Segunda-feira, 30 de setembro de 2024 - 17h52
Recentemente, o governo de
Rondônia anunciou um conjunto ostensivo de medidas para combater os incêndios
florestais no estado, incluindo a contratação de 126 brigadistas e a locação de
aeronaves para controle dos focos de queimadas. Embora essas ações demonstrem
um esforço do governo estadual em responder a uma crise ambiental, o momento em
que foram implementadas e o contexto climático atual levantam dúvidas sobre sua
eficácia, além de escancarar a ausência de um planejamento de longo prazo,
tanto no nível estadual quanto federal, para enfrentar esse desafio recorrente
de maneira sustentável.
A estação das chuvas já está
começando a atingir a região norte do Brasil, incluindo Rondônia.
Historicamente, esse período marca a redução significativa dos focos de
incêndios florestais, que muitas vezes cessam naturalmente com a intensificação
das chuvas. Diante disso, o investimento na contratação de brigadistas e aeronaves
pode ser questionado: é realmente necessário gastar recursos públicos
consideráveis em um momento em que o ciclo natural já tende a mitigar o
problema?
Além disso, Rondônia se
encontra entre os estados da Amazônia com menor incidência de focos de queimadas,
com apenas 0,06 focos detectados recentemente por institutos de monitoramento.
Diante desses números, as ações do governo estadual soam desproporcionais, uma
vez que a realidade do problema parece estar sendo parcialmente resolvida pela
própria natureza. Enquanto o estado mobiliza recursos, a redução dos incêndios
pode ocorrer de forma natural, o que levanta a questão da eficiência no uso de
dinheiro público.
Embora questionadas essas
medidas em Rondônia, o cenário no governo federal também merece críticas
severas. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em várias ocasiões,
reconheceu a ausência de um plano robusto de longo prazo para combater as
queimadas de forma preventiva no Brasil. Essa falta de estratégia tem levado a
um ciclo anual de medidas paliativas e de combate emergencial, sem que sejam
enfrentadas as causas estruturais das queimadas, como o desmatamento ilegal, a
grilagem e a agricultura predatória.
Em vez de soluções integradas
e coordenadas, o que se observa é uma série de ações desconexas e muitas vezes
ineficazes. Apesar de haver cerca de 100 projetos em andamento no Congresso
Nacional para aumentar as penas para quem pratica queimadas criminosas, nenhum
deles apresenta um plano técnico e abrangente que envolva todos os atores públicos.
A falta de uma abordagem integrada reflete a incapacidade do governo de lidar
com a questão de maneira sistêmica, o que agrava o problema a cada ano. Essa
ineficiência demonstra a falta de visão estratégica do poder legislativo para
tratar o problema das queimadas não apenas como uma questão penal, mas também
como um desafio ambiental, social e econômico.
As iniciativas de combate aéreo e contratação de brigadistas, embora importantes para a resposta imediata, refletem uma visão limitada e emergencial do problema ou até mesmo simbólica. O desmatamento ilegal e as queimadas criminosas continuam sendo incentivados pela falta de fiscalização adequada, pela impunidade e por práticas econômicas predatórias. Sem um plano preventivo e políticas públicas de longo prazo, essas soluções apenas atacam os sintomas da crise, sem resolver as causas.
O Brasil necessita
urgentemente de um programa nacional de prevenção a incêndios, que inclua não
apenas a repressão às queimadas ilegais, mas também o investimento em
tecnologias de monitoramento, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e a
criação de um sistema de gestão integrada que envolva todos os órgãos
responsáveis. Isso significa fortalecer o IBAMA, o ICMBio, as secretarias
estaduais e municipais de meio ambiente, além de garantir o financiamento
contínuo e suficiente para a fiscalização e a execução de políticas ambientais
eficazes. Sem um plano de contingência coordenado que aborde as causas
estruturais das queimadas e a desigualdade no tratamento das forças mobilizadas
para o combate, o Brasil continuará a sofrer com as consequências de um sistema
fragmentado e ineficaz. As soluções paliativas, como o combate aéreo e a
repressão punitiva, não serão suficientes para quebrar o ciclo de destruição. É
hora de um compromisso real com o futuro da Amazônia e do país, através de
políticas públicas integradas, fiscalização eficaz. Cá estou eu, de novo,
chovendo no molhado. Ou seja, falando ao vento.
Rubens Nascimento é
jornalista, Bel. Direito, M.M. Maçom e ativista do Desenvolvimento.
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