no
nariz e testa, prostrou-o instantaneamente morto.
O Alferes Vicente, um dos mais ilustrados
e distintos oficias do 31° Batalhão e estimadíssimo por seus camaradas e comandantes
estava para contrair núpcias com uma distinta jovem de nossa melhor sociedade,
cujo desgosto foi tal, que até hoje seus dias estão em perigo.
O fogo dos inimigos vae pouco a pouco
cessando. Ao escurecer, a fuzilaria dos assaltantes emudece.
Nesse dia a artilharia fez muitos
disparos.
Às 10 horas da noite recomeçou novamente
a força contrária a fazer contínuas descargas para dentro da praça.
A guarnição, firme em seus postos,
recebeu ordem do Coronel comandante para não responder ao fogo; despeitado por esta
demonstração de pouco caso, o inimigo redobrou de esforços, lançando sobre nós uma
verdadeira saraivada de projetis.
Na madrugada do dia 25, as trincheiras
começaram a responder ao fogo dos sitiantes. Pela manhã a artilharia fez vários
disparos.
Às 8 horas, uma família que
debaixo de balas conseguiu chegar à praça, trouxe notícia de que na cidade o
saque prosseguia desenfreadamente e sem embaraços.
Da torre da matriz as nossas
sentinela viram e noticiaram que muitas forças inimigas, abandonando o acampamento
do Quebraxinho, passavam em direção ao Pirahysinho.
Há três dias hoje que a heroica guarnição
de Bagé, auxiliada pelo Partido Republicano em armas, oferece brilhante e viva resistência
aos atacantes que ousaram vir sitiá-la, talvez contando, esses bandidos, com
uma capitulação imediata.
Mas a guarnição prefere morrer à fome
a render-se aos inimigos da Ordem e do Progresso desta terra. A guarnição está
firmemente resolvida a não ser prisioneira dos bárbaros degoladores do Rio
Negro!
Às 11 ½ horas do dia o inimigo fez
uma tentativa de assalto, atacando os muros das casas da praça que fazem fundos
à rua General Osório. Esses muros, defendidos pelos valente corpo ao mando do Tenente-coronel
Corrêa, Força do Major Cândido Bueno e contingente do Corpo de Transporte, foram
reforçados por uma força deste último e romperam gravidíssimo fogo contra os
assaltantes, que desistiram da tentativa.
Poucos momentos antes o Coronel Telles
tinha mandado uma Força de infantaria desalojar o inimigo que se entrincheirara
na tipografia do “Quinze de Novembro”,
à rua General Osório.
Do encontro renhido das duas
forças, resultou a perda de seis inimigos, entre os quais um Alferes, no bolso
de cuja blusa foram encontradas as duas notas seguintes, uma dos nomes de republicanos
que deviam ser degolados, e outra das casas que deviam ser saqueadas. Os nomes
eram:
Tenente-coronel Manoel Corrêa dos Santos;
Capitão Manoel de Vargas;
Major Cândido Bueno;
Tenente-coronel Cândido Garcia, Acácio Garcia e
Tenente-coronel Lupi, mortos no Rio Negro;
Dois irmãos Monteiro, de D. Pedrito e as
Casas dos Srs. Luiz Cantera;
Paschoal Boero;
Antonio N. R. Magalhães;
José e Pantaleão de Llano;
José Lopes Villamil.
Na mesma nota havia mais cinco nomes
sem designação, escritos a lápis e de letra ininteligível e já apagada. Apenas
pudemos ler o nome de Serafim.
Fomos informados, e esta notícia corria
com insistência, que muitos oficias dos bandidos traziam em listas os nomes dos
republicanos contra quem havia ordem de degola, por parte dos chefes.
Durante o dia continuou o fogo
para o interior da praça, cessando ao escurecer, e recomeçando com intensidade às
10 horas da noite, prolongando-se durante todo o dia de 26.
As forças que defendiam a praça, sempre
que achavam favorável ensejo e que podiam recolher resultado, respondiam; à
fuzilaria inimiga.
Nas ambulâncias estabelecidas na igreja
matriz e numa casa contigua à arrecadação do 4° Regimento de Artilharia, os
feridos apresentavam sensíveis melhoras, sendo de momento a momento visitados
carinhosamente pelos dois ilustres e dedicados facultativos Drs. Lybio Vinhas e
Carnaúba, que com a maior solicitude empregavam todo o esforço para conservar
os preciosos dias dos servidores da República.
O fogo durava há quatro dias e quatro
noites consecutivas e, no entanto, a guarnição não sofreu um único instante de
desânimo.
No dia 26, pela manhã, os inimigos
fizeram uma pomposa exibição de suas forças, fazendo-as passar em coluna
cerrada do acampamento do Quebraxinho para o do Pirahysinho e conduzindo imensas
cavalhadas. Calculamos que passassem uns 3.000 homens.
À tarde foi ferido na boca, por
uma bala, o distinto 1° Tenente de Artilharia Alfredo Rodrigues Pires.
A população de Bagé assistiu, dolorosamente
assombrada, à 1 hora da noite desse dia, ao espetáculo mais horrivelmente
desolador que é possível conceber-se, e que constitui a nota característica e
expressiva dos sentimentos e intuitos dos bandidos da revolução.
A horda de incendiados, em desespero
de causa, irritada pela insuperável resistência que lhes oferecíamos, lançou fogo
a diversas casas, com o duplo intento de satisfazer os seus desejos de destruição
e de apavorar-nos em face de tão hedionda malvadez.
Volutas enormes de fumo negro subiam
aos ares empanando o brilho das estrelas e os rubros clarões do incêndio lambiam
o espaço, tingindo todos os objetos de uma luz sanguinolenta e sinistra.
Os madeiros estalavam, os vidros derretiam-se,
de espaço a espaço soavam medonhas detonações, acompanhadas do fragor violento
do incêndio e do calor esbraseante que, apesar da distância, chegava-nos ao
rosto.
Nessa noite o fogo foi ateado nos seguintes
edifícios, que ficaram completamente reduzidos a cinzas: magnífica residência
do nosso amigo Dr. Bernardino de Senna Costa Feitosa, juiz de direito da
comarca, e cuja construção importou em 20 contos de réis; o vasto armazém e loja
de fazendas do negociante José Pinto de Montes Sarmento, à rua 7 de Setembro, e
o sobrado à rua General Osório, onde funcionava a secretaria do 4° Regimento de
Artilharia.
Mulheres e crianças, abandonando
precipitadamente os leitos onde repousavam os fatigados corpos, corriam espavoridas
pelas ruas em altos gritos e buscando refúgio na praça; os bandidos,
aproveitando o terror espalhado pelos incêndios, arrombavam portas, tentavam
atear novos focos de destruição e saqueavam quanto podiam. [Continua] A
FEDERAÇÃO N° 44.
Bibliografia:
A FEDERAÇÃO
N° 44. História do Sítio de Bagé ‒ Brasil ‒ Porto Alegre, RS ‒ A Federação n° 44,
21.02.1894.
Solicito Publicação
(*) Hiram
Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
·
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
·
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
·
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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