Quinta-feira, 14 de abril de 2011 - 09h04
Depois de 43 anos de atividades com migrações internas, internacionais, refugiados e marinheiros, tendo como foco a pessoa do migrante, defendendo-o, lutando para que ele fosse bem acolhido nas igrejas e no país de destino, algumas observações feitas por oficiais de imigração e nacionais japoneses causaram-me questionamentos e me fizeram descobrir alguns detalhes da cultura nipônica. Por isso hoje, dia 11 de abril, que marca um mês depois do terremoto, tsunami e o desencadeamento de problemas na usina nuclear de Fukushima, parei para equacionar as experiências vividas nesses 30 dias de réplicas sísmicas freqüentes,mais de 900 até hoje. Está sendo um excelente aprendizado morar neste país num momento de dor, de sofrimentos, de perdas e de incertezas. Nas circunstâncias presentes, não posso deixar de colocar-me do lado deste povo recatado, silencioso e comedido para tentar sentir o que ele sente diante de nossas atitudes e decisões como estrangeiros.
Depois de ouvir dezenas de vezes a pergunta, “você vai embora?”, especialmente quando foi noticiado que milhares de migrantes estavam saindo do país para voltar em tempos de calma, pus-me a pensar e ligar a pergunta com expressões e outras perguntas que me dirigiram.
Três dias depois do terremoto, ao ir ao Centro de Imigração dar apoio aos detentos para serem deportados, observei uma multidão de estrangeiros crescendo a cada dia, ocupando todos os passeios ao redor do edifício e ruas adjacentes. Eram pessoas assustadas pelo terremoto, tsunami, medo de sofrer radiações e sob pressão de familiares deixados nos países de origem, que iam buscar a permissão para voltar (reentry). Dois oficiais do Departamento de Imigração aproximaram-se de mim e de uma colega de trabalho, quando observávamos tudo do 7º. andar do edifício e nos disseram: “Quando existe algum problema, os estrangeiros podem voltar para seus países; nós japoneses não temos outro país para ir”.
Percebi que o trabalho em equipe está na base de sua educação e cultura, especialmente em tempos de desastres e crises. Nas fábricas e escritórios, os japoneses caracterizam-se pelo espírito de união e colaboração com o superior. Quando sucede algum desastre, este vínculo com ele é considerado ainda mais necessário, pois é dele que emana a coordenação das ações para enfrentar os inconvenientes e dissabores. “Por que vocês vão embora? Vocês não confiam em nós e em nosso governo?” perguntou um japonês, ao perceber que trabalhadores estrangeiros da sua fábrica decidiram sair do país depois do terremoto, tsunami e radiações na Usina de Fukushima.
Uma boa parte da sociedade considera os estrangeiros como egoístas, gananciosos, ingratos, e oportunistas. “Vocês vêm para ganhar dinheiro, mas quando as coisas vão mal, vocês nos abandonam. Nós ficamos aqui trabalhando para arrumar tudo. Quando estiver tudo bonito e organizado outra vez, então vocês vão querer voltar”, São as manifestações de desgosto de muitos cidadãos japoneses. Há também os mais radicais, dizendo que quem foge neste momento não deveria receber permissão de voltar em tempos melhores.
Pela sua importância, em Tóquio estão presentes escritórios de grandes empresas multinacionais. Alguns executivos, logo no dia seguinte do terremoto, enviaram suas famílias para outros países considerados seguros, como Singapura, Tailândia, Hong Kong, Malásia, Itália(por ironia, nenhum é socialmente mais seguro do que o Japão), para depois se unirem a elas. À distância, acompanhavam os trabalhos por internet e telefone, deixando os funcionários sozinhos. Dentro da concepção dos japoneses, tal procedimento significa dar as costas e abandoná-los. Aquele era o momento quando mais precisavam da presença do superior. A observação mais ouvida, segundo um grupo de executivos com quem tive a oportunidade de conversar depois que eles voltaram ao Japão, foi e continua sendo: “Quando nós precisamos vocês nos abandonam”. É desnecessário dizer que o ambiente humano no lugar de trabalho mudou muito a partir do retorno dos diretores dessas empresas.
Papel pouco solidário tiveram também representações diplomáticas de “países amigos” que decidiram transferir seus escritórios quinhentos quilômetros mais ao sul, fora da área por elas considerada perigosas. Algumas embaixadas até suspenderam as atividades pelo mesmo motivo e seus oficiais retornaram aos seus países. Merecem louvor aquelas representações que, além de permanecerem em suas sedes, uniram-se ao povo japonês para socorrer as vítimas das áreas devastadas. Entre elas, tem destaque embaixada do Brasil em Tóquio.
É interessante contextuar tudo isso, na terceira maior economia do mundo, num dos países mais seguros da Terra, muito organizado, educado, respeitoso, com poucos problemas sociais, em paz, caracterizando um contraste abismal com a situação dos países de origem de quase todos os migrantes no Japão. Com certeza, a debandada de milhares de estrangeiros, é um mistério que o povo japonês tem dificuldade de entender.
A Terra do Sol Nascente precisa do trabalho dos estrangeiros. Não sabemos qual será a atitude de seu povo com as novas levas que aqui virão ganhar o pão de cada dia nos próximos anos. Tudo indica que haverá desafios para a sociedade japonesa e para os imigrantes.
Missionário Padre Olmes Milani CS.
Fonte: rádio Vaticano
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