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China 'peita' Trump em seu quintal e oferece investimentos ao México


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Por Fernando Brito, editor do Tijolaço

Quem acha que o mundo não vai entrar em estado de tensão com Donald Trump deveria “tirar o cavalinho da chuva”.

O anúncio do cancelamento de uma fábrica da montadora Ford no México, em razão das políticas protecionistas do quase presidente norte-americano parecia uma coisa esgotada em si mesma.

Só que não.

A China manda dizer ao México que está disposta a assumir o lugar dos investimentos que os EUA deixarão de fazer no país.

Na edição de hoje do Global Times, versão globalizada do Diário do Povo, estatal, o recado é claro:

A saída da fábrica da Ford do México desencadeará uma reformulação da cadeia de suprimentos e criará uma valiosa oportunidade para as montadoras chinesas se expandirem para o México. Em vez de lamentar a perda da montadora americana, o México deve buscar maior parceria com a China e oferecer incentivos aos investidores chineses. As empresas chinesas também devem aproveitar a oportunidade para crescer na indústria automobilística global com produção de peças de reposição em escala mundial.

O jornal chinês não hesita em dizer que Trump vai na contramão da globalização econômica :

A jogada de Trump para trazer empregos industriais para os EUA não beneficiará necessariamente o país. Se as ameaças fiscais de Trump forçarem os principais fabricantes de automóveis a deslocar a produção de volta aos EUA, tal situação não durará muito. Em muitas indústrias, especialmente na indústria automobilística, a produção envolve parcerias ao longo da cadeia de fornecimento global, com diferentes componentes de automóveis, como motores, assentos de couro, pneus e haste de rolamentos produzidos em países que oferecem vantagens no custo. Dadas as atualizações ao longo da cadeia de valor industrial, alguns componentes que não exigem grandes habilidades não são mais produzidos nos EUA. Se a produção desses componentes retornar para os EUA, os custos trabalhistas farão os consumidores norte-americanos pagar mais por carros fabricados no país em comparação com veículos que podem ter sido montados no México. Se os EUA importarem esses componentes de outros países, os impostos e outras taxas derrubarão o que foi economizado e inflacionarão os preços. Para manter custo eficiente, as montadoras terão que eventualmente aplicar mais automação ou deslocar a produção para outros países de baixo custo na Ásia ou em outros continentes.

Enquanto isso, nós aqui agimos como se a transferência de poder nos Estados Unidos fosse apenas um acontecimento corriqueiro, que não vai influir nos fluxos econômicos internacionais dos quais somos completamente dependentes.

A queda do crescimento econômico levou os custos da mão de obra dos países emergentes, como o México e o Brasil, a terem custos abaixo dos que antes eram os chineses e tornou, para a China, vantajoso transferir partes de suas cadeias produtivas para o exterior.

Porque a China não é mais apenas os “currais de montagem” que nos mostravam durante os anos 80 e 90.

O que era geopoliticamente interessante passou a ser também economicamente vantajoso e o império americano não vai permitir sem traumas esta expansão.

Mas aqui, inexplicavelmente, até entre os agentes econômicos – e por boa parte da diplomacia sabuja que ascendeu com José Serra no Itamarati, continuamos a ver a posse de Trump como pouco mais que um evento folclórico.

PS. De novo, obrigado ao amigo Hayle Gadelha pelo acompanhamento da imprensa chinesa, que a brasileira ignora.

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