Quinta-feira, 28 de maio de 2009 - 05h44
Completando um ano no governo, ministro admite ter dificuldades para conter o avanço dos ruralistas sobre a legislação ambiental
O ministro Carlos Minc completou, nesta quarta, dia 27, um ano no Ministério do Meio Ambiente. O ministro, que adora chamar a imprensa para repercutir tudo o que faz, admite viver tempos difíceis. Seu principal problema é a agenda ambiental estar perdendo espaço no parlamento e dentro do próprio governo.
Minc admite que é midiático. Segundo ele, a imprensa precisa de notícia, por isso, nas ações da pasta faz questão de chamar os jornalistas. O casamento está dando certo: um batalhão de repórteres acompanha o ministro em todos os lugares. Só neste ano, foram 20 ações de fiscalização com Minc na linha de frente aplicando multa a quem não respeitou as leis ambientais.
Participei de 20 operações, subindo em cima de trator, destruindo forno de carvão, prendendo madeireiro ilegal, prendendo boi pirata e vou continuar fazendo isso. Não vou ficar no ar condicionado dizendo para as pessoas o que elas devem fazer, vou ficar na linha de frente.
Dono de 53 coletes e espírito combativo, ele assumiu o cargo em substituição a Marina Silva, personalidade conhecida internacionalmente por defender as causas ambientais. A missão do ministro era acelerar os licenciamentos ambientais para agilizar obras como estradas e rodovias. Neste primeiro ano, o ministro disse que aumentou em 50% o número de licenças em comparação com o último ano da gestão de Marina Silva. No entanto garante que não abriu mão do rigor nas análises.
Não vai ter licença de qualquer jeito, não vou ser um carimbador, não vou permitir que a legislação ambiental seja estraçalhada.
Apesar de ter aumentado o número de licenciamentos, ao completar um ano à frente do ministério, Carlos Minc admite ter dificuldades para conter o avanço dos ruralistas sobre a legislação ambiental.
Está havendo uma ofensiva muito grande. O momento é muito delicado, tem essa questão de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), de obras, eleições, a questão produtivista, que às vezes trazem a idéia de que o meio ambiente está atrapalhando, de que tem que diminuir as leis (ambientais), afirmou o ministro.
Uma das principais ameaças, segundo ele, é a campanha liderada por representantes do agronegócio para flexibilizar as exigências do Código Florestal, como a redução da área de vegetação nativa a ser preservada nas propriedades rurais, por exemplo. A resposta ambientalista vem sendo articulada em parceria com a agricultura familiar, no que Minc chama de "aliança entre ecologia e reforma agrária".
O ministro pretende levar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a posição da área ambiental para tentar evitar uma derrota durante a votação das mudanças do código no Congresso Nacional.
Eu tenho estado todos os dias na Câmara e no Senado. Vamos honrar o cargo. Quando o meio ambiente começa a enfraquecer, cada um vem com a sua machadinha querer tirar alguma coisa da legislação ambiental comparou.
Nós vamos, esses dias, conversar com o presidente Lula e com a ministra Dilma. O meio ambiente tem que voltar a ser mais forte no parlamento. O meio ambiente está num momento muito difícil.
Além do embate pelo Código Florestal, Minc também tem enfrentado outras brigas no Congresso, como a aprovação pela Câmara de duas medidas provisórias que agora serão analisadas pelo Senado: a MP 458, que facilita a regularização fundiária na Amazônia, e a MP 452, que dispensa de licenciamento prévio obras em rodovias já existentes. Sobre esta última, ele não poupa críticas:
Decurso de prazo é o seguinte: se você não licenciar uma estrada em 60 dias, ela está automaticamente licenciada. Nem no tempo da ditadura existia uma coisa como essa.
Se o texto for aprovado pelos senadores, Minc pedirá ao presidente Lula o veto da matéria.
Apesar das pressões, o ministro também lista o que considera pontos positivos de seu primeiro ano de gestão no ministério.
Foi um ano de muitas vitórias e muitas preocupações ponderou.
Entre as conquistas, estão a queda do desmatamento na Amazônia, a elaboração do Plano Nacional de Mudança do Clima que prevê metas de redução do desmate da floresta , a extensão do monitoramento por satélite a todos os biomas brasileiros e o programa de troca de geladeiras para redução das emissões de gases CFC, que destroem a camada de ozônio.
A maior vitória foi ter conseguido reduzir o desmatamento da Amazônia, que era nossa principal função. O desmatamento tinha voltado a subir nos meses anteriores e com medidas como as ações de fiscalização e a apreensão de madeira e bois piratas nós conseguimos reduzir. Vamos lutar nas ruas, no parlamento e dentro do governo para que o meio ambiente brasileiro seja defendido, e não devastado afirmou.
Opiniões divergentes
Para o secretário-executivo no período de Marina Silva, o ambientalista Cláudio Langone, a agenda ambiental tem perdido espaço no governo. Nos embates recentes outros ministérios têm demonstrado sinais maiores de força. No episódio do licenciamento das estradas em análise no parlamento a vantagem é para o Ministério dos Transportes. Nas discussões para a criação de um Código Ambiental, que substitua o de 1965, o Ministério da Agricultura saiu na frente.
A postura de maior flexibilidade do ministro Minc, que significa, inclusive, alguma renúncia em relação a questões centrais para a agenda ambiental, ela deveria ter uma reciprocidade, que não está tendo, e isso tem enfraquecido o ministério e em conseqüência disso tem enfraquecido a agenda ambiental afirma Cláudio Langone.
O presidente da Frente Parlamentar da Pecuária, deputado Valdir Colatto (PMDB/SC), diz que é difícil dialogar com o ministro.
Passou o tempo de aprendizado de um ano. Agora sente conosco, faça o dever de casa e respeite as outras posições. Não só olhe para um lado radicalmente que é a questão ambiental porque nós não vamos a lugar nenhum. Nós precisamos fazer as duas coisas: preservar o meio ambiente e produzir comida.
Fonte: Canal Rural com informações da Agência Brasil
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