Domingo, 1 de julho de 2018 - 21h55
247 – Andrés Manuel López Obrador, o candidato que representa o campo popular e nacionalista no México, terá neste domingo uma vitória consagradora no México. Além de levar a presidência da República, com cerca de 49% dos votos, de acordo com as pesquisas de boca de urna, a sua coligação deve vencer as eleições em seis de nove estados. Um dos eixos de sua campanha é a defesa do petróleo mexicano para os mexicanos – e não para as petroleiras internacionais. Obrador, que é considerado o 'Lula mexicano', vence em sua terceira tentativa e foi alvo de intensa campanha negativa de meios conservadores. No entanto, desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos e prometeu construir um muro na fronteira, que seria pago pelos mexicanos, o sentimento antiamericano ajudou a alavancar sua campanha.
Confira, abaixo, artigo de Leonardo Attuch, editor do 247, sobre os caminhos opostos trilhados por Brasil e México:
Brasil e México, que se enfrentam nesta segunda-feira por uma vaga nas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia, vivem situações praticamente opostas na política e na economia. Lá, a esperança poderá derrotar o medo e o político nacionalista Andrés Manuel López Obrador, que é chamado de 'Lula mexicano', tem grandes chances de vencer as eleições presidenciais marcadas para este domingo. Aqui, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que representa a esperança de dias melhores para a maioria do eleitorado, segue encarcerado numa cela fria em Curitiba.
O sucesso de AMLO, como López Obrador é chamado, e a tragédia de Lula passam por uma questão central: a disputa por recursos naturais e a luta por soberania. No México, o eixo central da campanha de AMLO é a defesa do petróleo mexicano para os mexicanos. Durante décadas, o país foi espoliado e o general Porfirio Diaz (1830-1915), que governou os mexicanos por mais de trinta anos, cunhou uma frase que ficou gravada na alma nacional. "Pobre México: tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".
No modelo mexicano, o petróleo é explorado sob a forma de concessão por grandes multinacionais estadunidenses, como Exxon e Chevron, e exportado como óleo bruto para as refinarias localizadas no Texas. Depois, na forma de derivados, é importado pelos mexicanos. O resultado é um superávit comercial de US$ 15 bilhões por ano dos Estados Unidos no comércio energético entre os dois países. Enquanto os mexicanos vendem a matéria-prima, os estadunidenses exportam diesel e gasolina, com maior valor agregado.
Por isso mesmo, AMLO propõe o fim dos investimentos exploratórios no Golfo do México sob esse modelo de concessões e defende a construção de refinarias em território mexicano. Nada muito diferente do que o Brasil pretendia fazer depois da descoberta das maiores reservas de petróleo localizadas no século 21, que estão justamente no pré-sal.
No entanto, o projeto brasileiro de desenvolvimento foi bruscamente interrompido. Tanta a presidente deposta Dilma Rousseff como a Petrobras foram espionadas pela NSA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, na administração de Barack Obama. Pouco depois, foram criadas as condições para a derrubada de Dilma, a entrega do pré-sal e o encarceramento de Lula, cuja prisão, segundo o ministro Marco Aurélio Mello, é inconstitucional.
Em condições normais, os Estados Unidos dificilmente aceitariam a vitória de um político nacionalista como AMLO no México. No entanto, como encontraram um tesouro muito mais valioso no Brasil, generosamente cedido por uma elite entreguista, talvez a substituição do óleo do Golfo do México pelo pré-sal esteja valendo a pena. Na Copa, o Brasil é sempre favorito contra o México. Mas na luta por soberania os mexicanos estão vencendo de goleada.
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