Domingo, 2 de novembro de 2014 - 06h02
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina (PR)
Dia 2 de novembro é um dia marcante, porque é a festa da imortalidade e da ressurreição. É uma recordação da vida de quem já peregrinou neste mundo e agora alcançou a plenitude de seus desejos e esperanças. Aqui somos companheiros de viagem, lá seremos convidados das núpcias do Cordeiro. A melhor despedida é esta: “até nos revermos no céu”.
Não é fácil meditar sobre a morte, pois, estamos diante de um mistério. Experimentamos a mortalidade do corpo e a imortalidade da alma. Estamos cada vez mais despreparados para morrer. Mesmo sendo um fenômeno universal e uma experiência existencial, não é fácil reconciliar-se com a verdade da morte. É forte nosso instinto de conservação, nosso desejo de viver mesmo sabendo que vamos morrer. “Só não morrem as flores de plástico” (T. Eliot).
A morte hoje é um tabu, algo que escondemos, camuflamos, afastamos como se fosse algo proibido e perigoso. Poucos morrem em casa, o luto saiu da moda, afastamos as crianças do enterro, os profissionais da saúde são os que assistem os moribundos.
A humanidade tomou duas posições diante da morte. A primeira atitude é render-se ao nada, ao vazio, ao absurdo. A segunda opção é a crença na reencarnação. Todavia há uma terceira via que não é filosófica, mas, teológica. É a fé na ressurreição de Jesus Cristo e de todos os filhos de Deus. A morte foi redimida, Jesus morrendo “matou a morte.”
Eis o que escreve Paulo apóstolo: “Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo animal ressuscita corpo espiritual” (Cf. I Cor – 15,42-44).
A morte, na fé cristã, é uma experiência pessoal, uma passagem, um parto e uma porta para uma nova fase da vida. “Meu fim é o meu início” (A. Grünn). A vida não é tirada, é transformada. Felicidade, luz, paz, plenitude, alegria, glorificação, constituem a realidade da vida após a morte, na comunhão dos santos e na visão de Deus face a face. Ao morrer somo abraçados pelo Pai, entronizados na comunhão dos santos, coroados pela Santíssima Trindade, glorificados com Jesus, enriquecidos com a herança da salvação.
Os santos e pessoas de fé atestam: “O dia da minha morte, será o dia mais glorioso da minha vida”. Lembremos de Santa Terezinha que dizia: “ Não morro, entro na vida”. Belíssimo testemunho de fé é o de Madre Leônia que dizia: “Minha morte será um feliz pôr de sol”.
Para Jesus, a morte foi o retorno ao Pai, a entrega amorosa de si, o supremo ato de amor, a hora da glorificação. Conheci um padre que carregava na pulseira do relógio, esta frase: “ A morte é certa, a hora é incerta”. Morrer para viver.
Nosso viver é também um caminhar para o morrer. Como uma mulher grávida se prepara para o parto, como a gente se prepara para uma festa ou a chegada de uma visita, assim, precisamos nos preparar para a nossa hora derradeira. É assim que rezamos na Ave Maria: “agora e na hora de nossa morte, rogai por nós”.
O céu é nossa pátria e paraíso. Lá somos esperados e nos uniremos aos amigos, aos parentes, aos antepassados na comunhão dos santos. Diz Santo Agostinho: “ caminha e canta, ama, corre, suspira pela pátria. Lá não há inimigo, não morre o amigo, as lágrimas serão enxugadas, estaremos felizes e tranquilos na visão, na beatitude, na pátria”. Lembremo-nos que aqui somos peregrinos e que o melhor nos espera. O que nossos mortos são hoje, nós seremos amanhã. “Quero morrer para estar com Cristo”, dizia Paulo Apóstolo. Sabemos pela fé que o amor, o bem, as boas obras, não passam, mas nos acompanharão, serão a chave da porta do céu, o passaporte para a glória. Os justos como estrelas brilharão. Não precisaremos da luz do sol nem da lâmpada, pois, Deus mesmo será a luz, será tudo em todos. A ordem é esta: “entra na alegria do teu Senhor”. (Cf. Mt 25, 23).
Fonte: CNBB
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