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Meio Ambiente

Estiagem deixa casas 'flutuantes' no chão em Manaus (AM)


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Cheira a queimado, há fumo no ar e pequenas labaredas na mata. Para a nova colheita, a maioria dos agricultores da Amazónia lança fogo ao terreno para que o "roçado" volte a ser fértil. Planta- -se mandioca, que este ano está com uma "praga" de minhocas devido à seca. A floresta, nas margens dos rios amazónicos, está árida e desgastada da exposição ao sol. A pouca humidade anda a preocupar os ambientalistas que falam em "grandes mudanças" no ecossistema da Amazónia. O dono da chamada canoa de Saruê, Nelson Dalva, é um bom exemplo do que eles querem dizer. Enquanto atravessa o rio Ariaú, afluente do rio Negro, no estado do Amazonas, Brasil, peixes pequenos começam a saltar para dentro da canoa, em voos desordenados. Ele apressa-se a devolvê--los ao seu habitat. "Mesmo quem não sabe pescar, nesta época de seca, consegue apanhar peixe facilmente. Há muito!", diz. Por outro lado, admite, "há cardumes a morrer". A rabeta (pequeno motor) quase encalha num banco de areia. As hélices rangem furiosas. A canoa segue à deriva até encontrar um nível de navegabilidade. Nas margens, a lama seca encobre-as e as raízes das árvores estão descobertas. Alguns troncos estão queimados pelo sol. Nos galhos das árvores há rastos de vegetação seca, que as cheias deixaram em Junho. As enchentes desalojaram centenas de famílias e trouxeram uma crise de abastecimento a Manaus, a metrópole que parece "engolida" pela selva. Agora a seca rasga a Amazónia fluvial. Estão 37 graus. O corpo não pára de suar, como se quisesse mostrar que tem mais poros que aqueles que conhecemos. A garganta parece ter cactos a arranhar. E a tontura é companheira assídua. Não há chuva há cinco meses. "Nesta altura do ano, era suposto já estar a chover; e está este calor infernal", diz Saruê. "A natureza está desequilibrada." O nível da água está "demasiado baixo". Fala-se em seca "histórica". Os mais velhos contam que "só nos anos 60" houve um cenário semelhante. Ouve-se falar que há famílias ribeirinhas com falta de água". Onde andam os fartos rios da Amazónia que dependem das chuvas para se encherem de farta correnteza? No arquipélago fluvial das Anavilhanas, inabitado, a água desceu mais de 20 metros. Os canais fluviais, chamados de igarapés, estão secos. Em Iranduba, no outro lado da margem de Manaus, as cheias encobriram parte do mercado durante dois meses. Agora, a água desceu. As casas flutuantes, comuns nesta região, devido à grande alteração no nível das águas, assentam em terra firme. Na aldeia de Murutinga, a sul de Manaus, onde mora a comunidade indígena descendente dos Mura, o nível da água desceu 20 metros. Todos falam que "já devia ter subido". "E este rio, o que se passa?", questiona o Braga, que vive ali há 42 anos. "Quem o viu em Junho não o reconheceria. A paisagem é outra." Nessa altura, a água chegou até ao posto médico, no alto da aldeia e as enfermeiras encostavam o barco à porta de entrada. A casa fica, agora, no alto de uma falésia, como se alguém tivesse sugado toda a água e deixado um charco para disfarçar. Para o ecologista Carlos Durigán, presidente da Fundação Vitória Amazónica, a situação na região é "preocupante". "A Amazónia é responsável pelo equilíbrio do clima mundial e está a sofrer muito com as mudanças climáticas", diz. "Esta seca é a prova disso."

(Foto: Vanessa Rodrigues)
(Fonte: De olho no tempo, com informações Público.pt)

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