Sexta-feira, 18 de janeiro de 2013 - 16h15
João Baptista Herkenhoff
Para iniciar esta reflexão cabe distinguir dois vocábulos que só na aparência são sinônimos: mito e utopia.
O mito é um sucedâneo da realidade, que consola o homem daquilo que ele não tem. Esconde a verdade dos fatos. Nasce da fantasia descomprometida. Compensa uma insatisfação vaga, inconsciente.
A utopia, pelo contrário, é a antevisão de um projeto. É a representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização. Fundamenta-se na imaginação orientada e organizada. É a consciência antecipadora do amanhã.
O mito ilude o homem e retarda a História. A utopia alimenta o projeto de luta e faz a História.
Foi com base no pensamento utópico que Niemeyer pôs em arquitetura o seu projeto de uma cidade humana, projeto aniquilado pelas estruturas envolventes, pois é impossível uma cidade humana dentro de uma sociedade fundada no lucro, no consumo, na discriminação, na desigualdade.
A primeira função do pensamento utópico, segundo Pierre Furter, é favorecer a crítica da realidade. Mas não se esgota aí seu fim: a utopia é também uma forma de ação.
Porque dão seu dinamismo à filosofia política, as utopias – como observou Ernst Bloch – propõem aos homens os meios para proverem seu destino à luz de uma visão global do desenvolvimento histórico.
Frei Fernando de Brito que hoje tem sessenta e sete anos, vive na cidade de Conde, litoral da Bahia, onde realiza trabalhos sociais. Durante o tempo em que sofreu prisão política, ele foi alimentado pelo pensamento utópico, conforme se depreende deste seu depoimento: “O que nos mantém em plena e ininterrupta ação construtiva, o que dá sentido à vida atual, é que hoje e agora construímos o mundo de amanhã. E, dialeticamente, é esta atividade que faz com que a Esperança seja um objetivo realizável“.
Para que a utopia seja força progressista, é preciso transformar as aspirações em militância, a esperança em decisão política.
O presente pertence aos pragmáticos. São eles os vitoriosos de hoje. Frequentam as manchetes dos jornais, as chamadas da televisão e as revistas de celebridades. Por este motivo supõem que seu êxito é eterno. Enganam-se. Talvez na próxima geração ninguém nem saiba lhes declinar o nome.
O futuro é dos utopistas. Frei Tito de Alencar Lima, companheiro de Frei Fernando de Brito e Frei Betto, na prisão, está fisicamente morto. Faleceu na França (10 de agosto de 1974). Suas cinzas vieram depois para o Brasil (25 de março de 1983). Seu túmulo, em Fortaleza, é visitado por milhares de pessoas todos os anos. Sua memória jamais perecerá.
João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, professor itinerante Brasil afora e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
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