Quarta-feira, 8 de outubro de 2014 - 17h03
Horacio de Mendonça Netto*
Em todo o mundo, as metrópoles revitalizam-se, mas sem renunciar à tradição de seus valores. Preserva-se a máxima renovar é preciso, mas sem perder a beleza. As grandes cidades encontram soluções para produzir novos marcos institucionais, sem abdicar da sustentabilidade. No Brasil, infelizmente, esse propósito não prospera, graças às amarras burocráticas.
A criação de marcos institucionais é objetivo explícito de valorização das áreas urbanas. Em capitais europeias, extraordinárias rodas gigantes, por exemplo, assumiram papel de catalisadoras de público e atrações turísticas. Os Estados Unidos, mesmo impactados pela tragédia do terrorismo, reconstruíram as torres gêmeas.
Nosso país, de natureza exuberante, segue com índices pífios de visitação estrangeira, muito aquém do potencial, principalmente se considerarmos os gastos dos próprios viajantes brasileiros no exterior. Tudo isso, graças ao mantra exagerado do politicamente correto, associado aos órgãos estatais que vetam projetos modernizantes.
Não há novos marcos institucionais e os já existentes sequer seriam autorizados se submetidos às atuais regras. Isso significa dizer que - imaginando o início dos respectivos projetos em 2014 - nossa legislação proibiria a construção do Cristo Redentor e do bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, da Avenida Paulista e o MASP, em São Paulo, bem como toda a genial Brasília de Niemeyer. Pelas normas ambientais atuais, esses ícones seriam proibidos, pois estão em locais definidos como de Proteção Permanente (APP), nos quais nada se pode construir.
Esses exemplos evidenciam a falta de foco nas prioridades normativas para a tão desejada sustentabilidade. Por que a obsessão de regulamentar ao exagero, se temos um mundo a construir? Cidades e países precisam de referências arquitetônicas novas, que se somem às já existentes e constituam polos de fomento econômico e turístico. Nada mais tem sido feito no Brasil nesse sentido.
Exemplo desse descompasso é a cidade de São Paulo, na qual, além do Obelisco do Ibirapuera, praticamente não existem marcos arquitetônicos que disponibilizem grandes áreas verdes à população. Há muitos parques, mas, além do Ibirapuera, apenas um espaço público verde inclui-se no conceito de marco arquitetônico: o Hipódromo de Cidade Jardim, tombado pelo Patrimônio Histórico, para o qual o Jockey Clube transferiu o turfe há 73 anos. Desde então, o local, de 640 mil metros quadrados, é uma das reservas ecológicas da cidade e uma de suas referências arquitetônicas.
O hipódromo tem tudo para se consolidar como espaço de maior convivência comunitária e polo da agenda cultural e de eventos. Para isso, precisa ser revitalizado. Modernizado, com equipamentos atrativos, sem deixar de conservar seu expressivo patrimônio histórico já instalado, seria uma resposta à busca pela consolidação de um marco institucional, turístico e econômico.
A defesa do meio ambiente deve nortear todo projeto. Contudo, é preciso conciliar ecologia e desenvolvimento. Isso é perfeitamente possível no contexto da tecnologia disponível, do conhecimento adquirido, da consciência dos empreendedores e do poder de fiscalização do setor público.
*Horacio de Mendonça Netto, engenheiro químico, foi diretor geral do IBMEC, da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), da Bolsa de Valores de São Paulo e da BM&F; vice-presidente executivo da Satipel Industrial e atual diretor executivo do Jockey Club de São Paulo.
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