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Indígenas mato-grossenses vão conhecer seus direitos


 
Faculdade Indígena Intercultural e Editora Entrelinhas lançam em praça pública a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Feira do Livro abre espaço para diálogo entre líderes tribais e a população mato-grossense.
 

JOSANA SALES 
Agência Amazônia

CUIABÁ, MT – Três mil exemplares da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas chegarão gratuitamente às aldeias. O compromisso foi assumido esta semana, na Praça da República, em Cuiabá, pela direção da Faculdade Indígena Intercultural, vinculada à Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e pela Editora Entrelinhas. 

A Declaração aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 13 de setembro de 2007, depois de 22 anos de discussão, foi lançada na abertura da Feira do Livro Indígena de Mato Grosso. Terão prioridade no recebimento dos exemplares lideranças de etnias de 71 terras indígenas (entre as homologadas, regularizadas, delimitadas, identificadas ou em estudo) e nove povos indígenas isolados na região Norte. 

Também receberão a publicação a sociedade civil organizada, demais órgãos governamentais municipais e do Estado, bibliotecas públicas e escolares. Elias Januário, um dos coordenadores da Faculdade Indígena, considerou o documento de grande importância para Mato Grosso: “São milhares de índios nas aldeias e muitos mais integrados entre os não-índios em todo o nosso extenso território, com todos os benefícios e dificuldades que essa integração cultural proporciona”, ele disse. 

Contra injustiças 

Respeito à diferença é a palavra de ordem. Entre outros aspectos, a Declaração reafirma a democracia dos direitos legais; a preocupação com as injustiças históricas; o reconhecimento de promover os direitos intrínsecos dos povos indígenas; a consolidação da organização política, social, econômica e cultural; o direito aos territórios e suas terras tradicionais; o reconhecimento às culturas e às práticas tradicionais indígenas; o direito à educação escolar específica e intercultural; o respeito aos direitos humanos e autodeterminação. 

Entre as considerações dos coordenadores da Faculdade Indígena alinham-se: os índios foram os primeiros habitantes do território brasileiro e, antes da chegada dos portugueses eram em milhões, falavam mais de mil línguas e estavam espalhados por todas as regiões. Com o avanço dos não-índios, muitos foram mortos, escravizados, arrancados de suas terras, o que fez com que parte de sua cultura acabasse se perdendo. Uma cultura que é tão ou mais brasileira que qualquer outra e ainda assim é encarada como algo estranho, distante, às vezes sem relevância. 

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Inédito no Brasil Central: a Declaração dos Direitos Indígenas da ONU será distribuída a todas as etnias mato-grossenses /REPRODUÇÃO



Atualmente, apesar da consciência da importância da preservação do que resta dessa cultura, as ações ainda são poucas diante do que há para ser feito. E uma das mais interessantes está aqui mesmo, em Mato Grosso. 


Faculdade formou 400 e 
lançou série de livros didáticos 

CUIABÁ, MT – A Faculdade Indígena Intercultural já formou mais de 400 indígenas em diversas profissões e publicou 24 livros de alguns autores entre eles. No ano passado lançou diversos livros das Séries Experiências Didáticas e Práticas Interculturais dos índios Ikpeng. A Faculdade Indígena é uma raras instituições do País que possui um programa formador de professores indígenas e que desenvolve materiais didáticos escritos em suas línguas, para auxiliá-los em seu trabalho 

Os autores são professores e alunos indígenas de 34 etnias no estado. Os da série “Experiências Didáticas” são escritos nas línguas-mãe e utilizados nas salas de aulas nas aldeias indígenas. Já os da  série “Práticas Interculturais” organizam e divulgam textos e ilustrações de professores e alunos indígenas que relatam seus mitos, conflitos, costumes e saberes na língua portuguesa. 

Roças, culinária e terras 

Boa parte dos livros reúne textos que narram o modo de fazer roças, a culinária indígena e restrições alimentares, os problemas da luta pelos territórios indígenas e os marcadores do tempo, formas de observar o clima e regime de chuvas sempre através dos animais, das estrelas e os rios. As ilustrações foram produzidas pelos alunos e professores. 

Só no ano passado foram quatro livros da série “Experiências Didáticas”, de professores e alunos da etnia Ikpeng, situados hoje na parte central do Parque Indígena do Xingu, conhecido como Médio 
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Dança na abertura da Feira. Indígenas mato-grossenses têm acesso à Universidade e já editam livros didáticos sobre sua cultura e história /EDSON RODRIGUES
Xingu. Os livros: Irwa, Ga, Orong, Ikpeng Ungwopnole são de autoria dos professores Iokore Kawakum Ikpeng, Korotowi Taffarel, Maiuá Meg Poanpo Txicão e organizados pelos coordenadores da Faculdade Indígena, Elias Januário e Fernando Selleri Silva. 

Visão realista 

“A língua, lembra Elias, é muito importante para a identidade de um povo. Não dá para utilizar nas salas de aula indígenas livros que tragam uma visão distante, equivocada, que é o que marcava os livros didáticos até há pouco tempo”. 

As publicações da produção acadêmica abrem várias possibilidades tanto para as nações indígenas como para a sociedade brasileira. Elas criam um canal de comunicação para o fácil entendimento e, a longo prazo, pode derrubar preconceitos. "Ao dominarem a escrita, os indígenas passam a existir na historia do País, mas agora a partir do conhecimento deles. E com esse instrumento podem também repassar aos mais jovens valorizando suas raízes. Ao mesmo tempo, ao aprenderem também a língua portuguesa todo esse conhecimento bem como as maneiras como eles vêem o mundo podem ser levados aos não-índios. Esse processo é muito interessante porque pode facilitar o entendimento entre os povos já que não existem diferenças intelectuais, apenas culturais, no modo de interpretar a vida", analisa Januário. 

O investimento nesse tipo de projeto ainda é pequeno. As duas séries estão saindo graças a recursos da própria Unemat. Januário considera essencial a abertura de linhas de financiamento para esse tipo de publicação. 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agência Amazônia  é parceira do Gentedeopinião

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