Sexta-feira, 22 de setembro de 2017 - 18h44
A declaração do general Hamilton Mourão, de que as Forças Armadas poderão intervir caso as instituições não resolvam as questões políticas, não deve ser encarada como ameaça de nova ditadura militar mas como um alerta para a deterioração das instituições brasileiras, que está chegando a níveis insuportáveis e sendo observada também pelos militares. Embora a mídia tente mascarar a realidade nacional de caos, com matérias fabricadas, ninguém mais aguenta ver o país sendo destruído por um governo de ladrões, formalmente acusado como tal pela Policia Federal e pelo Ministério Público, sem que se faça algo de concreto para apeá-lo. O Supremo Tribunal Federal, a única instituição que teria hoje poderes para promover a mudança dentro dos limites constitucionais, já que o Congresso apodreceu, se revela leniente, procrastinando na tomada de decisões que poderiam por um fim a esse governo que debocha de todos e envergonha o país. Ao fazer o alerta, portanto, o general Mourão aparentemente teria apenas refletido o ânimo da esmagadora maioria do povo brasileiro, que já não esconde mais a sua decepção com as instituições e a sua preocupação com a situação do país.
Na verdade, o general não saiu a público para fazer ameaças. A sua manifestação aconteceu no contexto de uma palestra na Maçonaria, respondendo a uma pergunta. Talvez mais do que a fala do militar, a pergunta do mestre maçon reflita toda a indignação do povo brasileiro, quando lembra que este seria o momento para uma intervenção e aventa até para a possibilidade de fechamento do Congresso, com a convocação de eleições gerais em 90 dias, sem a participação dos parlamentares investigados. Eis a pergunta, na íntegra:
“A Constituição Federal de 88 admite uma intervenção constitucional com o emprego das Forças Armadas. Os poderes executivo e legislativo estão podres, cheios de corruptos. Não seria o momento dessa intervenção, quando o Presidente da República está sendo denunciado pela segunda vez e só escapou da primeira denuncia por ter “comprado” membros da Câmara Federal? Observação: fechamento do Congresso, com a convocação de eleições gerais em 90 dias, sem a participação dos parlamentares envolvidos em qualquer investigação. Gente nova.”
Eis a resposta do general Hamilton Mourão, em sua íntegra:
“Excelente pergunta. Primeira coisa, o nosso comandante, desde o começo da crise, definiu um tripé para a atuação do Exercito. Ele se baseou: 1 - na legalidade; 2 – na legitimidade que é dada pela característica da instituição e pelo reconhecimento que a instituição tem perante a sociedade; 3 – não ser o Exército um fator de instabilidade, ele manter a estabilidade do país. É óbvio que quando nós olhamos com tristeza os fatos que estão nos cercando, a gente diz por que que nós vamos derrubar esse troço todo? Na minha visão, que coincide com a dos meus companheiros do alto comando do Exército, nós estamos numa situação daquilo que lembra a tábua de logaritmos: aproximações sucessivas. Até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político, com delação no Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso. Agora, qual é o momento para isso? Não existe fórmula”.
E prosseguiu: “Nós temos uma terminologia militar que se chama o Cabral. Uma vez que Cabral descobriu o Brasil quem seguir o Cabral descobre alguma coisa. Não tem Cabral. Não existe o Cabral de revolução. Não existe o Cabral de intervenção. Nós temos planejamentos e muito bem feitos. No presente momento o que nós vislumbramos é que os poderes terão de buscar uma solução. Se não conseguirem, chegará a hora em que nós teremos que impor uma solução. E essa imposição não será fácil. Ela trará problemas, podem ter certeza disso. A minha geração é marcada pelos sucessivos ataques que a nossa instituição recebeu de forma não coerente com os fatos que ocorreram no período de 64 a 85. Isso marcou a nossa geração. Existem companheiros que até hoje dizem: nós procuramos fazer o melhor e levamos pedradas de todos as formas. Por outro lado, quando a gente olha o juramento que fizemos, o nosso compromisso é com a Nação, com a Patria, independente de sermos aplaudidos ou não. O que interessa é termos a consciência tranquila de que fizemos o melhor e que buscamos de qualquer maneira atingir esses objetivos. Se tiver que haver, haverá. Mas hoje nós consideramos que as aproximações sucessivas terão que ser feitas. Essa é a realidade”.
Como é fácil perceber pela resposta, em sua íntegra, não houve propriamente ameaça mas um alerta sobre a possibilidade de intervenção militar caso as instituições civis não resolvam o problema político, provocado por um governo e um Congresso recheado de corruptos. A reação às palavras do general é natural e decorre, na verdade, do receio de que uma intervenção militar degenere para uma ditadura, de cujo trauma, com repressão, prisão, torturas e mortes, o país ainda não se recuperou completamente. Como disse o professor Moniz Bandeira, ninguém quer uma intervenção porque “todos sabem como começa, mas não quando termina”. E como diz o povo, “gato escaldado tem medo de água fria”. Infelizmente, porém, diante do descrédito das instituições, muita gente, assim como o professor Moniz Bandeira, acredita que não há outra alternativa ao Brasil, para impedir o desmonte do Estado nacional, a não ser uma intervenção militar, “já que as forças populares demonstraram a sua impotência”.
Em carta enviada ao colunista Walter Pomar, para justificar a intervenção militar, o professor Moniz Bandeira disse que “o importante é impedir que o patrimônio nacional - Eletrobrás, Eletronuclear, Petrobrás e pré-sal, bancos estatais - seja dilapidado, entregue aos gringos: é evitar que o desenvolvimento do Brasil, com a inclusão, não seja interrompido; é impedir a entrega aos gringos de uma parte da Amazônia maior que a Dinamarca. Claro que não defendo regime de exceção, mas regime de exceção é o que já existe no Brasil, com um verniz de legalidade”. O professor diz mais adiante que “falar em Constituição, agora, é que é uma grande ilusão. As liberdades são relativas, como durante o regime militar, porém nem imprensa alternativa existe mais como naquele tempo”. Na verdade, já vivemos sob um regime de exceção, caracterizado por uma ditadura disfarçada da toga, com o total apoio da mídia, onde os juízes de primeira instância são autoridades máximas, prendendo e condenando baseados apenas em suas convicções. Provas?? Isso é coisa do passado, quando havia presunção de inocência. Hoje ninguém tem mais garantias. Diariamente a Policia Federal amanhece nas ruas prendendo e vasculhando casas, a mando de magistrados, como consequência de uma sanha acusatória, como disse o ministro Sebastião Reis, do STJ.
Diante da celeuma em torno da declaração do general Mourão era natural que alguns companheiros de farda se solidarizassem com ele, como o general da reserva Augusto Heleno, mas o homem que comandou as tropas brasileiras no Haiti ainda se mostra preso ao maniqueísmo esquerda e direita, quando diz que “a esquerda, em estado de pânico depois de seus continuados fracassos, viu nisso uma ameaça de intervenção militar. Ridículo”. E se mostra, também, influenciado pela sistemática campanha da mídia contra os petistas. Ao contrário do que afirmou, porém, sobre “continuados fracassos”, foi no governo de Lula que o Brasil deu o seu grande salto para o progresso, saiu do mapa da fome, tirou 40 milhões de brasileiros da linha de pobreza, abriu as portas das universidades para os pobres e negros, desvencilhou-se das garras do FMI e se projetou no cenário mundial como uma potência emergente. O general Heleno preciso assistir menos a Globo e constatar que o problema não é de esquerda ou de direita, mas da soberania do Brasil, esta sim ameaçada pelo entreguismo explícito do governo Temer.
Na realidade até esta data nem ele ou qualquer outro militar se manifestou contra a entrega de nossas riquezas para o capital estrangeiro. As Forças Armadas são a instituição que desfruta da maior confiança do povo brasileiro, que a acredita nacionalista, mas até hoje nenhum militar disse nada contra a entrega do nosso petróleo para os estrangeiros, contra o processo de privatização da Petrobrás e da Eletrobrás, contra a entrega de parte da Amazônia para os Estados Unidos, junto com a base espacial de Alcântara. Nenhum militar também disse nada contra a privatização da Vale do Rio Doce, o maior crime de lesa-pátria praticado contra o país pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, entregando junto com a estrutura da empresa o nosso subsolo. Ainda assim o professor Moniz Bandeira e outros brasileiros nacionalistas acreditam que uma intervenção militar seria capaz de estancar o entreguismo de Temer. O importante, agora, portanto, é que todos os brasileiros, incluindo os militares, esqueçam as diferenças e se unam em defesa do Brasil, expurgando essa camarilha que tomou conta do poder e que está desmontando todas as nossas conquistas, destruindo o país, cumprindo a agenda do Tio Sam, que não quer perder o seu controle. O momento, na realidade, é grave e precisa da união de todos.
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