Terça-feira, 25 de outubro de 2016 - 07h22
Dezenas de moradores de Gorino e Goro, na costa adriática da Itália, se rebeleram contra imigrantes e construíram barricadas na noite de ontem (24) para impedir a passagem de um ônibus que levava refugiados, sendo 12 mulheres com seus oito filhos. As informações são da agência Ansa.
A chegada dos refugiados tinha sido autorizada pelo representante do estado em Ferrara, Michele Tortora, para ajudar a sanar a crise imigratória que atinge toda a Itália, um dos países considerados porta de entrada para a Europa.
Tortora já tinha tomado a decisão há tempos, mas somente na tarde de ontem os moradores da província de Ferrara, na região da Emilia-Romanha, foram notificados da chegada do ônibus de refugiados e se irritaram.
Um grupo de mais de 10 italianos começou a construir barricadas na estrada. O protesto se prolongou durante a noite e só foi acalmado após uma negociação com as autoridades municipais.
Ao todo, 12 refugiadas, uma delas grávidas, deveriam ser hospedadas com seus filhos em um hotel de Gorino, um povoado de 600 habitantes. Outros refugiados se juntariam ao grupo posteriormente. Todos são cidadãos originários da Nigéria, Nova Guiné e Costa do Marfim, e precisaram ser realocados e enviados para Comacchio, Fiscaglia e Ferrara.
Mesmo com o acordo, alguns moradores da província ainda estão descontentes. Os pescadores de Ferrara disseram que farão greve nos próximos dias e não enviarão seus filhos à escola. "Me envergonho muito do que aconteceu em Ferrara. Essas pessoas que impediram o acolhimento de crianças e mulheres também devem se envergonhar", disse o chefe do departamento de imigração do Ministério do Interior da Itália, Mario Morcone.
Itália recebeu mais de 153 mil imigrantes este ano
O protesto em Gorino e Goro coincidiu com o anúncio do governo italiano de que mais de 153 mil imigrantes desembarcaram no país desde janeiro deste ano, superando em 10% a quantidade de pessoas que chegaram à Itália pelo Mar Mediterrâneo durante todo o ano de 2015.
Há anos, a Itália, por estar localizada no Mar Mediterrâneo e próxima da costa africana, recebe diariamente dezenas de embarcações com imigrantes ilegais e refugiados de guerras que tentam chegar à Europa para pedir ajuda. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, defende a política de acolhimento e apoio aos imigrantes, mas também tenta convencer a União Europeia de compartilhar a responsabilidade, já que muitos imigrantes não querem viver na Itália, mas sim, se instalar em outro país do bloco.
O partido nacionalista Liga Norte, porém, é um dos principais críticos da política imigratória de Renzi e comemorou que os moradores de Gorino e Goro tenham reagido com barricadas. "Obrigado a todos que se manifestaram na noite de ontem, obrigado a quem lutou para que a democracia e o bom senso vencessem. Os moradores de Gorino são, para nós, os novos heróis da resistência contra a ditadura do acolhimento", disse o secretário do partido e conselheiro para a Emilia-Romanha, Alan Fabbri.
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