Quarta-feira, 20 de julho de 2016 - 08h33
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
A atuação dos leigos como sujeitos, como cristãos maduros na fé, se dá na Igreja e no mundo. É fato que se precisa acentuar a formação dos cristãos para atuarem nos diversos âmbitos da sociedade, pois esta é sua vocação específica. “A índole secular é própria e peculiar dos leigos' (LG 31).Isto significa que o mundo, com toda sua complexidade, é o lugar específico da missão dos leigos: “São chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, inspirados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação de sua fé, esperança e caridade” (LG 31). Percebemos que este é um grande desafio. O Papa Francisco expressou isso claramente: “apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, esse compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade.” (EG 102). Vê-se, que ainda é insuficiente a atuação em muitas estruturas sociais: universidades, comunicação, empresas, trabalho, política, cultura, medicina e tantos outros.
A motivação desta presença cristã na sociedade é encontrada na lógica da Encarnação, no agir de Deus, que vem ao encontro da humanidade. Deus “desce e entra em nosso mundo e em nossa história para assumir em tudo a nossa existência. Desta forma, também os cristãos, para seguir e servir a Deus, devem ‘descer’ e ‘entrar’ em tudo o que é humano, que constrói um mundo mais humano e que nos humaniza.” (Doc 105, n. 163). O evangelho de Jesus Cristo deve penetrar e iluminar todas as realidades humanas e sociais, pois Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, “revela o homem ao próprio homem.” (GS 22). Entendemos que o compromisso sócio transformador nasce e encontra seu critério em Jesus Cristo, seu evangelho e seu Reino. O leigo presta um serviço cristão à humanidade, quando exerce sua cidadania guiado pela Doutrina Social da Igreja, procurando uma coerência, nem sempre de fácil discernimento, entre ser membro da Igreja e ser cidadão.
Expressa e testemunha este modo de viver, como cristão e cidadão, em todos os âmbitos da sociedade. O documento da CNBB “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo” (Doc. 105) apresenta alguns “modernos areópagos” onde a presença cristã dos leigos se faz necessária. A família é vista como “areópago primordial” (n. 255). Depois, a política, pois segundo S. João Paulo II, “os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política destinada a promover o bem comum.” (CfL 42). Destaca ainda, o mundo das políticas públicas, o mundo do trabalho, o mundo da cultura e da educação, o mundo das comunicações e do cuidado com nossa casa comum. Outros espaços são “as grandes cidades; as migrações; os refugiados políticos ou de guerra ou de catástrofes naturais; a pobreza; o empenho pela paz; o desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo o das minorias; a promoção da mulher e da criança; a força da juventude; as escolas, as universidades; a pesquisa científica; as relações internacionais; o turismo, os militares e outros.” (Doc 105, n. 273). Não é possível querer ser um cristão autêntico e maduro e fugir destas realidades, como se nada tivessem a ver com nossa fé. “Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros”, nos disse o Papa (EG 270).
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