A falta de chuva em Roraima mostra uma paisagem desoladora. A queda do nível dos rios deixa transparecer bancos de areia, antes encobertos pelo volume normal das águas e barcos encalhados por não conseguirem trafegar no nível baixo do rio, que não chega a 3 m. Segundo perspectivas dos componentes do Gabinete Emergencial, criado para combater a estiagem, a seca deve ser confirmada até março como uma das piores dos últimos anos, trazendo forte prejuízo à economia do Estado, abatendo principalmente setores como agricultura e a pecuária, com a morte de animais e queimas incontroláveis nos municípios. Hoje mais de 20 mil roraimenses sofrem com a forte estiagem. Sete dos 15 municípios já decretaram estado de emergência e outros três estão em processo de análise pelos Bombeiros para também decretarem calamidade pública, devido aos prejuízos provocados pela seca. A Defesa Civil instalou uma base em cada um dos municípios que decretou situação de emergência. Semanalmente são enviados à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) relatórios informando as ações realizadas para amenizar o sofrimento da população que está sem água potável. Em alguns dos municípios, a Defesa Civil do Estado é quem faz o abastecimento de água potável nas residências, com um carro pipa. Em outros municípios, o poder público ou os moradores perfuram poços artesianos em busca de água. "A falta de água é o principal problema, por isso trabalhamos ativando poços artesianos e perfurando novos poços. Quem sofre mais, recebe prioridade", disse o coronel Paulo Sérgio, comandante da Defesa Civil. "No que diz respeito aos incêndios eles vem aumentando de forma gradativa conforme o calor aumenta. Mas vamos aumentar o numero de bases montados e trabalhar em parceria com as brigadas do Ibama, além de fazermos um relatório social para levantar famílias mais carentes que precisam ser beneficiadas com cesta básica", disse. Para não ficar sem água em casa, a microscopista e proprietária de um comércio na localidade do Roxinho, município de Mucajai, Maria Salete Ferreira Lima, 26 anos, também escavou um poço. "Faz muito tempo que aqui não chove. Escavamos um poço para não ficarmos sem água. Nem mesmo a grande profundidade garante isso. Periodicamente temos que cavar mais para não passar sede, e nem assim a água é de ótima qualidade. Para os animais não morrerem de sede, seremos obrigados a mandar escavar um cacimbão", disse Maria Salete, mãe de quatro filhos entre 3 e 11 anos. Já a agricultora Gracieli Carlos Rodrigues, 32 anos, ao lado da filha de apenas 3 anos, disse temer que suas 15 cabeças de gado morram. "Assim como meus vizinhos, eu não tenho condições de contratar uma empresa para cavar um poço. Estou desesperada. Já não tenho muito e a qualquer momento posso perder tudo." Em São João da Baliza, no sul do Estado, além da falta de água, as safras de banana, arroz e milho estão comprometidas. Até a usina de beneficiamento de arroz da cidade está fechada porque não conseguiu produzir por falta do grão, devido à escassez de água. Em Caroebe, outro dos municípios onde foi decretado calamidade pública, parte da plantação de banana está prejudicada por causa da seca do rio de mesmo nome, que abastece a cidade. Outros rios menores da região igualmente estão secos. Para a falta de água aos animais, que consequentemente perdem peso, as equipes realizaram um cadastramento dos produtores rurais. Os colocados numa lista de prioridade recebem em suas propriedades a construção dos bebedouros para os animais, conhecidos como "cacimbões", uma espécie de açude um pouco menor. Com relação à perda da produção da safra agrícola, comercial e de subsistência, que implica na falta de alimento aos moradores das vicinais, o comandante da Defesa Civil disse que um relatório social dessas famílias é elaborado com a realização de um trabalho de campo. O documento será encaminhado a Brasília para que o governo federal se responsabilize pela distribuição das cestas básicas. O analista ambiental da Fundação Nacional do Meio Ambiente, Ciências e Tecnologia (Femact), Ramom Alvez, disse que o clima quente em Roraima nos próximos três meses não vai amenizar e a previsão é que a situação possa a se equiparar a da grande seca ocorrida em 2003. "Foi feita uma comparação e verificou-se que naquela época de grandes incêndios e seca, ocorreram mais chuvas do que neste período. Então o verão será mais rigoroso que aquele período. Por conta dessa preocupação é que todos os órgãos e instituições se reuniram para tentar controlar as queimadas e evitar que ocorram tragédias devido aos incêndios." Ramom disse que o boletim meteorológico foi apresentado na reunião do Gabinete Emergencial. A previsão para os próximos três meses para Roraima é que as chuvas ocorram abaixo do normal neste período. As previsões são de intensificação do Fenômeno El Niño até maio e de chuvas ainda abaixo da média na bacia do rio Branco. O fenômeno é responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, elevando a temperatura na Região Norte, trazendo a seca e levando as chuvas para a Região Sudeste. "A previsão é que as chuvas fiquem abaixo de 100 mm e cheguem até 70 mm. O período chuvoso começa somente em maio e o inverno anterior foi bem menos chuvoso que este ano. Não armazenamos água suficiente para combater a seca", disse.
(Fotos: Cyneida Correia)
(Fonte: De olho no tempo, com informações Terra)
Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)