Quarta-feira, 7 de julho de 2010 - 14h26
Luciana Lima
Agência Brasil
Dar es Salaam (Tanzânia) - A intenção de disputar de forma mais acirrada novos mercados com a China está dando o tom da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a países da África. Intenção que ficou ainda mais explícita no discurso que o presidente fez a empresários brasileiros e tanzanianos hoje, em Dar es Salaam, capital da Tanzânia.
Em vários momentos, Lula referiu-se à China e procurou vender a imagem de que o Brasil, ao contrário do gigante asiático, tem produtos de melhor qualidade e gera empregos nos países onde investe. Lula citou a disputa por minas de ferro que a mineradora Vale do Rio Doce acabou perdendo para os chineses.
“Nada contra os meus amigos chineses. Pelo contrário, [a China] é um grande parceiro nosso e queremos manter nossa parceria estratégica. Mas a verdade é que, as vezes, eles ganham uma mina e trazem todos os chineses para trabalhar naquela mina. E fica sem gerar oportunidade de trabalho para os trabalhadores do país”, disse Lula.
De olho nos recursos naturais da África, o presidente procurou avalizar os interesses da Vale na Tanzânia e aproveitou para criticar a forma chinesa de exploração. “É importante que se todos se dêem conta que a Vale tem que vir aqui, fazer investimentos, gerar emprego aqui e contratar trabalhadores da Tanzânia para trabalhar nos projetos, e não trazer trabalhadores do Brasil, como alguns [países] fazem, que não é boa política”, disse Lula
Em 2004, a Vale perdeu para os chineses a disputa para a exploração de uma mina de ferro no Gabão. Nos próximos meses, a empresa pretende disputar duas licitações para explorar na Tanzânia minas de carvão, fosfato (matéria prima para fertilizantes), cobre, níquel e potássio. De acordo com o presidente da Vale, Roger Agnelli, o investimento que a empresa pretende fazer na Tanzânia chega a US$ 2 bilhões, valor semelhante ao já investido pela empresa em Moatize (Moçambique) para exploração de carvão metalúrgico. A mineradora também mantém projetos em Zâmbia, no Congo, em Angola, na Guiné, na África do Sul e ainda tem interesse em recuperar posições na exploração de minas no Gabão.
Lula é o primeiro presidente brasileiro a visitar a Tanzânia. As trocas comerciais com o país do oeste da África somaram no ano passado apenas US$ 31 milhões. Para Lula, essa cifra modesta pode se expandir muito com o ambiente de estabilidade política e segurança jurídica que o país oferece atualmente. Além disso, são convidativas as taxas de crescimento apresentadas pela Tanzânia. Para este ano, a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é de 5%.
Outro ponto positivo destacado pelo presidente foi a posição geográfica estratégica da Tanzânia, na costa do Oceano Índico. Um acesso privilegiado para mercados asiáticos que, de acordo com Lula, deve ser levado em consideração pelos empresários brasileiros. “É uma posição que nos coloca perto de mercados extremamente interessantes. Nos coloca perto de mercados não só dentro da própria África. Quando se abre a porta aqui, a gente vê um porto muito grande, que atende a vários países. A China e a Índia não estão tão longe como estão do Brasil. Sem deixar de fazer os investimentos no Brasil, vocês [empresários brasileiros] podem produzir aqui na Tanzânia para aproveitar não apenas o mercado africano, mas para aproveitar o mercado chinês e uma parte do mercado asiático”, destacou o presidente.
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