Quarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

A Páscoa em Portugal há mais de cinquenta anos


Por Humberto Pinho da Silva
 

Depois dos dias fúnebres da Semana Santa, chegava o alegre domingo de Páscoa. A ressurreição de Jesus.

Nas nossas aldeias - que eram relicários de tradições, - os cristãos agrupavam-se no templo, entoando jubilosos hinos e aleluias.

Do alto de rústicos campanários, tangiam festivamente os sinos, em animada e pueril gralheada.

Saiam os compassos, cada um com sua cruz alçada. Envergando alvas opas, homens acompanhavam o prestimoso abade ou seminarista, que levavam o Senhor de casa em casa.

Tapetes de verdes e flores, vestiam toscos caminhos e soleiras de entrada, que devotas mulheres colhiam com carinho e Amor.

Estalejavam alegremente foguetes, em alarido desenfreado; e alvoraçados cachorros, em roda-viva, pareciam, também, dizer: Chegou a Páscoa!... Chegou a Páscoa!...

As famílias reuniam-se à mesa, que permanecia coberta de branquíssima toalha, com o tradicional folar, amêndoas cobertas de açúcar, pão-de-ló e vinho fino.

No meu tempo de menino, no Sábado de Aleluia, nas igrejas, retiravam-se os panos roxos que recobriram as imagens, nos dias tristes de Quaresma. Os altares, que permaneceram despidos, engalanavam-se nessa hora de alvíssimas toalhas e vistosas flores de cores garridas, enquanto os sinos soavam ao desafio, em animada e ruidosa desgarrada.

Nas ruas, grupos de rapazes e moças, confeccionavam boneco de trapos, que suspendiam num poste. Era o “Judas”. Boneco que recolhia na pança, numerosas bombas carnavalescas, e lembrava certa figura, em regra, pobre diabo, bombo de festa do garotio.

Pegava-se, então, fogo aos pés, e para gáudio de todos, assistia-se ao queimar do “Judas”, que estourava entre gritos e palmas da rapaziada.

Nesse tempo, no dia de Páscoa, os afilhados visitavam os padrinhos, levando-lhes raminho de flores ou de oliveira, benzido em Domingos de Ramos.

Estes retribuíam com amêndoas ou dinheiro. A isso, chamava-se pedir o folar.

Em terras montanhosas, nomeadamente em Trás - os - Montes e Beiras, folar era, e ainda é, gigantesco bolo, recheado a carne, que tinha, por vezes, feitio de alguidar.

Mais romântico e citadino, eram as caixinhas de porcelana, que os namorados ofereciam com amêndoas. Eram de todos os tamanhos e feitios, algumas de grande beleza.

Bem diferente se comemora, nos nossos dias, o tempo pascal. Poucos são os que participam e vivem as cerimónias da Semana Santa; as velhas tradições quase desapareceram e, sem elas, morre um pouco da alma portuguesa, as raízes que a identificam.

 

 

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O derretimento do governo Lula

O derretimento do governo Lula

No presente artigo farei algumas considerações sobre a queda de popularidade do presidente Lula, que passou de 37% para 24%. Quero comentar a recent

Foi-se o homem que deixou seu legado na história da Polícia Militar de Rondônia

Foi-se o homem que deixou seu legado na história da Polícia Militar de Rondônia

Rondônia perdeu um dos seus filhos mais ilustres, na manhã desta segunda-feira (17/03). Faleceu o coronel Valnir Ferro de Souza, ou, simplesmente, V

Vivemos em guerra cultural e não ousamos dizê-lo

Vivemos em guerra cultural e não ousamos dizê-lo

Precisamos de uma esquerda pós-materialista e de um conservadorismo activo A sociedade ocidental vive hoje uma guerra cultural silenciosa, mas pro

Gente de Opinião Quarta-feira, 19 de março de 2025 | Porto Velho (RO)