Segunda-feira, 27 de junho de 2011 - 08h34
BBC Brasil
"Este não é um desequilíbrio temporário...Enquanto não alcançarmos uma situação financeira global mais estável, os preços das commodities refletirão isso", disse Graziano em entrevista à imprensa, em Roma
Segundo o ex-ministro brasileiro, países pobres que precisam importar alimentos serão os mais afetados e a FAO precisa oferecer mais ajuda a eles.
"Nos próximos anos, esta será uma área mais relevante, na qual a FAO pode desempenhar um papel importante, ajudando estes países a lidar com a volatilidade."
Eleição
Graziano, de 61 anos, recebeu 92 dos 180 votos contabilizados no domingo nas eleições para o cargo de diretor-geral, segundo a assessoria de imprensa da FAO.
Representante regional da FAO para América Latina e Caribe desde 2006, ele ocupará o novo cargo a partir de janeiro de 2012, até julho de 2015.
Ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Graziano participou da criação do programa Fome Zero, uma das meninas-dos-olhos do governo do governo Lula na área social.
Foi o próprio Lula quem apresentou a candidatura de Graziano à FAO, no ano passado.
A eleição foi o principal ítem da 37ª Conferência da FAO, na cidade-sede do órgão, em Roma.
Reformas
O principal rival de Graziano na disputa era o espanhol Miguel Ángel Moratinos. Em entrevistas recentes, ambos defenderam mudanças na instituição e a implantação de medidas recomendadas por uma auditoria externa, em 2007.
Graziano enfrentará a partir de janeiro um problema tido como um dos entraves à atuação mais abrangente do órgão: verbas relativamente enxutas, comparadas com as de outras agências da ONU.
Para o biênio 2010/2011, a FAO conta com orçamento de US$ 1 bilhão (R$ 1,6 bilhão), além de US$ 1,2 bilhão (R$ 1,9 bilhão) advindos de doações voluntárias.
Segundo analistas, isso impede que a entidade ajude de forma decisiva países em dificuldades no setor alimentar, embora detenha grande expertise na área agrícola.
Outro problema são as divergências entre os países quanto ao plantio de biocombustíveis (apontados por algumas nações como os principais causadores da inflação nos alimentos), os subsídios governamentais a agricultores e o uso de espécies geneticamente modificadas na lavoura.
Vitória brasileira
Politicamente, a vitória de Graziano é um alívio para o governo brasileiro, que nas últimas tentativas amargou resultados negativos em votações na ONU.
Em 2005, o embaixador Seixas Corrêa perdeu disputa para a direção-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Quatro anos depois, o Brasil apoiou o candidato egípcio Faruk Hosni à direção-geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), mas a vencedora foi a búlgara Irina Bokova.
Falando antes da votação, o chanceler Antonio Patriota defendeu o nome de Graziano para dirigir a agência, dizendo que o Brasil adotou políticas bem-sucedidas na agricultura e no combate à fome que podem ser replicadas em outros países em desenvolvimento.
“A formação multicultural e multiétnica do Brasil contribui para a adaptação de nossas propostas às características de outros países da América Latina, África, Oriente Médio, Ásia e Oceania”, afirmou Patriota, em um seminário em Roma.
Segundo Patriota, o Brasil conseguiu, nos últimos anos, tornar-se o maior exportador líquido de alimentos do mundo, conjugar a produção de biocombustíveis com a de comida e proteger o meio ambiente.
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