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Baixa do rio Amazonas indica seca mais severa que a de 2005



 
Reynaldo Victoria, da USP, afirmou que período de pode estar sendo afetado pelas mudanças climáticas. O cientista ressalta que a decomposição natural também é combustão.


Ana Paula Freire, especial para o D24AM

A Amazônia brasileira pode enfrentar uma seca mais severa do que a de 2005 caso o rio Amazonas continue baixando. A “luz amarela” acendeu após a confirmação de que, na região de Iquitos, no Peru, foi registrada na terça-feira, 1, a maior baixa em 40 anos. Os números são impactantes: com 105,97 metros acima do nível do mar, o rio Amazonas já estava 50 centímetros abaixo do atingido em 2005.

Naquele ano, boa parte da Amazônia – principalmente o sudoeste do Amazonas e o Acre – sofreu grandes impactos. Para esclarecer as possíveis causas, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPETC) e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) divulgaram um comunicado afirmando que não havia evidências de que a seca fosse um indicador de mudanças climáticas na região, associadas ao desmatamento ou aquecimento global.

“A Seca de 2005 parece ser parte de uma variabilidade natural de clima, onde (SIC) anos secos e úmidos alternam-se na escala interanual”, dizia o comunicado (ainda disponível no site Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpe). Hoje, cientistas que estudam os sistemas fluviais da Amazônia não descartam a hipótese de que a ocorrência de eventos extremos possa estar relacionada às mudanças climáticas.

Em entrevista por telefone ao Portal D24AM, Reynaldo Victoria, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (Cena/USP), afirmou que tanto o período de seca quanto o de chuvas possivelmente estão sendo afetados pelas mudanças climáticas. “Esses eventos são naturais, mas a intensificação deles pode ter sim uma relação com as mudanças climáticas. Na hora em que começar a chover, provavelmente teremos muito mais chuvas também”, disse o cientista, especialista em hidrologia.

Com a intensificação das secas, há um aumento da decomposição natural de matéria orgânica da floresta. “Quando tem uma seca, normalmente duas coisas estão acontecendo: queda maior de folhas e aumento da morte natural de árvores, ou seja, matéria orgânica morta na superfície do solo. Com o solo na temperatura mais alta, a decomposição é mais rápida. Isso é o que eu chamo de consequência externa das mudanças climáticas afetando a Amazônia”.

O cientista ressalta que a decomposição natural também é combustão, só que mais lenta. Significa dizer que, se as mudanças climáticas acontecerem tal qual estão previstas, com eventos de secas cada vez mais freqüentes, haverá um aumento crescente na mortalidade de árvores. “É uma consequência natural, que ocorrerá mesmo que a gente pare de desmatar a Amazônia. Então, é fundamental diminuir o desmatamento da floresta, para minimizar os efeitos naturais”.

Emissão de CO2

Reduzir o desmatamento significa mitigar a combustão “provocada”, proveniente das queimadas, o que reduziria exponencialmente a emissão de CO2 na atmosfera. Artigo publicado na revista Science, no ano passado, apontou que a seca de 2005 na Amazônia provocou evasão “gigante” de CO2, confirmando que a floresta é realmente vulnerável a altas temperaturas mais elevadas .

De acordo com o estudo, a emissão de gases do efeito estufa em 2005 superior as emissões anuais combinadas da Europa e do Japão naquele ano. "A Floresta Amazônica foi surpreendentemente sensível à seca", disse, à época, Oliver Phillips, professor de ecologia tropical da Universidade Leeds (Inglaterra), responsável pelo levantamenro.

Para se ter uma ideia do estrago, se a floresta absorveu em média 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano desde a década de 1980, como estimam os autores do artigo, perdeu no mínimo 3 bilhões na seca de 2005, que matou árvores e retardou o crescimento das plantas. O estudo, que envolveu 68 cientistas, apontou um impacto total de 5 bilhões de toneladas adicionais de CO2 na atmosfera.

Em seu relatório de 2007, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) projetou que o aumento das temperaturas pode provocar mais secas e “levar a uma substituição gradual da floresta tropical pela savana”, na Amazônia oriental até meados do século. Por sua vez, se o clima se tornar mais seco, as florestas tropicais podem acelerar o aquecimento global, devido ao seu importante papel de regulação do clima mundial.

“As mudanças climáticas são uma realidade e a intensificação do efeito estufa é uma das causas desse processo, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis e ao avanço da agricultura e do desmatamento. O efeito estufa é um é um efeito natural, mas se intensificado, provoca o aquecimento do planeta. Temos que parar de desmatar. Caso contrario, estou seguro de que boa parte da Amazônia realmente se transformará em savana”, concluiu Reinaldo Victoria.
 

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