Domingo, 5 de setembro de 2010 - 18h02
Do Globo Amazônia, em São Paulo
Agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Amazonas apreenderam nesta semana cerca de 2 toneladas de peixe pirarucu e 140 tracajás capturados de maneira irregular em uma região onde vivem milhares de índios em situação de isolamento. A ação ocorreu no Vale do Javari, no oeste do estado, próximo à área de tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. De acordo com Fabrício Ferreira Amorim, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, o material estava embalado e pronto para ser transportado ao município de Atalaia do Norte, de onde poderia ser levado a Manaus ou a Letícia, já na Colômbia, e de lá para Bogotá. Um quilo de pirarucu não sai por menos de R$ 15 e pode chegar a R$ 40.
A identificação do crime ambiental foi possível graças a uma denúncia feita por indígenas Kanamary que moram no Alto Rio Itaquaí e viajavam em direção à Atalaia do Norte quando viram indícios da pescaria. Eles comunicaram o caso à agentes da Funai, que foram até a área para confirmar a irregularidade.
A apreensão foi realizada na quarta-feira. Na quinta-feira, a fiscalização voltou ao local com representantes do Ibama e da Polícia Federal, segundo Amorim, para procurar os infratores. Na sexta-feira, os agentes ainda trabalhavamm na contagem dos peixes para saber o peso exato do material apreendido.
A equipe prendeu 4 pescadores, levados para Tabatinga, mas dois conseguiram fugir.
- Eles estavam armados e disseram ter ficado 19 dias na mata para a pescaria - explica Amorim. Indígenas das etnias Matis, Marubo, Kanamary e Tikuna participaram da equipe que fez a apreensão.
A pesca irregular não representa a única ameaça ao meio ambiente da região, de acordo com Amorim. Segundo ele, a área é que apresenta maior densidade de povos indígenas em situação de isolamento ou recém-contatados em todo o mundo.
- A população de isolados é tão grande que ela pode ser próxima ou maior do que a de índios contatados, que é de cerca de 4 mil pessoas - diz ele.
Amorim explica que grupos de indígenas isolados têm organismo vulnerável a algumas doenças comuns a quem mora nas cidades, como a gripe. Além disso, existe o risco de conflito entre pescadores e indígenas Korubo ainda não contatados, que passam a frequentar mais regiões próximas ao Rio Itaquaí durante o verão amazônico, segundo ele.
- Não é só o crime ambiental que os pescadores cometem, existe o potencial de um crime de genocídio. Fazemos um esforço para respeitar o isolamento, mas eles acabam com isso - diz.
- Os pescadores conhecem muito bem os rios na região. Eles eram antigos moradores mas tiveram de deixar a área depois da demarcação de terras indígenas - diz o funcionário da Funai.
- Hoje, entram escondidos porque a região é muito atrativa e eles preferem se arriscar.
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