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Tesouro genético é guardado por índios no Parque do Xingu




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Os Kuikuros usam pouca roupa e gostam muito de se enfeitar em ocasiões especiais. Eles falam uma língua da família caribe herança da época que viviam nas fronteiras do Brasil com a Venezuela e a Guiana. São mais de setecentos índios, é a maior e uma das mais antigas tribos do Xingu. Acredita-se que a migração deles para a região se deu há mais de mil anos.
Na época eles eram nômades e viviam só do extrativismo. Ao se fixarem no Xingu, os Kuikuros passaram a praticar a agricultura. Hoje eles cultivam dezesseis espécies diferentes de pequi. São frutos gigantes, coloridos e até um pequi sem espinho, que a gente vai mostrar  mais para frente. A casca do pequi é sempre verde. Quando maduro este fruto típico do cerrado brasileiro cai no chão e é recolhido aos montes.
As mulheres abrem os frutos e cozinham os caroços, que depois de despolpados serão usados na  preparação de pratos doces e salgados.
 
A safra de pequi no Parque Indígena do Xingu, e Mato Grosso, vai de novembro a dezembro. Nessa fase, os Kuikuros juntam milhares de frutos, mas para ter pequi o ano todo, é preciso armazenar o produto. Eles coziam os frutos e colocam a polpa dentro de cestos de taquara forrado com folhas. Depois o recipiente é tampado.  Com uma vara eles fincam o cesto cheio de polpa de pequi no fundo da lagoa. No friozinho da água a polpa fermenta, mas não estraga.

O pequi é uma das frutas mais ricas em vitamina A e também contém vitaminas C e B, além de proteínas e outros micronutrientes. Com sua polpa as mulheres fazem vários pratos. O doce de pequi não leva açúcar. Aliás aqui não existe açúcar de cana. Elas selecionam as espécies de pequi mais adocicadas e cozinham durante horas, até o açúcar da fruta se concentrar no fundo da panela.

Um prato muito apreciado pelos Kuikuros é a sopa de castanha de pequi. Leva pimenta verde, água e castanha cortada em pedacinhos. É um prato salgado. O sal deles é feito de aguapé, planta aquática muito comum em lagoas e rios. Depois de secar ao sol o aguapé é queimado. Suas cinzas levam vários dias para apurar a cor. O sabor é picante e se assemelha ao da raiz forte usada na culinária japonesa.

O oléo de pequi deles é rico em betacaroteno. É com ele que as índias amaciam os cabelos e protegem a pele dos raios de sol.
Dos rios e lagos da reserva eles tiram os peixes. Os índios do alto Xingu caçam muito pouco. Eles apreciam muito mais as carnes brancas que as vermelhas.
Outro produto importante aqui é a mandioca. De suas raízes eles fazem farinha e polvilho, depositados dentro das ocas. O polvilho é usado no preparo do mingau e do beijou. A qualquer hora do dia tem alguém espalhando polvilho numa  forma de barro quente, semelhante a uma chapa, e preparando beijou. Ele faz o papel do pão. Um pedaço de peixe embrulhado num beijou vira sanduíche de peixe.

Todo ano a festa do pequi tem um festeiro que é o organizador do evento. Este ano o festeiro é o Uguisapa. Ele diz que sua família vai oferecer o que tem de melhor para o beija-flor. A mulher dele, Yalucu, prepara tachadas de minguau de pequi com farinha de mandioca. É o pagamento de uma promessa feita ao beija-flor.

Ela diz que já foi vítima de uma doença provocada pelo espírito dele. Sentia dores horríveis pelo corpo todo e não conseguia dormir porque tinha visões que perturbavam o sono. “O pajé que me curou. Depois ele pediu ao meu marido que organizasse esta festa para o beija-flor. Se ele ficar feliz com nossa homenagem a safra de pequi vai ser sempre boa e a gente vai ter saúde na aldeia”, diz ela.

O parque indígena do Xingu tem 2.600 hectares. Tamanho equivalente ao estado do Sergipe. Fica na região nordeste de Mato Grosso, zona de transição do cerrado e Amazônia. É a maior floresta contínua do Estado. Dentro do parque, cortado pelo rio Xingu e seus afluentes, moram cinco mil índios de quatorze etnias. O parque indígena do Xingu faz divisa com o município de Canarana.
 

 

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