Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017 - 08h04
Não é preciso ter bola de cristal para concluir que a queda na aprovação ao governo Temer para meros 10,3%, segundo a pesquisa MDA-CNT, carrega uma tendência de continuidade que vai se acentuar na medida em que o governo avançar com sua agenda e os brasileiros conhecerem mais o presidente que os governa por obra de um golpe. Nesta 133ª. Pesquisa CNT-MDA, 26,5% consideraram o governo péssimo e 17,6% apenas ruim, o que soma 44,1% de desaprovação. Já atuação do próprio Temer foi reprovada por 62,4%.
A reprovação ao presidente e a seu governo é mais um indicador, embora não o único, de que o projeto do golpe está naufragando a olhos vistos, e de que a ficha está caindo para os que se iludiram com o impeachment de Dilma Rousseff. A contrapartida é o crescimento de Lula, na mesma pesquisa, entre os candidatos a presidente em 2018. Ele cresceu seis pontos após a penúltima rodada da série, em outubro, passando de 24,8 para 30,5% pontos percentuais. Já Aécio, Marina, Ciro Gomes e o próprio Temer encolheram. Além de Lula, só Bolsonaro cresceu, capitalizando a frustração da direita extremada com os outros que se dispuseram a representá-la. Subiu de 6,5% para 11,3%.
A agenda do governo, quanto mais conhecida e implementada, mais desgaste trará a Temer e aos partidos e candidatos que se uniram na coalizão golpista. O melhor resultado obtido por Temer nesta série de pesquisas foi logo depois de sua posse como interino, quando ainda era um enigma para a maioria da população. Naquele momento, substituindo a presidente afastada, que o Congresso e a oposição haviam impedido de governar no segundo mandato para gestar a crise e minar-lhe a popularidade, ele foi visto por com alguma esperança por uma parcela da população que se iludiu com as promessas de moralização e restauração das condições econômicas. Em junho, um mês depois da posse provisória, ele alcançou 33,8% de aprovação, índice que caiu em outubro para 31,7%, e agora para 24,4%. Já a rejeição, que era de 51,5% em outubro, agora subiu 62,4%. A mesma evolução pode ser observada na avaliação do governo.
A decepção tende a ser continuada por razões elementares. Por mais que a mídia e setores do empresariado e do mercado financeiro se esforcem para enxergar sinais positivos na economia, para o povo a situação só piorou sob Temer. Até o final do ano, o país terá cerca de 3,8 milhões de novos pobres, filhos da recessão. Os pobres já não andam de avião e já cortam até o celular, informam as companhias do setor. Cerca de 200 mil pessoas saíram dos planos de saúde só em janeiro, diz a ANS. Ou perderam o plano corporativo ao perderem o emprego, ou não puderam mais pagar o plano individual. A pressão sobre a rede pública de saúde aumenta, assim como o êxodo das escolas privadas pressiona o sistema público de ensino. Os programas sociais sofreram cortes. Nos estados, calamidade financeira, crise de segurança e penitenciária. Neste quadro, como enxergar dias melhores? Como celebrar o recuo da inflação, obra da recessão? Os juros caíram duas vezes recentemente mas a taxa real (Selic menos inflação) continua mais alta que no último mês do governo Dilma, e isso impacta negativamente o crédito. O governo anuncia, como um feito, que o FGTS financiará imóveis de até R$ 1,5 milhão. O que isso significa é a drenagem de recursos para as classes de maior renda, em detrimento dos que precisam é da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida. Temer libera resíduos de contas inativas do FGTS, que nem farão cócegas na recessão, mas o povo agora está descobrindo é que ele garfou o abono do PIS/Pasep, que não será pago este ano.
Temer não foi eleito, não há como falar em estelionato eleitoral. Mas o que vem sendo percebido pela população é o estelionato político do impeachment: não houve moralização nem o país entrou nos trilhos, como prometido. Pelo contrário, a Lava Jato agora esbarra nos esquema de corrupção do PMDB e PSDB e Temer não dissimula os esforços para proteger sua turma. O país segue descarrilhando e a vida ficou pior.
O presente é péssimo mas a percepção de que o futuro será trágico virá quando a população começar a entender o completo sentido das reformas previdenciária e trabalhista que o governo quer aprovar a galope. O pior da reforma previdenciária nem é a elevação da idade mínima de aposentadoria para 65 anos, para homens e mulheres. A maior maldade está na elevação do tempo mínimo de contribuição, de 15 para 25 anos. Num país onde milhões só conseguiram um emprego de carteira assinada bem mais tarde, até mesmo na meia idade, e onde os autônomos e os trabalhadores informais só começaram a ingressar no sistema a partir da implantação, por Lula, do regime simplificado com contribuição de 11%, milhares de pessoas jamais se aposentarão se tiverem que provar pelo menos 25 anos de recolhimento ao INSS. Na medida em que estas e outras maldades forem conhecidas, a percepção do estelionato vai se consolidar e a rejeição a Temer e a seus associados vai aumentar.
Lula será o beneficiário natural do cair da ficha. Secundariamente, Bolsonaro.
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