Segunda-feira, 10 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Opinião

'Agrilhoamento medieval' - Por Elton Assis


 'Agrilhoamento medieval' - Por Elton Assis - Gente de Opinião

Elton Assis
 
Muita gente aplaudiu a exibição da imagem do ex-governador Sérgio Cabral, pés e mãos acorrentados, quando de sua transferência do Rio de Janeiro para Curitiba. Pois não deveria. Foi mais uma clara demonstração de contrariedade e insubmissão de determinadas autoridades a decisões do Supremo, mais especificamente direcionada ao ministro Gilmar Mendes, como a desafiá-lo a reverter a medida e, claro, ampliar ainda mais sua já precária situação no conceito da opinião pública.

O tratamento "medieval" do preso foi explicado pela Polícia Federal como sendo mero "protocolo de segurança", o que diga-se de passagem é inexistente,  mesmo porque a conduta contraria a lei, a Constituição e, especificamente, a Súmula Vinculante n. 11 que estabelece: "Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado".
 
Mais grave ainda é o precedente que se abre, pois o exemplo pode muito bem virar rotina nas ações policiais. E aquele, que hoje aplaude, pode vir a sair algemado em uma blitz ou num simples acidente no trânsito por, quem sabe, exigir seus direitos ou se contrapor ao que considerar uma atitude abusiva do policial. É o que acontece quando o desrespeito à lei vira norma de conduta. E o caso do ex-governador está longe de ser isolado, mas seu aguilhoamento indica a necessidade de punição severa - com efeitos didáticos - dos agentes públicos envolvidos, de forma a evitar exibicionismo exacerbado para a mídia, como um troféu em evidente exemplo de insubmissão à lei.
 
Vale lembrar o que disse José Roberto Batochio, criminalista e ex-presidente do Conselho Federal da OAB, ao comentar o episódio: “em nome da civilização, do humanismo e da dignidade da pessoa, é preciso dar um basta definitivo a esses atentados que se praticam contra os direitos individuais em nome do Estado”.

É premente repensar o sistema de custódia no país. Por oportuno, convém destacar o exemplo da Noruega, que ostenta, orgulhosa, o título de sistema carcerário mais humano do mundo e tem, como resposta, os maiores índices de recuperação de apenados: 80%, para 20% de reincidências. No Brasil os percentuais praticamente se invertem: para cada 10 presos, 7 voltam a delinqüir. É o efeito dramático da filosofia punitivista, vingativa e taliônica de nosso sistema penal, que transforma os presídios em verdadeiros campos de concentração.

Aceitar que um cidadão seja violado em suas garantias individuais é aceitar que sejam flexibilizados princípios máximos Constitucionais que, não representam outra situação senão, a ofensa ao Estado Democrático de Direito.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 10 de março de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A Revolução da comunicação em Rondônia: jovens empreendedores e a ascensão dos sites de notícias

A Revolução da comunicação em Rondônia: jovens empreendedores e a ascensão dos sites de notícias

Rondônia vive um momento crucial na sua história de comunicação, impulsionado pelo crescimento vertiginoso da tecnologia e, em especial, pela inteli

Agradecimento a ti mulher em todas as tuas expressões

Agradecimento a ti mulher em todas as tuas expressões

Mulher-Aurora-MarMulher, que fazes metade da humanidadee criaste a outra meia com teu ventre de luz,que em todos os dias do ano sejas celebrada,não só

Reflexão política em tempos de Quaresma

Reflexão política em tempos de Quaresma

Por uma Nova Política de Verdade: Poder sem Violação da Verdade Apresento aqui uma citação do filósofo Michel Foucault, do seu livro  “Microfísica

Coluna da Hora – pedágio na br-364, carnaval, blocos, detran e outros assuntos abordados pelo jornalista Géri Anderson

Coluna da Hora – pedágio na br-364, carnaval, blocos, detran e outros assuntos abordados pelo jornalista Géri Anderson

BR - 364 COM PEDÁGIO?Será que vale mesmo a pena privatizar e favorecer somente a empresa vencedora do leilão nesses primeiros 4 anos? Pra quê pagar

Gente de Opinião Segunda-feira, 10 de março de 2025 | Porto Velho (RO)